Diocese do Porto aposta na formação integral de catequistas

V Jornadas de Verão reflectiram sobre sexualidade e diálogoe entre fé e ciência A diocese do Porto organizou as V Jornadas de Verão para formação de catequistas e outros educadores. A mudança cultural das famílias, pais e crianças, são um desafio para os catequistas que cada vez mais necessitam de preparação e formação adequadas.

O Secretariado de Educação Cristã de Infância e Adolescência da diocese do Porto organiza estas jornadas há cinco anos com o objectivo de proporcionar formação em três grandes áreas: a teologia, a catequética e a psicologia. Isabel Oliveira, Directora do Secretariado explica ao programa Ecclesia a importância de nos dias de hoje, a catequese precisa ser repensada, adaptada e recriada. "A dificuldade de organizar, in loco, as jornadas permitem congregar e criar unidade", manifestando a importância de "criar um pensamento catequético".

As jornadas de formação destinam-se ainda a combater a ideia de que os catequistas são voluntários na paróquia.

"O primeiro acto de catequese é a vida e o testemunho", frisa Isabel Oliveira. Nesse sentido, "é necessário, que o catequista seja, antes de mais, uma pessoa de fé e convicta". Mas atendendo às crianças, aos pais e às famílias "não basta isso. É absolutamente necessário fazer formação e essa constituiu uma das maiores carências em termos catequéticos".

Uma urgência que não corresponde à disponibilidade dos catequistas. No entanto, "actualmente, os catequistas sentem a necessidade de formação. Isso é muito bom", reconhece a directora do secretariado diocesano.

Diversas áreas foram abordadas nas jornadas. Os participantes escolhiam a formação que pretendiam frequentar nos três dias. Isabel oliveira centra que o objectivo "não é dar formação intensiva. O que pretendemos é que quando se inscrevam numa formação possam levar algo para eles, primeiro como pessoas e também para a sua comunidade, enriquecendo-a".

Formação integral
Sexualidade, diálogo entre fé e ciência, a comunicação e o relacionamento,  a fé dos adolescentes, a eucaristia e a proposta catequética foram os temas que orientaram os cursos intensivos.

Bruno Moreira é estudante do último ano de Microbiologia na Universidade Católica e é também catequista. Longe de considerar que fé e ciência são áreas antagónicas, este finalista afirma que entende a Bíblia como "um livro pré científico".

"Esta foi a maneira possível de explicar os processos que aconteciam na altura e as curiosidades do povo judeu".

Também Marco Ferreira, docente de biologia e geologia no ensino secundário, enquanto "cientista cristão" explica não haver incompatibilidade entre fé e ciência. "Como cristão que sou não encaro que haja incompatibilidade".

"O meu cristianismo não vai no sentido científico, mas segue a palavra de Jesus. Acredito que foi uma figura histórica, com uma mensagem humana e social. Nessa perspectiva não colide com a ciência. A preocupação de Cristo não foi explicar os fenómenos da natureza, mas trazer à humanidade regras de conduta para que os homens pudessem construir uma humanidade harmoniosa", explica, recordando que muitos cientistas "não negaram a existência de Deus".

"Deus é uma entidade inteligente e o homem apenas tenta decifrar o código das leis da natureza. Elas já cá estão. Muitas ainda não as conhecemos" e a ciência "tenta descodificar essa intervenção".

Para uma leitura descodificante dos textos da criação a formação este a cargo da Irmã Luísa Almendra, professora da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa.

 "As crianças, com a sua simplicidade, atrapalham muitas vezes os adultos com as suas questões", reconhece. Daí a importância de desconstruir uma "perspectiva muito «historicista» e ajudar a perceber a perspectiva dos autores bíblicos".

O curso foi "uma descoberta" para os catequistas e demais educadores. "Muitos catequistas estão ainda a crescer na sua formação e há muitas falhas no conhecimento e na leitura da escritura", indica a Irmã Luísa Almendra.

O estudo e aprofundamento da Bíblia "não fecha, mas abre o diálogo com a ciência", explícita. Essa é "a perspectiva da Igreja, criar pontes e diálogo e não separação".

A participar há cinco anos nas Jornadas, a Irmã Luísa Almendra verifica que o grupo de catequistas também se altera. "Temos médicos, enfermeiros, cientistas, professores da área de física, da microbiologia, e estão todos muito interessados em descobrir este diálogo entre a Bíblia e a ciência". Este é também um desafio para quem está na área da Sagrada Escritura, pois "há que responder adequadamente a profissionais de diferentes áreas".

A religiosa acredita que a "fé não pode ficar fechada dentro das igrejas e como algo que se vive apenas quando se vai à igreja" e sim "apanhar o homem todo, em todas as suas dimensões".

A sexualidade é uma dimensão integral do ser humano. Este foi um dos temas em destaque nas Jornadas de formação. Teresa Tomé Ribeiro, professora na Escola de Enfermagem no Porto esteve encarregue desta área e explica a importância de perceber a sexualidade de forma integrada.

"A sexualidade é uma dimensão que constrói a pessoa e a sua personalidade". Necessariamente, a educação religiosa tem de compreender a dimensão da sexualidade para "perceber o que é o homem, qual a sua finalidade de vida, como vai viver o seu projecto, como pessoa".

A Igreja encara a sexualidade no seu todo, de forma integral, tal como encara o homem. "O que se pretende é que ao longo do processo de educação da sexualidade ligada à catequese, o adolescente e a criança consiga construir um conceito de sexualidade que englobe todas as dimensões – biológica, psicológica, emotiva, afectiva, social, espiritual e construção de um projecto de vida do que perspectiva para ele", explica a professora.

Esta é uma área consagrada na proposta educacional da Igreja, mas "actualmente com os meios que temos, pesados do ponto de vista sensual e erótico", considera Teresa Ribeiro, "os jovens e adolescentes vivem bombardeados de insinuações ora certas ora erradas".

Este "forte ambiente pede que a Igreja olhe para a formação dos jovens e adolescentes, ajudando a construir um conceito que os integre na sua personalidade mas que seja estruturante para a sua vida e para as suas decisões de futuro".

Esta é uma área que exige preparação dos catequistas pois, os catequizandos têm muitas dúvidas. "Os catequistas percebem que os miúdos têm uma visão muito médico-preventiva, ligada à prevenção de gravidezes e doenças, uma visão higienista, de sexo seguro, uma visão bio-psíquica". Estes são aspectos importantes mas que "reduzem a sexualidade, não a integrando na vivência das etapas e numa perspectiva de futuro", lamenta Teresa Ribeiro.

Catequese «vanguardista»
Os participantes das jornadas de formação têm uma responsabilidade acrescida. Segundo o Pe. Luís Miguel Figueiredo, Director do Secretariado da Educação Cristã da Arquidiocese de Braga, orientador de uma área de formação para catequistas, acredita que a proposta catequética da Igreja "é mais vanguardista do que se pensa".

"A solução da catequese está na fidelidade ao que a Igreja nos propõe", afirma. A realidade mostra um desconhecimento dos documentos fundamentais do pensamento catequético da Igreja. "Os documentos propõem desafios que vão de encontro a esta pluralidade que hoje vivemos, desde que lhes sejamos fiéis".

O Pe. Luís Miguel Figueiredo reconhece um "momento histórico em termos da catequese".

"Teremos catequese organizada quando colarmos a catequese à escola, nomeadamente à infância". Este sacerdote lê que o programa de formação está aplicado a crianças de famílias cristãs perfeitamente integradas na comunidade.

"O problema é quando nos deslocamos para ambientes que não são tipicamente de Igreja ou quando alguém não segue o esquema clássico. Para esses claramente não temos resposta", afirma.

O Pe. Luís Miguel Figueiredo explica que a questão não se pode centrar na produção de materiais mas em ter claro o itinerário. "Perceber quais os objectivos a alcançar com a catequese e, num diálogo personalizado entre o catequista e o catequizando, levá-lo a Jesus Cristo".

As V Jornadas de Verão pretenderam ainda estimular a criatividade dos catequistas. Nos intervalos das jornadas,  os participantes puderam participar nos ateliers «Desenvolver disponibilidade para a escuta – exercícios físicos» e «Educar na fé pela arte – danças meditativas». Os exercícios visam "trabalhar a concentração, o silêncio, a gestão do próprio corpo", explica Isabel Oliveira.

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