Síria: Secretário de Estado do Vaticano espera «regime aberto a todos e que respeite todos»

Cardeal Pietro Parolin salientou que a Santa Sé «aproveita cada situação para procurar condições de diálogo»

Cidade do Vaticano, 10 dez 2024 (Ecclesia) – O secretário de Estado do Vaticano manifestou hoje preocupação pelos recentes acontecimentos na Síria, desejando que quem assuma o poder possa criar “um regime que respeite a todos”

“Penso que estamos todos preocupados com o que está a acontecer na Síria também por causa da velocidade com que se deram estes acontecimentos. É difícil compreender o que está a acontecer”, disse o cardeal Pietro Parolin, aos jornalistas, à margem de um encontro em Milão, citado pelo portal ‘Vatican News’.

No domingo, após 14 anos de guerra civil, a demolição de um monumento dedicado a Hafez al-Assad, o pai do presidente sírio Bashar al-Assad, em Damasco, capital da Síria, conquistada pelas milícias do Hayat Tahrir al-Sham (Hts), marcou o fim de uma família no poder nesta nação árabe desde 1971.

“Impressiona-me que um regime que parecia tão forte, tão sólido, num curto espaço de tempo tenha sido completamente varrido”, acrescentou o secretário de Estado do Vaticano, a nova ofensiva foi lançada pelos rebeldes a 26 de novembro.

O cardeal Pietro Parolin quer esperar para ver “que cenários se abrem”, “talvez seja um pouco prematuro antecipar”, mas, adianta que esperam que “possa ser um futuro de respeito por todos”, por isso, a esperança é que quem assuma o poder procure “criar um regime aberto a todos e que respeite a todos”.

A Santa Sé, realçou o colaborador do Papa, “aproveita cada situação para procurar condições de diálogo” mesmo sem ter “papéis formais”, e exemplificou que na Ucrânia aproveitaram “todas as ocasiões para procurar condições que permitam iniciar um diálogo e resolver um problema no sentido de um cessar-fogo”, no Médio Oriente “no sentido da libertação de reféns”, de ajuda humanitária, os âmbitos em que estão a trabalhar.

O secretário de Estado do Vaticano está em Milão para participar no encontro ‘Estudos para o diálogo. Prémio de pesquisa a Al Issa pelos estudos árabe-islâmicos’, da Universidade Católica do Sagrado Coração, onde vai ser apresentada uma bolsa de estudos sobre o tema da cultura árabe-islâmico, destinada a jovens pesquisadores, promovida pelo secretário-geral da Liga Muçulmana Mundial, Muhammad Al-Issa.

Síria_Foto AIS

Para o cardeal Pietro Parolin, “o desafio é precisamente o de colaborar” para dar uma resposta aos muitos problemas e dificuldades que o mundo enfrenta, afirmando que “há uma necessidade de recuperar a sinergia, há uma necessidade de recuperar a cooperação”, informa o portal de notícias do Vaticano.

O núncio apostólico em Damasco, no domingo, em reação ao novo poder na Síria lembrou que “aqueles que assumiram o poder prometeram que todos serão respeitados, que uma nova Síria será criada”, e espera que eles cumpram as suas promessas.

“Esses rebeldes se reuniram com os bispos em Aleppo imediatamente, nos primeiros dias, assegurando-lhes que respeitarão as várias denominações religiosas e os cristãos. Esperamos que eles mantenham essa promessa e que avancemos em direção à reconciliação e que, além da reconciliação, a Síria também encontre alguma prosperidade, porque as pessoas não aguentam mais”, desenvolveu o cardeal Mario Zenari, representante do Papa na Síria.

CB/OC

O portal ‘Vatican News’ publicou a reação de vários responsáveis cristãos no país do Médio Oriente, como o pároco de Aleppo, que assinalou que “os cristãos não são um grupo separado, são sírios, e como todos os sírios estão exaustos com a situação imposta pelo regime”.

“A Síria de Assad não conhece o desenvolvimento, a economia e a coesão social há anos. Na Síria, não se vive, se sobrevive. Esses milicianos, nos últimos anos, na província de Idlib, mostraram uma abertura diferente em relação aos cristãos, por exemplo, ao devolver propriedades confiscadas anteriormente, e agora, depois de entrar em Aleppo, enviaram mensagens muito fortes de tolerância e respeito, desenvolveu o padre Bajhat Karakach.

Já o padre Firas Lutfi, pároco dos católicos latinos em Damasco, salientou que foi “um presente que chega no dia da festa de Maria”, a Igreja Católica no domino celebrou a Solenidade da Imaculada Conceição”, e afirmou que “é o nascimento da nova Síria, depois de 53 anos de um governo ditatorial e sanguinário”.

Para o bispo dos católicos latinos na Síria, D. Hanna Jallouf, “as condições prévias parecem reconfortantes”, foi-lhes garantida a “máxima atenção aos direitos dos cristãos” numa reunião com os bispos de todas as denominações cristãs”.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, já encontrou-se com o vigário da Custódia da Terra Santa, o padre Ibrahim Faltas, em Paris (França), à margem da inauguração da restauração da catedral de Notre Dame.

 

 

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Agência ECCLESIA

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