Gaza: Resgatar a esperança por entre os destroços

Único padre católico no local fez um relato dramático numa comunidade devastada pela violência O único padre católico de Gaza fez um relato dramático de um povo que viveu “sitiado durante 22 dias” e sublinhou a gigantesca tarefa de reconstruir uma comunidade devastada pela violência. Numa entrevista à AIS, a partir da cidade de Gaza, Mons. Manuel Musallam descreveu como é que as pessoas passaram fome durante quatro dias e sofreram ferimentos terríveis, que as deixaram mutilados. Ao afirmar “vi pessoas com os rostos queimados – mulheres e crianças”, evidenciou o grau de sofrimento físico infligido pelos ataques israelitas a Gaza, nos quais morreram pelo menos 1300 pessoas e mais de 5500 ficaram feridas. Mas continua a recusar ceder ao desespero. Mons. Musallam, pároco da Igreja da Sagrada Família, na cidade de Gaza, disse: “Somos testemunhas de Cristo nesta situação terrível. Não vislumbramos sinais de uma paz duradoura mas a minha missão continua a ser a mesma – pregar a esperança – dizer às pessoas que esperem contra toda a esperança. Só dessa forma poderemos pôr um fim a esta experiência infernal”. O próprio padre escapou por pouco à morte quando uma bomba aterrou no seu telhado: “Fez um grande buraco mas não chegou a rebentar e rolou para o chão”. Contou também que uma bomba perdida aterrou no recreio da escola das Irmãs do Rosário na cidade de Gaza: “Graças a Deus não explodiu, mas continuou a arder e a deixar um cheiro nauseabundo. Dois dias mais tarde, os soldados resolveram a situação em segurança”. O sacerdote refere que durante muitos dias poucos habitantes do centro de Gaza puderam ter acesso à ajuda humanitária enviada pelas organizações internacionais. Os alimentos e outros bens de primeira necessidade estavam armazenados em escolas e outros edifícios oficiais, aos quais apenas tinham acesso pessoas nas zonas limítrofes da cidade e que os outros não podiam aceder por ser demasiado perigoso. Mas com um cessar-fogo há mais pessoas que podem receber ajuda. Antes da entrevista, este sacerdote tinha-se encontrado com o Arcebispo Antonio Franco, Delegado Apostólico para Jerusalém, que viajou para Gaza no passado dia 21 de Janeiro, para distribuir ajuda enviada por Bento XVI. Mons. Musallam contou como abriu as portas da escola da sua paróquia a uma família católica cujo pai tinha sido ferido na perna enquanto procurava alimento e um pequeno forno para ferver água e leite para o filho doente. E contou: “Quando a família chegou, dei uma caneca com água à mulher do homem ferido, que era uma antiga professora da nossa escola. Ela começou a chorar porque há quatro dias que não bebia nada”. Como parte do seu trabalho pelos cristãos perseguidos e que sofrem, a AIS destinou 20 mil euros para ajuda de emergência em Gaza, trabalhando juntamente com o Patriarca Fouad Twal de Jerusalém e o Mons. Musallam. O sacerdote afirmou que cerca de 60 pessoas assistiram à Missa que ele celebrou na sua igreja no Domingo, dia 18, o dia seguinte a Israel ter declarado o cessar-fogo. Foi a primeira possibilidade que os fiéis tiveram para fazer o luto dos quatro católicos que morreram nos ataques, como foi o caso da jovem de 16 anos, Christine Wadi Turk. Mons. Musallam afirmou que o número que mortos ainda era desconhecido, tendo ruído muitos edifícios e sendo necessárias buscas para procurar os cadáveres. O sacerdote disse também que tão grave quanto o número de mortos é o trauma psicológico que as pessoas sofreram. “Não sei quantos não terão enlouquecido. Quando os bombardeamentos começaram, dia e noite, as pessoas saíam dos quartos, amontoavam-se na casa de banho e trancavam-se, pensando que era o local mais seguro”. Departamento de Informação da Fundação AIS

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