Cristianismo na Europa também pelo voto

A Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE) participa activamente nas questões sociais, políticas, económicas e espirituais relativas à UE. O seu Secretário adianta temas a incluir no debate para as eleições ao PE Agência Ecclesia – Qual a responsabilidade que os católicos têm nas eleições?

Piotr Mazurkiewicz – Sociais e políticas. Sendo cristãos, têm também tarefas a assumir nas diferentes áreas da vida política e da vida social.

AE – Há responsabilidades acrescidas devido à herança cristã da Europa?

PM – Precisamos lembrar o bem comum de toda a comunidade porque somos membros de uma comunidade global. Somos, por um lado, cidadãos de estados nacionais mas também cidadãos europeus.

AE – A COMECE publicou um documento "Building a better European home" onde indica a necessidade de se construir uma "alma europeia". Que alma é esta?

PM – Temos consciência de que a construção desta comunidade europeia tem séculos, não se trata de algo construído depois da Segunda Guerra Mundial. É preciso perceber porque é que este processo começou entre estes países e porque é que temos problemas quando pensamos na adesão de alguns países que não parece ser unânime.

A alma refere-se, por isso, a diferentes valores, mas também a diferentes culturas. Se falamos da fonte história destes valores, o cristianismo está presente.

AE – Trata-se de uma alma com valores?

PM – Sim, porque um problema não se resolve apontando apenas um motivo. Há a consciência de que se falamos de comunidade europeia, deveria haver algo em comum. Não pode ser apenas a comunidade de interesses.

AE – As pessoas estão demasiado centradas nos seus problemas particulares e esquecem a herança e os valores que estiveram na base desta construção. Que valores as poderiam ajudar a ultrapassar estes problemas?

PM – Por um lado é verdade, no sentido em que, se temos problemas concretos na vida diária, é isso que se torna urgente. Mas nem sempre o que é mais urgente é o mais importante.

A discussão sobre a crise e a procura de soluções para as economias nacionais indica que a resolução começa precisamente com o acreditar e com o ter confiança. Para restaurar a vida económica, precisamos restaurar a confiança.

AE – De alguma forma, as eleições podem ser um momento de restauro de confiança?

PM – O tempo de campanha que antecede as eleições deve ser pautado por discussão racional sobre as nossas tarefas e sobre o que é importante. Se esta campanha for bem organizada, isso permite às pessoas poderem reflectir sobre as melhores opções.

AE – Nesta discussão racional, quais deveriam ser as principais questões a ser debatidas?

PM – Precisamos concentrar-nos em diferentes tipos de problemas, uns a curto prazo, outros a longo prazo. A curto prazo surgem questões como a crise económica, o Tratado de Lisboa, as novas adesões e como as instituições deveriam estar organizadas.

A longo prazo é preciso fazer uma reflexão sobre quem somos, sobre os membros da nossa comunidade. Mas também sobre o que é a democracia, como é que podemos funcionar. E se falamos da nossa comunidade, devemos entender-nos sobre a dignidade humana, a protecção da vida humana.

Estas questões que mencionamos na nossa declaração "Building a better European home", são as mais importantes. E, em especial, estamos concentrados nos problemas a longo prazo.

AE – Qual pode ser o contributo da COMECE para a construção europeia?

PM – A nossa tarefa é modesta. Estamos em Bruxelas para seguir o processo e perceber o seu funcionamento, com vista a informar as Conferências Episcopais nacionais. Se as conferências receberem a informação certa, podem tomar decisões e organizar o debate nas igrejas locais. Essa é talvez a maior tarefa.

Por outro lado, tentamos também introduzir em Bruxelas alguns tópicos na discussão europeia.

Em especial para a Igreja Católica não há interesses de Igrejas no sentido organizativo, como os grupos de lobby têm. Mas tentamos perceber em que é que consiste o bem-comum. E nesta área surgem questões como o respeito pela vida humana, desde a concepção até à morte natural, qual o conceito de casamento, da família, mas também as questões sobre os direitos dos trabalhadores e as condições laborais. Assim como as questões de solidariedade, o relacionamento intergeracional, entre países da União Europeia (UE), e entre a UE e os países pobres.

AE – Que mensagem é importante passar a todos os cidadãos para votarem e envolverem-se no processo eleitoral?

PM – A primeira mensagem é sobre o sentido de responsabilidade. Se algumas pessoas se queixam das instituições, podemos tentar mudá-las através do voto, participando nas eleições. Deveríamos ter este elemento cristão mais presente. Precisamos da participação cristã nas eleições.

Isto significa que, do ponto de vista da construção, é importante saber em que partido votamos, que pessoa escolhemos e que propostas assumimos. É possível reflectir como esteve o Parlamento nos últimos cinco anos.

Há estudos que indicam que os deputados dos mesmos partidos não votam sempre da mesma forma.

AE – O voto cristão é importante?

PM – Sim. Se alguém quiser ter esta inspiração cristã mais presente no Parlamento, deveria votar.

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