D. Fernando Paiva recordou exemplo da Sagrada Família, que esteve em «terra estrangeira, longe da segurança, do trabalho, da língua e da cultura»

Beja, 29 dez 2025 (Ecclesia) – O bispo de Beja evocou este domingo, na Missa de encerramento do Jubileu 2025, na Sé da cidade, Jesus, Maria e José como um exemplo de uma família de “migrantes” e “refugiados”, incentivando ao acolhimento de quem chega a Portugal.
“Jesus começa a sua vida como refugiado, dependente da hospitalidade alheia. Isto revela-nos que Deus conhece por dentro a condição de quem foge para sobreviver, de quem vive na precariedade, de quem é forçado a partir para proteger a vida”, afirmou D. Fernando Paiva, na homilia disponibilizada no site da diocese.
Evocando a história da Sagrada Família, que esteve no “Egito, em terra estrangeira, longe da segurança, do trabalho, da língua e da cultura”, o bispo incitou os presentes a não serem indiferentes à situação de quem vem de fora.
“Esta realidade não pode deixar de ser uma forte interpelação para nós e para a forma como olhamos os migrantes — uma situação muito presente e dramática no nosso mundo e também na nossa terra, na nossa Diocese”, indicou.
Segundo D. Fernando Paiva, “é neste contexto que se destaca a figura silenciosa e decisiva de São José”, referindo que, apesar de a Escritura não transmitir uma única palavra desta figura, o seu silêncio “não é ausência”, mas “obediência”, “escuta”, “fé em ação”.
“José é o homem que permite que a vontade de Deus se cumpra sem ruído, mas com prontidão e fidelidade”, mencionou.
O bispo de Beja enfatizou que “Deus confia a José a proteção das mais importantes Pessoas da História da Salvação: o Seu próprio Filho e a Virgem Maria”, lembrando que é Patrono da Igreja Universal e padroeira da Diocese de Beja.
“Em São José vemos revelada a verdadeira paternidade: ser pai é guardar, proteger e promover a vida que nos é confiada. Por isso, José é modelo para os pais de família e para todos os que exercem uma paternidade espiritual, de modo particular os sacerdotes”, afirmou.
D. Fernando Paiva evidenciou que o domingo da Sagrada Família, que ontem se celebrou, coincidiu com a memória dos Santos Inocentes.
“Recorremos a São José, pedindo a sua proteção em favor dos muitos inocentes que hoje continuam ameaçados pela crueldade, pelo egoísmo e pela cegueira espiritual de quem não reconhece, não valoriza e não defende o dom da vida, em particular da vida nascente”, apelou.
O bispo da Beja acentuou que no “contexto da família e do cuidado pela vida — toda a vida — merece atenção” e, por isso, é “importante também valorizar o respeito e o cuidado pelos que vivem na fragilidade da velhice”.
Entre nós, no nosso contexto atual, esta deve ser uma prioridade, antes de mais ao nível da família, com o necessário apoio do Estado, das instituições e das nossas comunidades cristãs, que, além do muito que já fazem, poderão descobrir novas formas de cuidar, de bem cuidar e de acompanhar aqueles que vivem esta etapa da vida”, defendeu.
D. Fernando Paiva assinalou a festa litúrgica da Sagrada família, que convida a contemplar “um mistério profundamente revelador do modo como Deus age: o Filho eterno do Pai quis crescer no seio de uma família humana”.
“Não veio ao mundo já adulto, nem isolado, nem protegido por privilégios especiais. Pelo contrário, foi da vontade de Deus que Jesus dependesse do cuidado de uma Mãe e de um Pai, partilhando plenamente aquilo que é próprio da vulnerabilidade da condição humana”, referiu.



O bispo de Beja destacou que “Jesus quis ser acolhido pelo amor materno de Maria e, ao mesmo tempo, pelo amor, pela proteção e pela autoridade paterna de José” e que “em ambos encontrou o cuidado, a segurança e o apoio necessários para o seu desenvolvimento humano”.
“Não menos importante foi o clima relacional em que Jesus cresceu: um ambiente de harmonia, de respeito mútuo e de amor fiel, vivido na relação entre Maria e José”, salientou D. Fernando Paiva, que considera que “uma criança não é formada apenas pelos cuidados que recebe, mas também pelo amor que vê vivido na relação dos seus pais”.
“Os filhos percebem esta realidade com uma profundidade muito maior do que por vezes se imagina. Por isso, quando um homem e uma mulher investem tempo, disponibilidade e cuidado na sua relação enquanto casal, não estão apenas a beneficiar-se mutuamente: estão também a favorecer, de modo decisivo, o crescimento humano e afetivo dos seus filhos”, disse.
No início da homilia, o bispo de Beja deixou umas palavras sobre o encerramento do Ano Santo 2025, “um tempo de graça e de renovação”, que agradeceu ao Senhor.
Expressamos a nossa gratidão precisamente na celebração da Eucaristia — ação de graças por excelência. Agradecemos este Ano Santo que Deus nos concedeu viver, por todos os seus benefícios, e pedimos pelos seus bons frutos”, expressou.
Convocado pelo Papa Francisco através da bula ‘Spes non confundit’ (A esperança não engana), o Ano Santo encerrou este domingo nas dioceses de todo o mundo.
O 27.º Jubileu ordinário da história da Igreja Católica, iniciado na Noite de Natal de 2024, terá a sua conclusão a 6 de janeiro de 2026, no Vaticano, sob a presidência de Leão XIV, com o fecho da Porta Santa na Basílica de São Pedro.
LJ/OC
