As «ameaças» das deslocalizações

D. Joaquim Gonçalves critica ainda leituras «estatizantes» da última encíclica de Bento XVI

O Bispo de Vila Real considera que há “ameaças” nas deslocalizações das empresas, frisando que esta decisão “desfaz o vínculo que tradicionalmente une os gestores e os trabalhadores à sua terra de origem e passam a ser trabalhadores com os pés no ar, emigrantes permanentes, longe da família, da sua terra e costumes”.

Num artigo de opinião publicado no semanário «A Voz de Trás-os-Montes», D. Joaquim Gonçalves retoma algumas das reflexões apresentadas por Bento XVI na sua última encíclica, Caritas in veritate, considerando que essas empresas “levam o dinheiro dos muitos investidores para fora dos lugares onde o dinheiro foi ganho, semelhante à água das nuvens que o vento arrasta e que vai regar terras afastadas do lugar onde se fez a evaporação; em terceiro lugar, retira o rosto pessoal à empresa que passa a ser uma máquina anónima e, consequentemente, é maior a tentação de fazer uma exploração industrial poluente por se tratar da «terra dos outros»”.

Este responsável defende a necessidade de “saber a quem pagam impostos essas empresas e como obrigá-las”.

“Outra é a ameaça de se tornarem depressa estruturas irresponsáveis com tentação de fraudes financeiras em relação àqueles que lhes confiaram o seu capital; a terceira é gerir essas empresas de modo especulativo, isto é, os gestores procurarem lucros imediatos do capital reunido, fazerem o chamado jogo especulativo, vendendo o dinheiro caro a outros e evitando eles o investimento do dinheiro”, acrescenta.

[[i,e,346,D. Joaquim Gonçalves – Bispo Diocesano de Vila Real]]O Bispo de Vila Real distingue dois tipos de empresas deslocalizadas: “aquelas que vão mesmo trabalhar levando o capital e o pessoal; e as que só «deslocam» o capital acumulado de muita gente de modo a poderem auferir lucros pela venda desse dinheiro a investidores”.

“As primeiras, que podemos chamar empresas deslocalizadas de trabalho, têm os inconvenientes já referidos e bom seria que, tanto quanto possível, se aproximassem das terras de origem dos seus trabalhadores; as segundas, as «empresas de capitais» que não deslocam pessoas mas somente o dinheiro de muita gente, devem evitar jogos especulativos, imorais”, aponta.

D. Joaquim Gonçalves observa que “os especuladores do capital limitam-se a vender o dinheiro a juros altos e a pronto pagamento aos que vão investir, e esses desgraçados, depois de terem pago caríssimo o dinheiro, é que vão investi-lo e nunca mais auferem produtos que permitam compensar o dinheiro e juros já pagos, o seu trabalho pessoal e o daqueles que trabalham com ele”.

O Bispo de Vila Real sublinha ainda que o Papa na encíclica não condena em absoluto “nem a globalização nem a deslocalização, como queriam alguns ideólogos extremistas estatizantes, mas convida as autoridades nacionais e internacionais a uma maior vigilância”.

Bento XVI escreve na Caritas in veritate que “não é lícito deslocalizar somente para gozar de especiais condições de favor ou, pior ainda, para exploração, sem prestar uma verdadeira contribuição à sociedade local”.

 

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