Cardeal Pietro Parolin visitou província moçambicana e assinala que população, «os cristãos e até mesmo os muçulmanos moderados», vive com «medo e dor»

Cidade do Vaticano, 23 dez 2025 (Ecclesia) – O secretário de Estado do Vaticano afirmou que não se esquece das “vítimas do conflito de Cabo Delgado”, no norte de Moçambique, após a visita o país lusófono africano onde esteve com deslocados que fogem das milícias islamistas.
“Hoje, em Cabo Delgado, os terroristas exploram a pobreza, o desemprego, o ressentimento generalizado contra a exploração dos vastos recursos locais que não traz benefícios visíveis para a população local, as tensões étnicas e políticas, entre outros fatores, para atrair jovens”, disse o cardeal Pietro Parolin, em entrevista divulgada hoje, pelo portal de notícias do Vaticano.
O secretário de Estado do Vaticano acrescenta que a população muçulmana local, que é a maioria na província de Cabo Delgado, “opõe-se à instrumentalização da religião, mas há uma crescente simpatia pelo movimento jihadista dentro dela”, e as mesquitas estão a passar “gradualmente por um processo de radicalização”.
“A população, sobretudo os cristãos e até mesmo os muçulmanos moderados, vive com medo e dor. Alguns dos nossos fiéis católicos enfrentaram a morte sem renunciar à sua fé em Jesus crucificado e ressuscitado”, assinalou.
A violência religiosa causou mais de 5 mil mortos e mais de um milhão de deslocados nos últimos cinco anos na zona de Cabo Delgado, de acordo com o Relatório da Liberdade Religiosa no Mundo 2025 da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), divulgado a 22 de outubro.
“A primeira coisa a ser feita é não esquecer nossos irmãos e irmãs de Cabo Delgado; tenho a impressão de que o conflito em Cabo Delgado também corre o risco de cair na categoria de ‘conflitos esquecidos’”, desenvolveu.
D. Pietro Parolin visitou Moçambique, entre 5 e 10 de dezembro, e dedicou dois dias a Cabo Delgado para “expressar a proximidade e a solidariedade da Igreja universal e do Santo Padre” com a população que “sofre com a violência terrorista jihadista”.
“Como cristãos, temos à nossa disposição as ‘armas’ da oração e da caridade fraterna. Orar e apoiar os esforços de ajuda às pessoas deslocadas de Cabo Delgado não só as ajudará a sentirem-se menos sozinhas, como também será uma forma de vivenciarmos verdadeiramente o Natal. Que o Príncipe da Paz, nascido em Belém, traga paz àquela querida terra de Moçambique!”, acrescentou o cardeal italiano.
O secretário de Estado do Vaticano visitou o campo de Naminawe que abriga em “condições verdadeiramente precárias” aproximadamente 9200 pessoas, incluindo cerca de 3700 crianças, que “sofrem com a falta de alimentos, medicamentos e até mesmo água potável”.
A província de Cabo Delgado enfrenta desde 2017 uma rebelião armada, que provocou milhares de mortos e uma crise humana, com mais de um milhão de pessoas deslocadas.
A viagem de D. Pietro Parolin a Moçambique, onde reviveu “a alegria e a emoção da visita apostólica com o Papa Francisco, em setembro de 2019”, respondeu a três objetivos: a celebração do 30.º aniversário das relações diplomáticas entre a Santa Sé e Moçambique, onde recordou “que Moçambique precisa de paz.”; o encerramento da Jornada Nacional da Juventude; e a visita a Cabo Delgado.
O secretário de Estado do Vaticano afirma que “a Igreja local não abandonou o povo que sofre”, e contou que “os testemunhos dos agentes pastorais da Diocese de Pemba (Cabo Delgado)” comoveram-no, alguns padres, “forçados a deixar suas paróquias, continuam acompanhando seu rebanho como ‘pastores deslocados’”, e as comunidades religiosas em vez de fugir, “abriram suas portas para aqueles em situação pior que a sua”.
Esta visita coincidiu também com a 131.ª Assembleia Plenária Ordinária da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM), a reunião dos bispos católicos realizada de 2 a 10 de dezembro, em Matola.
CB/PR




