Iconografia de S. Paulo

Depois de termos já falado da vida e obra de S. Paulo, vamos hoje apresentar a sua ICONOGRAFIA, ou seja, a maneira como é representado pelos artistas na escultura e na pintura. S. Paulo é considerado por muitos como uma das maiores figuras do cristianismo e o seu principal estruturador, tanto a nível doutrinário como a nível organizativo. As comunidades cristãs fundadas por ele na Ásia Menor e na bacia mediterrânica são disso o melhor exemplo. Continuou a acompanhar essas comunidades através de “Cartas”, que chegaram até nós e continuam a edificar-nos: Romanos, Efésios, Tessalonicenses, Gálatas, Coríntios, Filipenses, Colossenses. Saulo, o desejado, transformou-se, depois da “conversão”, em Paulo, o pequeno. Ele, de facto, terá sido “pequeno” de estatura, mas foi um “gigante”, como apóstolo e missionário que, depois de uma longa vida de evangelizador, ao serviço de Jesus Cristo, foi martirizado em Roma (cerca do ano 64, no tempo do imperador Nero), sendo degolado com uma espada, pelo facto de ser cidadão romano (S. Pedro foi crucificado como um escravo), no local onde foi edificada a igreja de “Tre Fontana”, porque a sua cabeça, ao saltar três vezes no chão, deu origem a três fontes. S. Paulo nunca foi um santo verdadeiramente popular, como aconteceu com S. Pedro, que tem uma imagem mais paternal, como porteiro do Céu. S. Paulo, com a sua atitude mais altaneira e severa, mantinha o povo à distância. É por isso que a iconografia de S. Paulo e o lugar que ocupa no mundo da arte fica aquém da sua real importância, como um dos principais apóstolos. Entretanto, no século XVI, o culto de S. Paulo sofreu um aumento de popularidade, mas por razões estranhas à Igreja Católica, ele que esteve sempre associado a outro grande apóstolo – S. Pedro: a Reforma de Lutero escolheu S. Paulo como seu herói e como opositor a S. Pedro, o primeiro papa. O anglicanismo também adoptou S. Paulo e dedicou-lhe uma catedral em Londres, que pretendia rivalizar com a basílica de S. Pedro, em Roma, considerada a “basílica papista”. Partindo das informações recolhidas nas Cartas de S. Paulo e atendendo ao seu nome latinizado, podemos admitir que S. Paulo era de “baixa estatura e com algumas limitações físicas: calvo, remeloso, nariz adunco, pernas tortas e sofrendo de uma doença crónica, talvez oftalmológica”. Ele próprio refere que tinha “uma espinha cravada na sua carne”, ou então, que era como um “aborto”! Apesar destas possíveis mazelas físicas, a iconografia religiosa não as teve em conta e sempre reproduziu S. Paulo numa atitude majestática, como o “maior” dos Apóstolos, apoiado numa espada ou empunhando-a com autoridade. Só a calvície é que, habitualmente, foi mantida, mas com algumas excepções (Rafael e outros artistas representaram S. Paulo com abundante cabeleira)! Quais os atributos que identificam S. Paulo? – O principal é a espada, quase sempre desembainhada. Excepcionalmente, é representado com 2 espadas, talvez por analogia com S. Pedro (2 chaves) e por se considerar que uma das espadas é o símbolo da Palavra de Deus, que S. Paulo tão bem soube anunciar e a outra é o símbolo do martírio. Por esta razão é venerado, especialmente, pelos cavaleiros. – O “cesto”, instrumento de evasão de Damasco (descido pelas muralhas num cesto), é também um dos seus atributos, sendo por isso invocado pelos “cesteiros”. – Sendo “fabricante de tendas”, segundo os Actos dos Apóstolos 18,3 é também o padroeiro dos “brunidores” e dos fabricantes de cordas. – A devoção popular igualmente recorre a ele contra as tempestades e contra a mordedura das cobras, por se ter salvo num naufrágio no mar de Malta e por ter ficado imune à mordedura duma víbora venenosa. – A barba comprida também é um dos atributos indispensáveis, em contraste com S. Pedro que é representado com a barba curta e encaracolada. – O livro ou o rolo (Bíblia) é o atributo genérico, comum a todos os outros apóstolos. Poderíamos ainda referir como é que a arte reproduz os vários episódios da vida de S. Paulo: – S. Paulo quando ia para Damasco, ia ou não a cavalo? É uma questão que não obtém uma resposta única: A arte oriental (mosaicos bizantinos) representa-o a pé; a arte ocidental representa-o, quase sempre a cavalo. – O baptismo de S. Paulo (Actos 9,10-22) é, normalmente, representado cego, levado pelos seus companheiros a Damasco, onde Ananias o baptiza e lhe impõe as mãos e começa a ver depois de lhe caírem umas escamas dos olhos; a pomba do Espírito Santo desce até à sua orelha (esta cena faz lembrar a cura miraculosa de Tobias cego). – A fuga de Damasco (Actos 9,19-25 e II Coríntios 11,32) é representada com S. Paulo a descer as muralhas numa “cesta”, à imitação de outras cenas bíblicas (a meretriz Rahab ajuda a descer as muralhas de Jericó a dois espiões enviados por Josué…; David escapa da ira de Saúl, fugindo por uma janela…). O arrebatamento de S. Paulo (Actos 22,17), à semelhança de uma “assunção”, só é representado pela arte a partir do século XVII, quando a Contra Reforma quis realçar as cenas de êxtase dos grandes místicos. Existem muitos outros temas da vida de S. Paulo, utilizados pela arte… Cón. António Fernando Marques

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top