«As pessoas em situação de sem-abrigo ou em situação de grande vulnerabilidade social são os nossos convidados» – Diácono Horácio Félix
Lisboa, 17 dez 2025 (Ecclesia) – A Comunidade Vida e Paz, do Patriarcado de Lisboa, realiza a Festa de Natal para “pessoas em situação de sem-abrigo, ou vulnerabilidade social”, de onde “saem pessoas de pleno direito”, entre sexta-feira e domingo, na Cantina da Cidade Universitária.
“As pessoas em situação de sem abrigo ou em situação de grande vulnerabilidade social são os nossos convidados, a festa é para eles. É uma festa em que conseguimos de facto devolver a dignidade a muitas dessas pessoas que recorrem a nós”, disse o presidente da Comunidade Vida e Paz, esta quarta-feira, dia 17, em entrevista à Agência ECCLESIA.
A Comunidade Vida e Paz (CVP), instituição sem fins lucrativos do Patriarcado de Lisboa, que “todos os dias do ano apoia cerca de 900 pessoas”, vai realizar a 37.ª edição da Festa de Natal com as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo.
“A festa tem uma característica muito, muito, muito bonita, que é acolher pessoas, e vou colocar entre aspas, que não são pessoas de pleno direito, e que saem de lá pessoas de pleno direito”, destacou o diácono permanente Horácio Félix.
O presidente da CVP explicou que os convidados da ‘Festa de Natal’ entram “com odor próprio de quem está na rua, com os cuidados próprios de quem está na rua”, e toma banho, vai ao cabeleireiro, recebe uma roupa nova, e, “em termos visuais, é uma pessoa nova”, mas, depois, têm a “extremamente importante” ‘Área de Cidadania’, onde está o Instituto Nacional de Registro e Notariado, o técnico de Gestão Social, o IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional.
“É uma loja do cidadão maxi. E a pessoa ali permite tratar-lhe todos os documentos, no dia-a-dia ela não consegue porque não se sente bem nas repartições públicas, porque demora e em termos de saúde mental não tem paciência. Há uma série de situações que impedem a estas pessoas de acederem até a uma documentação quase básica, e elas saem dali ‘pessoas de pleno direito’, desenvolveu o entrevistado.
A 37ª edição da ‘Festa de Natal’ com as Pessoas em Situação de Sem-Abrigo decorre entre esta sexta-feira e domingo, na Cantina da Cidade Universitária de Lisboa: dias 19 e 20 de dezembro, das 10h00 às 22h00, e no último dia, 21 de dezembro, entre as 10h00 e as 21h00.
“Para colocar um evento destes em funcionamento nós temos mais de mil voluntários. Os departamentos são muitos, uns mais visíveis do que outros, por exemplo, um trabalho que parece mais simples ou menorizado que é o trabalho da limpeza, é um dos mais importantes para termos sempre a casa limpa. O trabalho da cozinha é um trabalho espetacular”, acrescentou o diácono permanente.
“O trabalho dos abraços grátis, por exemplo: Tão bom receber um abraço de quem habitualmente nos recebe. Temos a área da espiritualidade”, assinalou ainda o entrevistado do Programa ECCLESIA, desta quarta-feira, na RTP2.
A CVP destacou também “o apoio” da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa, que vai “disponibilizar serviços de rastreios dentários, e consultas aos convidados”, uma das “novidades serão as sessões de cinema, organizadas pela NOS Cinemas, especialmente preparadas para este evento”.
A organização católica sem fins lucrativos lançou uma campanha solidária, intitulada ‘Para muitos isto é uma ceia de Natal’, com objetivo de “sensibilizar para a problemática da falta de acesso à alimentação e condições dignas” que as pessoas em situação de sem-abrigo têm, e pretende mobilizar o público para apoiar monetariamente esta missão.
Em 2024, na 36.ª Festa de Natal, a organização de solidariedade com personalidade jurídica e civil, tutelada pelo Patriarcado de Lisboa, teve a adesão de 1794 convidados, serviu 4281 refeições e distribuiu 12.072 peças de roupa, realizou 1008 atos médicos e 478 atendimentos em cidadania.
HM/CB/OC
 O diácono permanente Horácio Félix explica que na cidade de Lisboa registaram “alguma estabilidade e alguma diminuição” de pessoas em situação de sem abrigo”, “nomeadamente a nível de uma situação complexa que tinha a ver com os migrantes, que reduziram significativamente”. “Infelizmente há cada vez mais pessoas em situação muito difícil a nível da sua situação de vida. Existem situações díspares, pessoas que fiquem na rua por situações económicas, perca de emprego, divórcios, etc, se forem ajudadas rapidamente, facilmente saem da rua e essa situação não perdura. Se continuarem na situação de sem-abrigo existem patologias que se vão afirmando, nomeadamente a nível dos consumos, que depois tornam tudo mais difícil”, acrescentou. Segundo o presidente da Comunidade Vida e Paz, a “grande caracterização” da pessoa em situação de sem-abrigo é alguém “com dependências, com adições de álcool e droga”, e alerta que o álcool “é uma droga muito, muito, muito má, com consequências nefastas muito grandes”, nas toxicodependências existem substâncias produzidas em laboratório “que estão a contaminar muitas pessoas, muitos jovens que ficam com uma dependência muito rápida”. A Comunidade Vida e Paz, fundada em 1989, tem outras respostas como o Centro de Intervenção de Primeira Linha, Comunidades Terapêuticas e de Inserção, a Unidade de Apoio à Reinserção. |
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