Pastores da Igreja ao serviço do Povo de Deus Que os Pastores da Igreja sejam sempre dóceis à acção do Espírito Santo no seu ensinamento e serviço ao Povo de Deus 1. Os «Pastores da Igreja…» Nenhuma comunidade cristã pode subsistir na ausência de quem a oriente nos caminhos da fé e da fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo. Na Igreja Católica, este serviço é confiado aos bispos, cujo ministério é o mesmo dado por Jesus aos seus apóstolos, o grupo dos Doze. Os Bispos são, por isso, legitimamente chamados sucessores dos apóstolos – e mais ninguém pode, na comunidade católica, reivindicar este título para si. Os Bispos presidem à Igreja – ou melhor, às Igrejas – constituídos, tal como os Doze, em «colégio», em grupo unido não por simples laços humanos, mas pelo próprio Deus. E tal como os Doze, também o colégio dos Bispos é presidido por aquele que Jesus escolheu como fundamento visível da sua Igreja: o Papa, sucessor de Pedro. Separado de Pedro, ou seja, do Papa, nenhum Bispo pode continuar a servir a Igreja e a presidir à comunidade dos fiéis – pelo menos, como Bispo católico. Logo desde os primeiros tempos, os Bispos – à semelhança dos Apóstolos – foram auxiliados, no seu ministério, por homens escolhidos de entre os fiéis da comunidade. Surgiram assim os presbíteros e os diáconos, os quais, recebendo como o Bispo, embora em graus diferentes, o sacramento da Ordem, constituem os seus mais directos e qualificados colaboradores na missão de guiar o Povo de Deus até à verdade total, que é Cristo. 2. «…dóceis à acção do Espírito Santo» Humanos como todos os outros humanos, os Pastores da Igreja não estão isentos do pecado, das deficiências de carácter, de tudo quanto é inclinação humana para o mal; e, do mesmo modo, cada um possui virtudes e qualidades que o ajudam no desempenho da sua missão. O mais importante, porém, é a docilidade ao Espírito Santo que os consagrou com a graça própria do sacramento da Ordem. Porque não foram constituídos donos da vinha do Senhor, mas seus administradores, devem confiar sobretudo n’Aquele que os chamou ao ministério, para levarem a bom termo a tarefa de governar e santificar o Povo de Deus. «Graças ao Baptismo, o Bispo participa, com todo o cristão, da espiritualidade que se funda na incorporação a Cristo e se manifesta no seu seguimento, segundo o Evangelho» (João Paulo II, Pastores Gregis). Esta afirmação do Papa aplica-se a qualquer ministro da Igreja e mostra quanto é necessário todos se sentirem, antes de mais, discípulos do mesmo Mestre e Senhor, Jesus Cristo. Deste modo, o seu ministério será exercido e reconhecido como dom de Deus para o serviço dos irmãos e não como objecto de disputa e ânsia de poder. 3. «…ensinamento e serviço ao Povo de Deus» Onde melhor se manifesta a docilidade dos ministros da Igreja ao Espírito Santo é no modo como exercem a missão de ensinar e servir o Povo de Deus. No exercício deste ministério, os pastores da Igreja estão chamados a ser «simples como as pombas e prudentes como as serpentes» (Mateus, 10, 16). Quando assim não acontece, o dano que podem causar ao Povo de Deus é muito maior do que quaisquer ataques vindos de fora, por parte dos inimigos da Igreja. Infelizmente, estes inimigos da Igreja encontram abundante colaboração no interior da mesma: sacerdotes que falam publicamente ou escrevem contra a doutrina ensinada pelo Magistério eclesial; bispos em público desacordo com os seus irmãos no episcopado (ou até com o Santo Padre); pastores fazendo coro com grupos que, da Igreja, só querem o efeito mediático da presença de um bispo ou padre nas suas manifestações; «originalidades» na celebração dos mistérios cristãos, sem nenhuma consideração pelo facto de os sacramentos não serem pertença de quem preside nem da comunidade, pois são sacramentos da Igreja; carreirismo eclesiástico nada condizente com o serviço ministerial… O serviço dos ministros da Igreja ao Povo de Deus não lhes foi confiado para ser desbaratado dizendo ao mundo aquilo que este deseja ouvir. É muito mais proveitoso para o Povo de Deus quando os seus Pastores se empenham em ensinar os fiéis na fidelidade ao Magistério da Igreja; em formar comunidades cristãs cada vez mais vivas, porque mais exigentes no seu compromisso com o Evangelho; em dinamizar comunidades de fé operosa pela caridade, cuja opção preferencial pelos pobres se percebe nas mais pequenas coisas; em estar ao lado dos mais desprotegidos e sem voz; em denunciar, sem hesitações, os caminhos errados que alguns desejam impor à sociedade… E são muitos, felizmente, os Pastores assim! Este serviço não encontra, certamente, tantos microfones disponíveis nem câmaras de televisão avaras de uma imagem. Mas resulta em maior bem para a Igreja e para a sociedade. E quando, por anunciar o Evangelho, não aderindo ao progressismo reinante, os microfones e as câmaras de televisão encontrem motivos para se escandalizar com algum Pastor da Igreja, essa será a confirmação mais evidente da sua fidelidade ao Espírito Santo, ensinando e servindo o Povo de Deus. Elias Couto