Entusiasmo e dedicação no ensino público de EMRC

Alunos e professores valorizam disciplina que promove interdisciplinaridade e educação integral O plano escolar encerra esta Sexta-feira a semana dedicada à disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica. Menosprezada e escondida por uns, valorizada e integrada por outros, a disciplina anda a reboque da constituição de horários mais ou menos favoráveis, da dedicação dos professores e do entusiasmo dos alunos. O Secretariado Nacional de Educação Cristã aponta a importância desta disciplina no sistema educativo, destacando o desenvolvimento de uma pluralidade de actividades, do estabelecimento do diálogo entre a fé e a cultura, entre a razão e a fé e o proporcionar aos alunos experiências educativas orientadas para a educação integral. Este é o lema da Escola EB 2/3 de Atouguia da Baleia, do agrupamento de escolas de Peniche, na diocese de Lisboa. Esta escola, com alunos entre o 5º e o 9º ano conta com cerca de 98 % de participação na disciplina de EMRC. É uma escola pública, onde a professora Susana Pereira, de Educação Moral e Religiosa Católica, tem a seu cargo 18 turmas, cada uma com uma média de 25 alunos. Esta é a escola com maior participação dos alunos, em EMRC, na diocese de Lisboa. Susana Pereira aponta que esta participação é fruto do trabalho desenvolvido ao longo de vários anos. A tradição estabelecida com as actividades que marcam os alunos “leva-os a passarem a palavra sobre as aulas e as iniciativas que estão no âmbito de EMRC”. Factores que ajudam ao “desejo de pertencer a esta disciplina”. Há ainda uma grande visibilidade exterior e interacção com a comunidade local. A professora aponta parcerias que se estabelecem. “Quando propomos alguma actividade encontramos sempre as portas abertas nas associações locais. Convidamos voluntários a vir às aulas e mostrar os seus trabalhos também”. Escola e disciplinas estão disponíveis para actividades interactivas que conduz a uma maior realização escolar. Nesta escola, EMRC não tem horário de pontas. Esta é uma disciplina vista de igual para igual, tal como a Matemática ou o Português. “Tenho horários completos tal como qualquer outro professor”. Factor que segundo Susana Pereira, é essencial para a participação dos alunos. “Os alunos não ficam com a noção que ficam mais tempo na escola exclusivamente por causa de EMRC. Pode acontecer, mas a situação é semelhante a outra disciplina”. EMRC privilegia a interacção e a criatividade. Factores importantes para cativar os alunos. No entanto, Susana Pereira aponta a centralidade dos materiais de apoio à disciplina e dos novos manuais que estão a ser criados. “A boa relação é essencial, como em qualquer outra disciplina, mas os conteúdos têm de ser muito bem trabalhados”. A professora reconhece o desejo dos alunos serem acicatados ao mesmo tempo que cumprem o programa de uma disciplina igual às outras. “Não existe nenhum descrédito no âmbito do programa escolar perante EMRC”. As actividades no âmbito da disciplina são propostas de acordo com o programa anual. A Escola EB 2/3 de Atouguia da Baleia dispõe de três professores de EMRC que trabalham em equipa. As actividades desenvolvidas estão “sempre em sintonia com as temáticas abordadas dentro da sala de aula, nunca são soltas”. De entre as iniciativas ao longo do ano escolar a campanha de Natal é já uma tradição que os alunos esperam e que se estende às aulas de formação física. Numa zona rural, a professora explica a necessidade de apoiar as crianças com algumas dificuldades. “Organizamos uma campanha para ajudar os nosso alunos através de géneros alimentares”. Em parceria com as disciplinas de Educação Física e Ciências, são organizadas limpezas nas praias. Existem ainda actividades de intercâmbio com outras escolas. “Uma vez que somos uma escola de uma zona rural, é importante perceber o contexto urbano e outras realidades”. Susana Pereira aponta ainda actividade lúdicas, por ocasião do Dia Mundial da Criança, onde por exemplo, “nos deslocamos ao campo, para jogos interactivos e convívio com os professores”. Caminhadas a pé, participação nos encontros diocesanos propostos pelo Secretariado de Educação Cristã são ainda actividades de frequência assídua. No final de cada ano é organizada uma benção de finalistas do 9º ano e um jantar para alunos e professores. Uma forte componente interdisciplinar marca o ano lectivo. Susana Pereira explica não fazer sentido ser de outra forma. “A escola tem de dar uma formação integral aos alunos e por isso precisamos de trabalhar em equipa”. A terminar a semana dedicada à disciplina de EMRC, Susana faz um balanço muito positivo. Como este ano os cinco dias coincidem com o término das aulas e respectivas avaliações referentes ao segundo período, “as actividades foram distendidas”. O tema proposto pelo SNEC para este ano foi a Bíblia. Os alunos da escola EB 2/3 de Atouguia da Baleia escolheram dinamizar a Bíblia a partir da Biblioteca. Foi realizado um jantar de professores sob esta temática, “onde foram servidos alimentos bíblicos”, recorda Susana Pereira. Os alunos foram ainda convidados a trabalhar mais directamente com a Bíblia. Foram distribuídos versículos que poderiam consultar e os alunos “ilustraram o seu trabalho, que vai agora culminar com uma exposição”. Alguns alunos levaram também as suas Bíblias para a escola, “para compararem mais antigas com as mais recentes”. A semana recordou ainda “trabalhos que fomos realizando ao longo dos anos. Não nos centramos exclusivamente neste ano e conseguimos projectar alguns trabalhos nas salas de aulas e de convívio”. Susana Pereira, há 17 anos como professora de EMRC em escolas públicas, não esconde alguma tristeza ao olhar para a realidade dos jovens portugueses. “A educação integral tem de envolver os professores. Quando assim não é, existirão lacunas graves”. Susana Pereira lamenta a falta de consciência sobre a importância desta disciplina na formação das crianças e jovens, porque, ao longo de quase 20 anos de profissão, aponta “sementes que lancei e vi crescer”.

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