Arcebispo Fortunatus Nwachukwu admite necessidade de intervenção externa e critica governo «imóvel» face ao extremismo e aos sequestros

Cidade do Vaticano, 30 dez 2025 (Ecclesia) – O secretário do Dicastério para a Evangelização, D. Fortunatus Nwachukwu, admitiu hoje a necessidade de ajuda externa na Nigéria para enfrentar os extremistas, no dia em que a Fides divulgou o relatório anual de missionários assassinados.
“Um país pode encontrar-se numa situação em que não consegue enfrentar as suas crises e divisões sem ajuda externa. Vejo muitos amigos muçulmanos que não sabem como reagir diante do que está a acontecer. E a imobilidade do governo é evidente”, disse o responsável, em entrevista à agência do Vaticano para o mundo missionário.
O relatório anual da Fides aponta a Nigéria como o país com o maior número de agentes pastorais assassinados (cinco) em 2025, a par de uma vaga de sequestros para extorsão.
Questionado sobre operações militares dos EUA contra grupos ligados ao Estado Islâmico, D. Fortunatus Nwachukwu, arcebispo nigeriano, considera que uma “intervenção externa, indireta, para apoiar o Estado” pode não ser “totalmente injustificada” para remover as causas da violência generalizada.
Para o responsável da Cúria Romana, a violência no país funciona muitas vezes como uma “cortina de fumo” que esconde outros interesses, admitindo que alguns sinais recentes “levam a crer que existem grupos determinados a atacar sistematicamente as comunidades cristãs”.
O arcebispo entende que “a controvérsia sobre a Nigéria como terra de perseguição aos cristãos está destinada a prolongar-se”, desafiando o governo local a “assumir a questão da segurança para refutar aqueles que falam de perseguição ou mesmo de genocídio dos cristãos”.
“Tudo isso é motivo de grande tristeza e também um pouco de vergonha. A Nigéria é um dos países com a população mais religiosa do mundo, um povo de crentes, cristãos e muçulmanos”, lamentou.
Por que devemos deixar-nos absorver por essas controvérsias abstratas sobre as disputas em torno da Nigéria, gastar tempo discutindo se há ou não perseguição no país, em vez de investir a mesma energia em medidas para eliminar a violência contra inocentes que está na raiz dessas controvérsias?
De acordo com informações recolhidas pela Agência Fides, em 2025 foram mortos em todo o mundo 17 missionários e missionárias católicos: padres, religiosas, seminaristas e leigos.
A repartição continental mostra que, no último ano, o maior número de agentes pastorais mortos foi registado em África, onde foram assassinados 10 missionários (seis padres, dois seminaristas, dois catequistas).
No continente americano foram mortos quatro missionários (2 padres, 2 religiosas), na Ásia outros dois (um padre e um leigo) e, na Europa, foi assassinado um padre (Polónia).
| Entre os agentes pastorais assassinados em 2025 está o jovem seminarista nigeriano Emmanuel Alabi, morto durante a marcha forçada imposta pelos seus sequestradores, que atacaram o Seminário Menor de Ivianokpodi, bem como as irmãs Evanette Onezaire e Jeanne Voltaire, assassinadas por membros de um dos bandos armados que controlam o Haiti.
Está também Donald Martin, o primeiro padre católico birmanês morto no conflito civil que ensanguenta Mianmar, “cujo corpo sem vida, horrivelmente mutilado, foi encontrado por alguns paroquianos no complexo da paróquia”. |
De 2000 a 2025, 626 missionários e missionárias católicos foram assassinados em todo o mundo, segundo os dados da Fides.
O relatório recupera a homilia do Papa Leão XIV na Comemoração dos Mártires do século XXI, realizada em setembro de 2025, onde o pontífice definiu a esperança cristã como “desarmada”, rejeitando o uso da força.
Os dados globais revelam que a maioria das vítimas estava a desenvolver projetos de desenvolvimento, educação e saúde em zonas de conflito, muitas vezes colmatando a ausência do Estado.
OC
