Arcebispo de Évora reconhece em Leão XIV um «homem preocupado com as questões sociais» mas espera «documento mais programático»

Évora, 26 dez 2025 (Ecclesia) – O arcebispo de Évora disse que a celebração do Jubileu afirmou a certeza de os cristãos “não estarem sós”, que a “pluralidade mostrou tolerância” e que “um mundo de paz é possível”.
“Em Roma encontrou-se uma pluralidade imensa, onde a tolerância e o respeito se sentiu. Em Roma estariam quase todas as nações e povos do mundo. O encanto pela mensagem de Cristo uniu-nos a todos, no mesmo foco, e isso significa que é possível construir um mundo na paz, que é possível construir um mundo no respeito, sem violência, quando há um foco de luz, quando há, de facto, alguém que mostra o sentido da vida, e daí a esperança. Eu acredito que quem souber mostrar o sentido da vida, e por isso a esperança, terá a geração do futuro, ganhará a humanidade”, explicou à Agência ECCLESIA D. Francisco Senra Coelho.
O responsável afirma que em todas as experiências jubilares que participou não encontrou “ninguém frustrado, dececionado ou desencantado” e que a celebração do Jubileu quis dizer que ninguém “está só na viagem da vida”.
“Esta companhia da humanidade dá a dimensão da esperança. Porque a esperança é exatamente de que alguém nos dá a sua mão. O júbilo e a alegria têm que ter um fundamento real para não ser algo artificial, eufórico, de momento, e isso pressupõe a esperança. Apresentemos ao mundo a beleza e é a beleza que leva à esperança. A grande beleza é, sem dúvida, o amor”, acrescentou.
D. Francisco Senra Coelho identifica “deceção” na humanidade, “uns pelos outros”, “pela guerra, pela violência, pelo cinismo, por calculismos, por chantagens”.
“Começámos por não acreditar no homem. Esta questão leva-nos depois ao não acreditar em Deus e quase em nada, à desistência, a uma espécie de depressão coletiva, o deitar a toalha ao chão. E nós sentimos muitas vezes os ambientes desalentados e desanimados”, lamenta.
A celebração do Jubileu do Ano santo foi convocada pelo Papa Francisco, sob o lema da «Esperança»; em abril o Papa Francisco faleceu e o conclave elegeu a 8 de maio o cardeal Robert Prevost como Papa Leão XIV.
“Leão XIV vem com uma serenidade, vem com uma paz, e percebemos nitidamente nele que a sua preocupação é centrar a Igreja no Cristo que o Papa Francisco proclamou com a palavra e com a vida. Nós não sentimos nenhum solavanco a partir de Francisco. Temos uma Igreja unida”, sublinha o responsável pela arquidiocese.
Para D. Francisco Senra Coelho, o Papa Leão XIV “pôs no centro da Igreja a comunhão e a unidade, através da sinodalidade”.
O arcebispo de Évora admite ser necessário “esperar” por um documento “mais programático” mas reconhece no seu nome um “homem preocupado com as questões sociais”.
“Estamos a viver uma nova revolução tecnológica, que é exatamente a inteligência artificial. Há de facto uma situação grave não só social, mas existencial, que é a falta do sentido para a vida. Começamos a sentir cada vez mais isso perto de nós também em Portugal, o custo de vida, o aumento do custo de vida desproporcionado ao aumento dos vencimentos”, traduz.
Nesta análise, o arcebispo de Évora acredita que o Papa, “como presença moral e no seu magistério de humanização terá uma dimensão decisiva na opinião pública”.
“Os construtores da opinião pública hoje têm um valor imenso na condução dos acontecimentos. Porque mesmo percebendo nós que vivemos um momento de confrontação entre a democracia e as autocracias, os autocratas, em última análise, estão atentos à opinião pública”, finaliza.
A entrevista ao arcebispo de Évora vai estar em destaque no programa Ecclesia emitido na Antena 1, este sábado, às 06h00.
PR/LS
