Igreja/Portugal: Comissão Justiça e Paz denuncia «incremento sem precedentes» de despesas militares e rejeita lógica da dissuasão pela força

Organismo católico alerta que a UE parece preparar-se para a «inevitabilidade da guerra» e propõe novo lema: «Se queres a paz, prepara a paz»

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 29 dez 2025 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) alertou hoje para o aumento “sem precedentes” das despesas militares em Portugal e na União Europeia, defendendo a necessidade de contrariar a lógica da dissuasão pela força.

“Um incremento sem precedentes está previsto para o nosso país e para os outros membros da União Europeia. Esta união de Estados nascida como alternativa a um passado de guerras contínuas parece preparar-se para a inevitabilidade da guerra”, refere o organismo católico, em nota enviada à Agência ECCLESIA.

O documento, intitulado ‘Se queres a paz, prepara a paz’, apresenta a mensagem do Papa Leão XIV para o 59.º Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 2026), considerando que os seus alertas são de “particular relevância no momento atual”, em Portugal e no mundo.

A CNJP rejeita que a paz autêntica assente na desconfiança ou no “equilíbrio do terror”, alertando que a corrida aos armamentos desvia recursos.

“Esse equilíbrio é sempre precário e instável; envolve sempre o perigo de passar da ameaça ao uso efetivo”, adverte a nota.

Por outro lado, a corrida aos armamentos gera uma escalada que pode não ter fim, porque à ameaça se responde com outra ameaça maior. E desse modo se desviam para fins militares avultados recursos que mais necessários seriam para a promoção do progresso social.”

O organismo da Igreja Católica em Portugal cita a mensagem pontifícia para sublinhar que a força dissuasiva e nuclear encarna a “irracionalidade” de relações baseadas no medo, propondo como alternativa a implementação do direito internacional e a cooperação entre Estados.

“Há alternativas que servem para construir essa paz autêntica, que certamente também não assenta na rendição perante a injustiça”, indica o texto.

A comissão denuncia ainda a existência de políticas educativas e mediáticas que reforçam a ideia da “inevitabilidade das guerras”.

“Em vez de uma cultura da memória, que preserve a consciência adquirida no século XX e não esqueça os milhões de vítimas”, lamentam os responsáveis, promovem-se campanhas que “difundem a perceção de que se vive continuamente sob ameaça e transmitem uma noção de defesa e segurança meramente armada”.

Em sintonia com Leão XIV, a CNJP condena a polarização social e a instrumentalização da religião para fins políticos ou violentos, pedindo aos fiéis que refutem estas “formas de blasfémia”.

“O desarmamento que propõe esta mensagem é, antes de tudo, o ‘do coração, da mente e da vida’”, sustenta a nota.

O organismo conclui o documento apelando a uma mudança de paradigma, substituindo a lógica do confronto pela construção ativa da concórdia: “O velho adágio ‘se queres a paz, prepara a guerra’, deve, pois, ser substituído por este outro: ‘se queres a paz, prepara a paz’”.

Na sua mensagem, o Papa apela aos governantes de todo o mundo para que retomem o “caminho desarmante da diplomacia”, pedindo o fortalecimento das instituições supranacionais em vez da sua deslegitimação.

Leão XIV alerta ainda para a “irracionalidade” de uma segurança global baseada no medo e na força, denunciando o aumento contínuo das despesas militares e os novos perigos associados à tecnologia nos conflitos armados.

A primeira mensagem do atual pontífice para o Dia Mundial da Paz, denuncia a instrumentalização da religião para fins violentos, rejeitando discursos de exclusão e guerra.

O Dia Mundial da Paz foi instituído, em 1968, pelo Papa São Paulo VI (1897-1978), e é celebrado no primeiro dia do novo ano.

OC

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