Pároco é responsável pela realização do «Presépio Priscos», que é construído com a ajuda de reclusos do Estabelecimento Prisional de Braga
Braga, 23 dez 2024 (Ecclesia) – O padre João Torres, coordenador da assistência aos Estabelecimentos Prisionais de Braga e Guimarães, defende “mecanismos mais eficazes” e maior participação da sociedade civil na reabilitação de reclusos.
“Não podemos ter sequer a ideia de que o Estado, por si só, irá fazer tudo. Não consegue. E aquilo que é o plano de readaptação pessoal dos reclusos devia ser levado muito mais a sério”, afirmou o pároco de Priscos, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O entrevistado considera que “ninguém deveria ser colocado em liberdade condicional que não tivesse feito passos significativos” com vista à reinserção social, salientando a importância de reclusos terem hábitos de trabalho, rotinas e pequenas experiências da vivência na própria sociedade.
“Nós não podemos ter alguém detido durante 12 anos e, de repente, ‘olha, amanhã sais e agora não tens para onde ir, não tens trabalho, não tens o que comer’. Isto é impensável. Isto tem que ser feito de uma forma muito mais assertiva”, salientou.
O padre João Torres realça que não interessa que alguém saia em liberdade e não tenha trabalho, já que “vai continuar a praticar crimes, porque não tem mais nenhuma saída”.
Além disso, o coordenador da assistência aos Estabelecimentos Prisionais de Braga e Guimarães entende que o Estado português tem de pensar seriamente no que fez “com a junção do Instituto de Reinserção Social aos Serviços Prisionais”.
“Já alguém avaliou isso? Essa junção foi bem feita? O que é que foi feito depois? Eu acho que precisa de uma séria reforma, quer os serviços prisionais, quer o antigo Instituto de Reinserção Social, para quê? Para colocar aqui outros atores”, explica.
O pároco de Priscos acredita que “a sociedade civil pode dar um contributo diferenciado, porque em Portugal ainda nunca se estudou seriamente a reincidência criminal”.
O padre João Torres é o responsável pela realização do Presépio ao Vivo de Priscos, que desde o início é construído por reclusos e que este ano tem como tema “inclusão de migrantes e minorias”.
“Nós tentamos fazer com que aquilo que é temática tenha durante o ano realidade, não é por acaso que nós durante este ano tivemos cá uma série de reclusos a poderem sonhar a sua saída do estabelecimento prisional de Braga”, explica.
Os reclusos que colaboram no Presépio ao Vivo de Priscos estão já num “processo bastante adiantado” para a liberdade condicional, dá conta o padre João Torres, que diz que estes sabem perfeitamente “que qualquer coisa menos boa que acontecesse voltariam à estaca zero”.
“Perdiam esta regalia de poderem sair todos os dias do estabelecimento prisional, viajarem em transportes públicos, estarem aqui todo o dia, sem nenhuma supervisão de nenhuma força de segurança. As pessoas aqui da comunidade acolhem-nos e estão livres”, refere.
O coordenador da assistência aos Estabelecimentos Prisionais de Braga e Guimarães reforça que é “muito importante” os reclusos experimentarem a liberdade antes de saírem da prisão: “Isto é Natal, é ajudar alguém a nascer, ajudar alguém a perceber que se em determinado capítulo da minha vida as coisas não correram bem, não tem que isso significar que tenham que correr mal sempre”.
“Sem os reclusos nós nunca teríamos conseguido fazer estas construções e também nunca conseguiríamos olhar para estas pedras e sentir que elas têm aqui muita história, de gente que mudou completamente a vida”, ressalta.
Ao longo do ano, o padre João Torres assinala que é proposto aos figurantes que façam convívio com os reclusos, “que se preocupem uns com os outros”.
O Presépio ao Vivo de Priscos, conhecido por ser um dos maiores e mais autênticos presépios vivos da Europa, tem cerca de 90 cenários e mais de 600 figurantes; a emissão do Programa ECCLESIA deste dia 24 de dezembro (RTP2, 15h00) vai ser dedicada à iniciativa.
Esta recriação do nascimento de Jesus abriu no dia 15 de dezembro e pode ser visitada nos dias 22, 25 e 29 do mesmo mês e 1, 4, 5, 11 e 12 de janeiro de 2025.
PR/LJ/OC