Zimbabué, um país estrangulado pelo próprio presidente

“Estamos a perder a pouca normalidade que tínhamos. Nas ruas, três tomates custam agora um dólar e dois bocados de peixe, cinco dólares.” Assim ilustra a situação que o Zimbabué atravessa D. Dieter B. Scholz, Bispo de Chinhoyi, que em Fevereiro de 2009 nos descreveu a terrível miséria da população deste país africano. Actualmente, os cabeçalhos dos jornais não mencionam a ditadura do presidente Robert Mugabe, mas a catastrófica conjuntura política e económica do país, originada por este regime, continua a ser a mesma. O jornalista Wilf Mbanga, um antigo companheiro de Mugabe que actualmente vive exilado no Reino Unido, explicou numa entrevista a atitude do presidente: “Os 28 anos no poder perturbaram-no totalmente, e o medo de perder o poder torna-o semelhante a um animal ferido. Actualmente, ele é capaz de qualquer coisa. Inclusivamente de um genocídio.” No fundo, isso já está a acontecer: Zimbabué, o país outrora qualificado de celeiro de África pela sua riqueza agrícola enfrenta a fome. D. Scholz escreve: “Sinto-me invadido pela indignação quando ouço que os funcionários fiéis ao partido continuam a tentar intimidar os nossos párocos para os impedir de ajudar a quem apenas se alimenta de casca de árvores, sementes e frutos selvagens. Mas nós não vamos tolerar que nos roubem o direito de partilhar o nosso pão com os famintos.” D. Scholz, um jesuíta que trabalha há mais de quarenta anos no Zimbabué, é Bispo da Diocese de Chinhoyi, no Noroeste do país, desde 2006, e recebe apoio da Ajuda à Igreja que Sofre (AIS). Este sacerdote oriundo de Berlim trabalhou muitos anos em Silveira House um centro de educação de adultos dos Jesuítas fundado em 1964 e situado a 20 km da capital de Harare. Até aos dias de hoje, esta instituição de carácter pastoral e social esforça-se por fortalecer as paróquias da região. A sua oferta de formação inclui cursos de prevenção sanitária, agricultura, democracia e direitos humanos, assim como de cultura e línguas nativas. O objectivo é ajudar o povo do Zimbabué a ajudar-se a si mesmo. No entanto na actual crise esta oferta já não é atractiva. As condições de vida da população são miseráveis e as necessidades do povo, indescritíveis. As escolas e os hospitais fecham as suas portas. A economia nacional há muito tempo que se encontra devastada e a moeda do país não tem valor. As pessoas procuram conseguir divisas para sobreviver, mas muitos, ao não o conseguir, passam fome, procuram fugir como podem para um Estado vizinho ou, simplesmente, morrem. A fome, este brutal sofrimento capaz de afectar e acabar com famílias inteiras, está presente em todo o lado. Nas palavras de um observador, é tão destruidora como “um tsunami constante e silencioso”. À grave carência de alimentos seguiu-se uma epidemia de cólera, em Agosto de 2008. Ainda que os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) de Genebra indiquem que o número de novos casos desceram de forma significativa, a OMS também advertiu no final de Março que a epidemia não se extinguiu totalmente e que poderia voltar a desencadear-se. Segundo os dados, em Fevereiro de 2009 registaram-se cerca de 8.000 novos casos semanais, enquanto em Março o número desceu para 2.000. O índice de mortalidade entre os doentes também desceu quase 6% em Janeiro e 2,3% em meados de Março. No total, a OMS calcula que desde o início da epidemia mais de 91.000 pessoas contraíram cólera, das quais cerca de 4.000 morreram. Perante este cenário, D. Scholz explica numa conversa que manteve com colaboradores da AIS: “Devemos recuperar a humanidade que perdemos.” Este bispo jesuíta, que em Janeiro e Fevereiro esteve na Alemanha com o objectivo de recolher ajuda para a população do Zimbabué, sublinhou que não iria tolerar que os sacerdotes da sua diocese fossem proibidos de partilhar alimentos entre os famintos. Segundo explicou, os sacerdotes receberam ameaças e foram obrigados a prestar contas ante as autoridades Departamento de Informação da Fundação AIS Foto: Missão Jesuíta no Zimbabué

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