2025/Portugal: Ano marcado pelo «apagão», mudanças políticas e eclesiais

Especialistas passam em revista acontecimentos que influenciaram a vida a Igreja Católica e da sociedade

Foto: Lusa

Lisboa, 31 dez 2025 (Ecclesia) – Cinco convidados de vários setores e áreas do conhecimento olharam para 2025, e comentaram um ano de ruturas, do apagão tecnológico às mudanças políticas e eclesiais, de reconstrução e de esperança, no Programa ECCLESIA deste 31 de dezembro.

Foto: Agência ECCLESIA/LFS

“A primeira frase que me ocorre é nem só de net vive o homem, mas de tantas outras coisas. Por outro lado, é como a noite numa cidade, se por aventura se apagam todas as luzes, passamos a ver as estrelas estão no céu, e eu acho que foi isso que o apagão veio fazer”, disse o professor Miguel Panão, esta quarta-feira, à Agência ECCLESIA.

O ‘apagão’ em Portugal aconteceu no dia 28 de abril, durante algumas horas, e é palavra do ano, o investigador em Engenharia acrescenta que este acontecimento veio apagar “uma série de conexões a algo que não é carnal, que é virtual”, e obrigou as pessoas “a encontrar aquilo que é presencial, aquilo que são contactos uns com os outros”.

“Quando desaparecem a forma como nós vivemos, porque há muitas pessoas que vivem atualmente num ambiente virtual mais até do que no ambiente físico, depois sentem a falta, e quando sentem a falta acabam por perceber que há um Deus, que é o Deus tecnológico, que falha. E aquilo que me pareceu foi que criou-se ali uma oportunidade de descobrir aquele Deus real que não falha, mas não sei se isso aconteceu ou não.”

Um verão atípico trouxe luto e perda de biodiversidade, a bióloga Margarida Zoccoli considera que se continua “a reagir em vez de prevenir”, olhando para a área ardida e para a resposta no terreno, e salienta que prevenir passa “por ouvir a ciência, consultar e divulgar os relatórios do painel intergovernamental para as alterações climáticas”.

“E o que é necessário fazer é, de alguma forma, organizar o território, fazer um ordenamento adequado. Isso passa por aumentar as zonas de mosaico ambiental, ou seja, intercalar zonas rurais e zonas florestais, sendo que as zonas florestais devem ter mais diversidade, plantas autóctones e reduzir muito a plantação de eucalipto e de pinheiro”, explicou.

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Margarida Zoccoli, doutoranda em alterações climáticas, lembra que os cientistas chamam ao período mais recente na história do planeta Terra de ‘antropoceno’, isto é, “a intervenção do homem já provocou alterações biogeoquímicas”, e esse clima “está em risco exatamente por causa de toda a atividade humana”: “O planeta é um sistema muito complexo, que está a entrar em desequilíbrio, e que pode pôr em causa a vida na totalidade”.

As eleições também marcaram o ano em Portugal, com legislativas, após a queda do Governo, e autárquicas, e Guilherme d’Oliveira Martins “gostaria que houvesse um sinal de maturidade”, e alerta que não veem “horizontes de paz”, o que se “repercute em Portugal”.

“Não estamos sós, os cidadãos portugueses e a sociedade portuguesa é influenciada também por tudo aquilo que se passa internacionalmente. Este contexto de guerra significa a incerteza máxima, porque se nós, Portugal, estamos um pouco afastados do centro, a verdade é que há repercussões evidentes”, acrescentou o professor universitário, que afirmou também que “a prevenção da corrupção é fundamental”, a justiça tem que funcionar, e a “crise da comunicação social tem consequências”.

“A necessidade, por exemplo, de ouvirmos cada vez mais, com muita atenção, não só a herança do Papa Francisco, mas, simultaneamente, aquilo que o Papa Leão XIV tem para nos dizer. Agora, designadamente, quando ele fez a sua viagem pastoral, e é algo extraordinariamente importante, os cidadãos têm que ouvir aquilo que está para além das aparências.”

Um tema que marcou 2025 na Igreja Católica em Portugal foi a promoção de uma nova cultura quanto à proteção de menores que, segundo a coordenadora do Grupo VITA – organismo para o acompanhamento de casos de abusos sexuais na Igreja Católica – o processo de atribuição das compensações financeiras “tem sido um grande desafio”.

“A maior parte das vítimas e sobreviventes sente como positivo este processo, mas também não podemos ignorar que algumas pessoas se sentiram menos confortáveis e, por isso mesmo, o Grupo VITA está aqui a ponderar pedir agora, no início de 2026, uma nova revisão do regulamento, tentar ajustar, e rever ali alguns pontos, porque, em rigor, os pedidos continuam a chegar”, explicou Rute Agulhas.

Foto Agência ECCLESIA/CB

O Grupo VITA, criado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), está a aproximar-se da meta dos três anos de existência, a sua coordenadora considera “muito precoce, até imprudente, pensar-se na extinção”, e indica que na conferência de imprensa de apresentação do quarto relatório de atividades, em janeiro, vão fazer recomendações, e uma “proposta de continuidade, naturalmente com alguns ajustes, tendo em conta a missão que foi definida inicialmente e os objetivos”.

A coordenadora deste organismo da CEP Grupo VITA, a psicóloga Rute Agulhas, salientou também que tentaram “uma mudança de paradigma, uma mudança de cultura”, que a Igreja Católica “não adote apenas respostas reativas, mas, sobretudo, proactivas”, e explica que têm “muitos pedidos da sociedade civil” de colaboração – câmaras municipais, Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, juntas de freguesia, a própria Direção-Geral de Educação -, “alguns movimentos reconhecendo este trabalho positivo que a Igreja tem feito”.

Foto: Agência ECCLESIA

O secretário e porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) destacou que a dinâmica sobre sinodalidade, que “marcou ao longo de 2025”, mesmo com o Ano Santo dedicado à esperança a absorver “muito tempo para as atividades”, e destaca o encontro nacional sinodal em janeiro deste ano, e as Jornadas Pastorais do Episcopado que foram “um avanço” com a presença de “outros representantes das dioceses”

“Sobretudo na linha de perceber quais são os dinamismos que este método nos traz para sermos uma igreja sinodal, uma Igreja missionária, uma Igreja mais renovada à luz do Espírito, também com aspetos concretos”, realçou o padre Manuel Barbosa, no Programa ECCLESIA, transmitido hoje, dia 31 de dezembro, na RTP2.

O secretário da CEP lembra que no próximo dia 10 de janeiro, se vai realizar um novo encontro nacional sinodal, “também para representantes das dioceses”, e querem acentuar a passagem “da escuta à missão”, que seja a acentuação das implicações pastorais, das implicações de missão, que devem “beber do Sínodo para concretizar ao longo do ano 26”.

LJ/HM/LJ/OC/CB

2025: Mudança de Papa, eleições, Ano Santo e guerra marcaram história do ano

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