Sacerdote denuncia ataque cruel numa capela no Burquina Fasso
O massacre continua
Durante a visita a Portugal na semana passada, a convite da Fundação AIS, o Padre Jacques Sawadogo denunciou um ataque terrorista em que pelo menos três fiéis terão sido degolados quando se encontravam numa capela em oração. O sacerdote revelou este massacre durante a apresentação, em Aveiro, do Relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, sobre os Cristãos oprimidos por causa da sua fé.
“Um grupo de terroristas entrou numa aldeia, dirigiu-se para a capela onde um grupo de cristãos se encontrava a rezar e degolou pelo menos três fiéis”, denunciou o Padre Jacques Sawadogo durante um encontro promovido este fim-de-semana em Aveiro pela Fundação AIS para a apresentação do Relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, sobre os Cristãos oprimidos por causa da sua fé. “Foi uma forma de aviso, de deixarem um sinal, para assustar os habitantes daquela aldeia, foi uma forma de aterrorizar toda a população”, acrescentou. O sacerdote, oriundo do Burquina Fasso, soube do ataque, que terá ocorrido na última semana, através de um contacto telefónico com a sua diocese, Ouahigouya, e partilhou-o ainda sem muitos pormenores com as dezenas de pessoas que assistiam na Paróquia de Vera-Cruz à apresentação do Relatório, evento que esteve integrado na Red Week, a Semana Vermelha de sensibilização da opinião pública para a questão dramática da perseguição aos Cristãos por causa da sua fé. O caso descrito pelo sacerdote é apenas um dos episódios mais recentes da violência causada por grupos armados jihadistas no seu país. “É impossível rezar em público em certas regiões, quem tentar fazê-lo arrisca ser morto, as populações estão a abandonar as aldeias e com isso, temos capelas e igrejas abandonadas, pois mesmo os que ficam já não frequentam os lugares de oração por medo dos terroristas”, explicou o sacerdote do Burquina Fasso. “Por causa desta violência”, que se tem acentuado ao longo dos últimos anos, explicou ainda o Padre Jacques Sawadogo, “já houve bispos que decidiram fechar por precaução algumas paróquias onde os padres, catequistas e leigos estarão em maior risco”. “Em algumas paróquias, ser cristão significa mesmo ser um dos alvos dos terroristas”, enfatizou. Só na diocese a que pertence o sacerdote, Ouahigouya, foram já encerradas pelo menos cinco paróquias.
“A situação é muito difícil…”
A violência terrorista no Burquina Fasso tem a sua origem na chamada Primavera Árabe, em 2011, e, entre outros acontecimentos, com a dispersão de parte considerável do arsenal de armas que existia na Líbia após a queda do regime do coronel Muammar Kadaffi. É a partir de 2015 que a violência terrorista ganha maior dimensão e quase sempre associada a uma forte componente religiosa. Tal como os Cristãos, também as comunidades muçulmanas que não subscrevem a visão radical do Islão têm estado na mira destes grupos terroristas. Os ataques têm provocado a fuga das populações, calculando-se que haverá cerca de dois milhões de deslocados internos. “Quando as pessoas abandonam as aldeias, procuram refúgio nas paróquias, nas igrejas, e nós damos-lhes comida, abrigo, roupa, às vezes até medicamentos e damos apoio às crianças para que elas possam continuar a estudar”, explicou, nos vários encontros em Portugal, o Padre Jacques Sawadogo. Em todas as ocasiões, o sacerdote sublinhou a importância da ajuda que a Fundação AIS tem dado à Igreja do seu país neste momento tão delicado da sua história. “A situação é muito difícil, mas sentimo-nos apoiados pela Igreja aqui em Portugal e em todo o mundo”, afirmou repetidamente o sacerdote, pedindo sempre as orações de todos não só pelos Cristãos perseguidos no Burquina Fasso, mas em todos os lugares onde os fiéis são oprimidos por causa da sua fé.
Lisboa, Santarém, Aveiro e Évora
Depois da apresentação formal do Relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, no Mude, o Museu do Design, em Lisboa, na quarta-feira, 20 de Novembro, a Fundação AIS promoveu encontros de divulgação do documento também nas Dioceses de Santarém, Aveiro e Évora. Em Santarém, D. José Traquina referiu mesmo ser “chocante e impressionante aquilo que está a acontecer aos cristãos em tantos países”, e agradeceu o testemunho “apaixonado” do Padre Jacques Sawadogo. O Bispo salientou também o trabalho realizado pela fundação pontifícia em Portugal e pediu que se rezasse pelas vítimas da intolerância religiosa. “Os Cristãos perseguidos são os mártires do nosso tempo e isso dá-nos também a responsabilidade de rezarmos pela liberdade religiosa. A nossa condição não é o fanatismo. É respeitando os outros que o mundo avança”, disse. Em Aveiro, D. António Moiteiro lembrou que ainda recentemente, em Outubro, a Fundação AIS tinha promovido na sua diocese um encontro de testemunho e oração com D. Bashar Warda, Arcebispo de Erbil, no Iraque, e foi ainda com essa memória fresca que alertou para a necessidade de se continuar a olhar com atenção para o que se passa nos lugares onde os Cristãos são vítimas de intolerância, são perseguidos por causa da sua fé. “Maravilhamo-nos com a fé destes cristãos, destes irmãos nossos perseguidos, que atravessam dificuldades”, disse. “Aquilo que eu vos peço”, acrescentou D. António Moiteiro, são apenas duas coisas muito simples: a primeira é a oração por estes cristãos, pois nós sabemos que a oração nos mantém, nos sustenta. E a outra é o apoio. Estas organizações” – disse referindo-se à Fundação AIS –, vivem da partilha, vivem de ajudas e é preciso que nós colaboremos, pois esta é uma realidade a que temos também de estar atentos. Fico muito contente que estes nossos irmãos da Fundação AIS tenham estado connosco uma vez mais e sabei todos que eu também acompanho o trabalho desta fundação e é importante que nós estejamos atentos aos Cristãos que sofrem.” O Padre Jacques Sawadogo esteve também em Évora, na Igreja de Santa Clara, num encontro dinamizado pelo núcleo local da Fundação AIS, e terminou ontem, Domingo, 24 de Novembro, o seu périplo por Portugal na Paróquia de Telheiras, onde concelebrou e teve a oportunidade de dar um breve testemunho e de contactar presencialmente com os fiéis. Durante a semana, mais de duas dezenas de igrejas e monumentos estiveram iluminados de vermelho, lembrando assim, de norte a sul de Portugal, que a perseguição aos Cristãos é uma realidade dos dias de hoje em muitos países e que a solidariedade para com as vítimas da intolerância religiosa deve ser uma prioridade.
Paulo Aido