Voluntariado, solidariedade global gratuita

Num tempo marcado pela inegável interdependência das comunidades e dos povos, o voluntariado é a expressão de uma solidariedade global gratuita. Nesta breve reflexão, ocupar-nos-emos, apenas, de uma índole especial de doação espontânea e desinteressada: o voluntariado de cariz missionário.

Este é, entre tantas outras, uma forma particular de exercer uma cidadania atenta, activa e transformadora. Aproximando-se do voluntariado de tipo internacional, há, na génese do voluntariado missionário, uma dimensão que o distingue de todos os outros: a relação íntima entre as acções desenvolvidas e o projecto de Deus para a Humanidade.

No voluntariado missionário, Deus é o motor de todo o trabalho. Para que a construção do Seu Reino se concretize, centenas de voluntários mobilizam-se anualmente e partem para lugares onde é urgente actuar em diferentes áreas, de modo que todos os homens possam viver com dignidade.

Assim, com base numa comunhão fraterna, procura-se promover o desenvolvimento integral do homem todo e de todos os homens, proposto pelo Papa Paulo VI, na sua encíclica Populorum Progressio.

Neste caso concreto, o anúncio evangélico, mais do que por palavras, realiza-se em gestos de promoção humana integral, em acções de defesa dos direitos do Homem, de luta pela justiça social e equidade distributiva, em práticas de denúncia de corrupções, violências e opressões.

Cuidar de populações fragilizadas, é cuidar da Criação, obra amorosa de Deus, é concretizar a proposta radical de Jesus Cristo "Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei" (Jo, 15, 12). O Papa Bento XVI, na sua mais recente encíclica, Caritas in veritate, sublinha que "é preciso ter em grande consideração o bem comum. Amar alguém é querer o seu bem e trabalhar eficazmente pelo mesmo. (…) Ama-se tanto mais eficazmente o próximo, quanto mais se trabalha em prol de um bem comum que dê resposta também às suas necessidades reais.

Todo o cristão é chamado a esta caridade, conforme a sua vocação e segundo as possibilidades que tem de incidência na pólis. Este é o caminho institucional – podemos mesmo dizer político – da caridade, não menos qualificado e incisivo do que o é a caridade que vai directamente ao encontro do próximo, fora das mediações institucionais da pólis. Quando o empenho pelo bem comum é animado pela caridade, tem uma valência superior à do empenho simplesmente secular e político." (7).

O voluntário missionário, chamado à vocação cristã, é movido pelo dever evangélico da ajuda solidária, inaugurando um tempo de esperança através dos serviços que realiza.

Nas palavras de João Paulo II, a solidariedade "é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos" (Sollicitudo Rei Socialis, 38).

A missão que o voluntário cumpre tem no horizonte o sonho de instaurar uma nova ordem social, onde as desigualdades possam ser atenuadas e toda a Humanidade possa viver em comunhão fraterna. Esta não é mais do que a proposta bíblica: "Pois, como em um só corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma função, assim nós, que somos muitos, constituímos um só corpo em Cristo, sendo individualmente membros uns dos outros." (Rom 12, 4-5).

No âmbito do voluntariado missionário, podemos dizer que esta complementaridade advém do olhar atento do voluntário para o mundo que está para além de si e do qual nasce uma necessidade de acção transformadora.

Neste contexto específico, ser voluntário é ser anunciador da Boa Nova que, traduzindo o Evangelho em gestos, exprime "novas energias ao serviço de um verdadeiro humanismo integral (Caritas in veritate, 78).

Ana Patrícia Fonseca, FEC, Plataforma Voluntariado Missionário

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