Bento XVI condena violência no Paquistão

Oito cristãos queimados vivas e dezenas de casas destruídas. Tropas especiais tentam controlar situação

Bento XVI enviou esta Segunda-feira um telegrama ao Bispo de Faisalabad, no Paquistão, condenando os “ataques sem sentido” contra os cristãos no país.

No texto, divulgado pela sala de imprensa da Santa Sé, o Papa mostra-se “profundamente amargurado” com a recente onda de violência que provocou a morte de oito pessoas, queimadas vivas por extremistas islâmicos, pela suposta profanação de um exemplar do Alcorão. Entre as vítimas estavam quatro mulheres e uma criança de 7 anos.

Em “nome de Deus”, Bento XVI pede que “todos renunciem à via da violência, que causa tanto sofrimento”.

O telegrama, enviado através do Secretário de Estado do Vaticano, lamenta a “morte trágica de homens, mulheres e crianças inocentes”, lembrando ainda a “imensa destruição” provocada.

O Papa envia as suas condolências às famílias das vítimas e mostra-se solidário com todos os que foram alvo deste “acto incompreensível”.

Bento XVI encoraja os cristãos a não desanimarem nos seus esforços de construção de uma “sociedade que, com um profundo sentimento de confiança nos valores humanos e religiosas, seja marcada pelo respeito mútuo entre os seus membros”.

Tropas especiais paquistanesas assumiram o controlo da cidade de Gojra (Punjab), no Paquistão. Os incidentes deixaram ainda 20 feridos e dezenas de casas destruídas. Milhares de cristãos fugiram para escapar a estas execuções.

A aldeia cristã foi tomada de assalto por cerca de 3 mil muçulmanos, este fim-de-semana, deitando fogo ao local. Em causa estava uma alegação de blasfémia contra um cristão, acusado de queimar páginas do Alcorão durante um casamento no dia 29 de Julho.

A maioria dos moradores da colónia conseguiu escapar e colocar-se a salvo, mas algumas pessoas ficaram presas nas suas casas devido às chamas e morreram queimadas.

“Alguns muçulmanos locais acusaram Talib Masih, Mukhtar Masih e Imran Masih de queimar o Alcorão. Os acusados negaram veementemente o facto, mas uma multidão de muçulmanos em fúria queimou várias casas de cristãos”, denunciou em comunicado a Comissão de Direitos Humanos do Paquistão.

Ao dar conta dos acontecimentos, a Rádio Vaticano lembrou que a intenção missionária de Bento XVI para o mês de Agosto é que os cristãos vejam reconhecidos “os seus direitos humanos: a igualdade e a liberdade religiosa, de modo a que possam viver e professar livremente a sua fé”. O Papa lembra que em muitos países os fiéis (estima-se que 200 milhões de cristãos) são “discriminados e perseguidos por causa do nome de Cristo”.

Nos últimos anos assistiu-se a um aumento drástico no número de ataques contra minorias religiosas por todo o Paquistão. Frequentemente estes ataques tomaram a forma de fatwas (éditos ou decisões por parte de tribunais islâmicos com consequências de vida e de morte para os abrangidos, inclusive não muçulmanos), mas também incluíram assaltos à mão armada contra locais de culto e o sequestro de membros de minorias religiosas.

[[v,d,339,Cristãos protestam contra violência no Paquistão]]Os cristãos são menos de 2% da população do Paquistão, um país maioritariamente muçulmano onde a profanação do Alcorão pode terminar com a pena de morte.

Segundo a emissora o vaticana, o ministro paquistanês para as Minorias, Shahbaz Bhatti, qualificou as acusações de profanação do Coração como “um pretexto” para a violência e denunciou que a Polícia não protege suficientemente a pequena comunidade cristã, formada por entre 2 mil e 3 mil pessoas.

O observatório para a liberdade religiosa no mundo da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre afirma que “o pior instrumento de repressão religiosa é a lei da blasfémia, a qual continua a causar cada vez mais vítimas”.

Esta lei refere-se na realidade ao Artigo 295, B e C, do Código Penal do Paquistão. A secção B refere-se a ofensas contra o Alcorão que são puníveis com prisão perpétua; a secção C refere-se a actos que enxovalham o profeta Maomé, puníveis com prisão perpétua ou com a morte.

“Em conjunto com a regulamentação hudud – um conjunto de castigos legais inspirados no Alcorão que incluem o açoitamento e o apedrejamento por actividades julgadas incompatíveis com a lei islâmica, como o adultério, o jogo, o consumo de álcool, crimes contra a propriedade – a lei da blasfémia é um exemplo da legislação mais sectária e mais fundamentalista que o país alguma vez teve”, defende a AIS.

De acordo com alguns analistas, esta lei é uma das ferramentas utilizadas pelos fundamentalistas muçulmanos para atingir as minorias e empurrar cada vez mais o país para o caminho da islamização radical.

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