Vaticano: Papa questiona crescimento económico de «países privilegiados», quando «metade do mundo morre de fome e de guerra»

Missa com novos cardeais apela à valorização da solidariedade e da família, apontando Imaculada Conceição como modelo de «mundo melhor»

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 08 dez 2024 (Ecclesia) – O Papa questionou hoje, no Vaticano, a indiferença dos “países privilegiados” perante as pessoas que, em várias partes do mundo, são vítimas da fome e dos conflitos armados.

“De que adiantam os altos níveis de crescimento económico dos países privilegiados, se metade do mundo morre de fome e de guerra e os outros ficam a observar, com indiferença?”, questionou, na homilia da solenidade litúrgica da Imaculada Conceição, durante a Missa a que presidiu na Basílica de São Pedro.

A celebração contou com a presença dos 21 cardeais criados este sábado, no décimo consistório do pontificado, e dezenas de membros do Colégio Cardinalício.

Francisco alertou para a “presunção de autossuficiência” que afeta a humanidade, considerando que esta “não gera nem amor, nem felicidade”.

O Papa questionou “quem exalta como uma conquista a rejeição de qualquer vínculo estável e duradouro”.

“Aqueles que não respeitam o pai e a mãe, que não querem filhos, que consideram os outros como um objeto ou um incómodo, que entendem partilha como uma perda e a solidariedade como um empobrecimento, estas pessoas não espalham alegria nem futuro”, acrescentou.

De que serve o dinheiro no banco, o conforto nos apartamentos, as falsas amizades do mundo virtual, se os corações permanecem frios, vazios, fechados? De que adianta viajar pelo mundo inteiro, se cada encontro é reduzido à emoção de um momento, a uma fotografia que, nalguns dias ou meses, ninguém vai recordar?”.

Foto: Lusa/EPA

Na celebração anual da Imaculada Conceição, Francisco afirmou que “não há salvação sem mulher, porque também a Igreja é mulher”.

A homilia abordou “três aspetos da vida de Maria”, como “filha, esposa e mãe”.

“A Imaculada é bela na sua fecundidade, ou seja, no seu saber morrer para dar a vida, no seu esquecer-se de si mesma para cuidar daqueles que, pequenos e indefesos, a Ela se agarram”, declarou o Papa.

A intervenção desafiou os católicos a ser homens e mulheres do “obrigado” e do “sim”, com palavras, “mas, sobretudo, com a vida”, para “acolher com ternura materna” todos os que se cruzam no seu caminho.

Francisco apelou à intercessão da Virgem Maria para que a Igreja viva como “uma comunidade na qual a filiação, a esponsalidade e a maternidade sejam a regra e o critério de vida: na qual as famílias se reúnam, os cônjuges partilhem tudo, os pais e as mães estejam presentes, em carne e osso, junto dos filhos”.

A Imaculada não é um mito, uma doutrina abstrata ou um ideal impossível: é a proposta de um projeto belo e concreto, o modelo plenamente realizado de nossa humanidade, por meio do qual, pela graça de Deus, todos nós podemos contribuir para mudar o nosso mundo para melhor”.

A homilia encerrou-se com uma nova palavra para os novos cardeais.

“Eles são irmãos a quem pedi que me ajudassem no meu serviço pastoral à Igreja universal. Vêm de muitas partes do mundo, portadores de uma única sabedoria com muitos rostos, para contribuir no crescimento e na propagação do Reino de Deus. Confiemo-los, de modo especial, à intercessão da Mãe do Salvador”, disse Francisco.

O dogma da Imaculada Conceição de Maria foi proclamado a 8 de dezembro de 1854, através da bula ‘Ineffabilis Deus’, a qual declara a santidade da Virgem Santa Maria desde o primeiro momento da sua existência, sendo preservada do pecado original.

Ainda hoje, o Papa preside à tradicional homenagem à Imaculada Conceição, no centro de Roma, pelas 16h00 locais (menos uma em Lisboa).

OC

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Agência ECCLESIA

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