Durante três dias, instituição coloca à disposição vários serviços como refeições, acesso ao balneário ou entrega de roupa
Lisboa, 19 dez 2024 (Ecclesia) – A diretora-geral da Comunidade Vida e Paz (CVP) afirmou que a Festa de Natal da instituição, realizada de 20 a 22 de dezembro, em Lisboa, pode ser a “semente” para a mudança de vida das pessoas em situação de sem-abrigo.
“Nós procuramos que as pessoas se sintam em família e em comunidade, mas o principal objetivo é conseguirmos reforçar os laços e conseguir motivar as pessoas para a mudança. A festa acaba por se inserir no primeiro eixo de intervenção da Comunidade Vida e Paz”, que é o de “intervenção direta”, afirmou Renata Alves, em entrevista ao Programa ECCLESIA, transmitido hoje, na RTP2.
A Cantina da Cidade Universitária vai receber a 36ª Festa de Natal da CVP, que a diretora-geral descreve como “um marco muito importante”, na medida em que a organização procura, por um lado, celebrar o Natal junto das pessoas sem-abrigo que acompanha ao longo do ano do ano, mas também de famílias e pessoas em situação de vulnerabilidade social.
“Procuramos prestar serviços nesta festa, serviços dos quais as pessoas estão privadas ao longo do ano. As pessoas podem tratar do seu cartão de cidadão, temos serviços de higiene, serviços de roupa” e as “próprias refeições”, assinala a responsável.
Os convidados da Festa de Natal vão poder também ter acesso a balneário, cabeleireiro, rastreios, consultas de medicina dentária, vacinação, apoio jurídico, espetáculos, atendimentos do Instituto dos Registos e do Notariado e do Instituto do Emprego e Segurança Social.
“Nestes três dias também temos a oportunidade de ter connosco algumas pessoas que já estiveram na situação de sem-abrigo e que também são uma referência e um exemplo e podem ajudar a que as outras pessoas possam sair dessa situação”, indicou Renata Alves.
Em 2023, a Festa de Natal recebeu 1720 pessoas em situação de sem-abrigo ou em condição de vulnerabilidade social, distribuiu mais de quatro mil refeições e mais de 10 mil peças de vestuário, números que a diretora da Comunidade Vida e Paz estima que terão um aumento de cerca de 10%.
No ano passado, a instituição promoveu uma auscultação junto dos convidados que resultou numa carta aberta a diversas entidades, onde foram apresentadas as necessidades das pessoas sem-abrigo, como ter uma morada, o acesso a balneários e lavandarias com horários alargados, sendo também a saúde um dos problemas identificados.
“Fazemos agora um balanço e percebemos que muito pouco aconteceu”, denuncia Renata Alves.
Sobre o número de pessoas em situação de sem-abrigo, a diretora-geral da CVP refere que tem havido uma diminuição, na zona central de Lisboa, justificada por ações da Câmara Municipal de Lisboa, no entanto na periferia verifica-se o contrário.
“A situação continua muito preocupante”, lamenta a responsável, que acrescenta que se não existir, de facto, “um reforço na própria estratégia, não só nacional, mas também de todos os municípios, será muito difícil”.
Sobre a realidade que a Comunidade Vida e Paz encontra na rua, a diretora refere que à instituição “chega o desespero, chega o medo, chega a sensação de abandono, chega o não existirem objetivos”.
“As pessoas estão muito desesperadas e sem esperança. E é isso que nos preocupa bastante e é isso que faz com que todos os dias não desistamos, mesmo daquelas pessoas que muitas das vezes não estão disponíveis sequer para um diálogo”, salienta.
A Comunidade Vida e Paz, organização sem fins lucrativos fundada em 1989, apoia pessoas em situação de sem-abrigo e vulnerabilidade social através de respostas como o Centro de Intervenção de Primeira Linha, Comunidades Terapêuticas e de Inserção e da Unidade de Apoio à Reinserção.
LS/LJ
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