Um Ramo de Amendoeira

Apresentação do livro de António Rego por D. Manuel Clemente

Um Ramo de Amendoeira

É aparentemente fácil e certamente gostoso apresentar este livro do nosso muito estimado Cónego António Rego, querido amigo.

Digo aparentemente fácil, por ser evidente a qualidade, constante a actualidade e agradabilíssima de seguir a escrita do Autor. Mas só aparentemente é assim…

Na verdade, a escrita de António Rego só parece “fácil” por já ter atingido há anos aquela simplicidade e clareza que apenas alcançam a inteligência e a sensibilidade quando se conjugam em alto grau.

E esta não é uma classificação meramente amigável: é a constatação óbvia de qualquer leitor atento.

António Rego revela na sua escrita o que é na vida, com uma personalidade muito bem composta de espírito, coração e engenho.

Quanto ao espírito, é essencialmente cristão e especificamente sacerdotal. Está no mundo, olha o mundo, descreve o mundo, como quem nele se insere comprometidamente, sentindo-o seu e servindo-o por inteiro. António Rego não é mais um espectador do que aconteça, nem um diletante de curiosidades passageiras. A sua vocação cristã e sacerdotal confirmou-se nos tempos da Acção Católica e do Concílio Vaticano II e por isso está no mundo em termos de “ver, julgar e agir”. É este o seu espírito: presente, atento e positivamente comprometido.

Também como coração. Coração que não vem depois, vem antes e alimenta tudo. A escrita de António Rego está impregnada de “simpatia”, tanto como a sua presença televisiva. Mesmo quando denuncia, é de amizade que se trata. Da verdadeira, que esclarece e corrige, porque o amor nunca se alheia nem desinteressa, antes incomoda e se incomoda e só cura quando arde.

Mas o coração que António Rego revela tem outros brilhos. Está o primeiro no tom caloroso da sua escrita. Não precisamos de esperar dois parágrafos para, mais do que estarmos a lê-lo, estarmos a ler com ele, tanto nos sabe envolver também. Quando chegamos ao fim do texto, não se tratou de leitura, tratou-se de convivência com o Autor.

Falei de brilhos. Escolhi a palavra porque é a beleza que refiro. António Rego escreve bonito, como diz bonito. O que não diminui a verdade da escrita, antes a acentua, por ser a beleza o esplendor da verdade, como diziam os antigos e sabemos os modernos.

Mas a verdade é a adequação à realidade e a realidade humana só se abarca com inteligência afectiva, amando o que se apreende. É por isso que ler António Rego é um exercício humanista, tanto pelo tema como pelo seu tratamento. Trata de gente concreta na cidade de todos, para que sejamos melhor gente e mais concidadãos também, da aldeia ao mundo, aldeia global agora.

O brilho de António Rego traz-nos ainda da sua ilha natal a cintilação do sol na água do mar e na verdura da terra. Mas isto só consegue quem tem coração para absorver e oferecer: lembro, bem a propósito, o seu conterrâneo Padre Sena Freitas, que entre os séculos XIX e XX nos deixou textos de intervenção católica e relatos de viagem onde não faltam semelhantes espírito e coração.

Espírito, coração e engenho, dizia eu da escrita de António Rego, de novo evidenciada nesta excelente colectânea. O Autor está perfeitamente à vontade na actual faina dos media, como ambiente e capacitação técnica. Tem desenvolvido em Portugal e na Igreja uma actividade ímpar que o constituiu autêntico precursor e mestre. Mas em tudo isso revela a destreza rara de universalizar o mais particular dos casos ou episódios, dos grupos ou dos rostos, num zoom cinematográfico que também lhe perpassa a escrita. Ou contrastando claros e escuros, em trechos comprometidos que sempre nos relançam. Ou conjugando o pessoal e o contexto, em dramatizações originais e muito bem conseguidas. Tudo lhe resulta fluente, certeiro e sugestivo.

Engenhoso, portanto, mas já maduro, conseguido e fértil.

– Parabéns ao Autor e à Editora. Boa leitura a todos!

 

Lisboa, 21 de Maio de 2009

Manuel Clemente          

 

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