Inovação em tempos de crise e D. António Ferreira Gomes

A Fundação SPES promoveu um colóquio sobre as inovações pastorais introduzidas na década de 1950 por D. António Ferreira Gomes(1906-1989), então Bispo do Porto. Esta é uma figura emblemática, que passou dez anos no exílio e se notabilizou na fidelidade à doutrina social da Igreja, bem como numa leitura inovadora da tradição nacional. Para D. Carlos Azevedo, presidente da Fundação – criada, por testamento, pelo próprio D. António Ferreira Gomes – devemos destacar “a capacidade de perceber que havia elementos inovadores além-fronteiras”, dando como exemplo o movimento “Mundo melhor” ou as Equipas de Nossa Senhora. O Bispo do Porto seria pioneiro na criação de uma comissão diocesana Justiça e Paz, na génese do que é hoje a Comissão Nacional. Estas “inovações” são trazidas para o Porto com muita prontidão, procurando envolver os leigos, “valorizando e formando-os para estar presentes na sociedade, no mundo da família, da economia ou da cultura”. Em declarações ao Programa Ecclesia, o Pe. António Barros sublinha que D. António Ferreira Gomes é um dos muitos casos que “devem ser estudados”, em especial as suas intuições de “renovar toda a estrutura eclesial”, no regresso do exílio e após o Concílio Vaticano II. “Ele tenta criar um dinamismo de vida, que mexa com a alma da pessoa, que torne grandiosa a dignidade da pessoa em todas as suas vertentes e dinamismos”, acrescenta. Esta “renovação de mentalidades” ajuda a criar uma sociedade mais solidária, mais fraterna. Hoje, diante de um cenário de crise, é preciso ajudar “pessoas sentadas no sofá, anestesiadas” a “procurarem por si dinamismos novos”, com vontade de ser protagonistas do seu destino. “Cada geração tem de descobrir as suas lutas e as suas conquistas”, aponta o Pe. Barros. D. Carlos Azevedo observa que, “num tempo em que Portugal estava fechado ao mundo”, D. António Ferreira Gomes soube “trazer estas realidades para o nosso meio”. Hoje, acrescenta, “estamos abertos ao mundo, mas às vezes há falta de coragem para implementar experiências positivas que vêm de outros lados, sobretudo numa hora em que a intervenção é fundamental”. Depois do anúncio da canonização de Nuno Álvares Pereira para 26 de Abril próximo, a Fundação SPES decidiu reeditar a peça de teatro «Herói e Santo» que D. António Ferreira Gomes publicou em 1931, sob o pseudónimo G. de Penafiel, há muito esgotada. O presidente da Fundação espera que a obra sirva para dar a conhecer aos portugueses o futuro Santo, um “grande desconhecido”, “a figura nacional mais ímpar”. Nesta peça, o autor desenvolve uma interpretação original da história de Portugal e das motivações que teriam levado Nuno Álvares Pereira a recolher-se ao Convento do Carmo. Esta nova edição tem ainda um prefácio de Guilherme de Oliveira Martins e um ensaio de Luísa Malato.

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