A cruz escondida

Relatório da Fundação AIS avalia perseguição aos cristãos

A cor do sangue dos mártires

Os Cristãos sofrem cada vez mais violência e discriminação em todo o mundo, de acordo com o relatório ‘Perseguidos e Esquecidos?’, produzido pela Fundação AIS, cuja divulgação se insere na Red Week, a Semana Vermelha de sensibilização para o problema da perseguição aos cristãos…

A leitura do Relatório “Perseguidos e Esquecidos?” sobre a violência contra os cristãos entre o Verão de 2022 e o de 2024 deixa um sabor bem amargo. Em muitos países, a fé dos cristãos é posta à prova de forma brutal quase todos os dias. O que se passa em África é disso um bom exemplo. No período em análise, o epicentro da violência jihadista mudou do Médio Oriente para este continente e pode falar-se já num movimento islamista transnacional que tem os cristãos como um dos alvos. “A migração em massa de comunidades cristãs, desencadeada por ataques de militantes islamistas, desestabilizou-as e privou-as de direitos, levantando questões sobre a sobrevivência a longo prazo da Igreja em regiões-chave”, refere-se neste Relatório produzido pela Fundação AIS e em que são apontados diversos países como Burquina Fasso, Nigéria ou Moçambique, onde os Cristãos têm sido aterrorizados constantemente. Além da questão do jihadismo em África, o relatório ‘Perseguidos e Esquecidos?’ identifica ainda outros agentes da violência contra as comunidades cristãs. É o caso dos regimes autoritários, incluindo os da China, Eritreia, Índia e Irão, que intensificaram as medidas repressivas contra esta comunidade religiosa. Outros países, como a Nicarágua, são referenciados nomeadamente por causa da detenção e expulsão em massa do clero, incluindo todos os membros da Nunciatura Apostólica. O único país que contraria esta tendência é o Vietname, graças às medidas que têm vindo a ser tomadas para o restabelecimento das relações diplomáticas com o Vaticano e pela redução da carga burocrática para o registo de grupos religiosos.

Relatos de coragem e fé

O Padre Jacques Sawadogo, do Burquina Fasso, veio a Portugal precisamente para dar o seu testemunho de como se tem acentuado essa opressão sobre a comunidade cristã no seu país ao longo dos últimos anos. “Na minha diocese, por exemplo, o bispo foi obrigado a fechar algumas das paróquias, porque os cristãos e os sacerdotes estavam muitas vezes sob ataques terroristas. Os sacerdotes foram transferidos para outros lugares e os cristãos também foram obrigados a fugir das suas aldeias e das suas cidades, e a procurar refúgio noutros lugares”, relata o padre. A violência na região do Sahel, que inclui o Burquina Fasso e diversos outros países como o Mali, Níger ou, por exemplo, a Nigéria, afecta já milhões de pessoas. Só no Burquina Fasso, e desde há cerca de dois anos, calcula-se que mais de dois milhões de pessoas tenham sido forçadas a fugir, a abandonar as suas aldeias e vilas e cidades, vivendo agora como refugiados em campos de deslocados. Certo é que se do Burquina Fasso chegam histórias dramáticas de perseguição, também é possível escutar relatos eloquentes de coragem na fé. “Sim, apesar desta situação de perseguição e das dificuldades da Igreja no Burquina Faso, os Cristãos não deixam de ir à igreja. Continuam a fazê-lo, reunindo-se nas igrejas para rezar ou reunindo-se nas casas, onde também rezam. O que é que lhes dá essa força? Penso que é, em primeiro lugar e acima de tudo, a graça de Deus. E, em segundo lugar, sabemos que há muitas pessoas a rezar por nós. E é graças a esta vontade, a esta consciência de não estarem sozinhas no seu sofrimento, que continuam a ir à igreja, continuam a viver a sua fé”, afirma o padre Jacques à Fundação AIS. O sacerdote alerta também para a urgência do apoio à Igreja do seu país, que acaba por ser o reduto de abrigo de milhares de pessoas em fuga… “Muitos simplesmente fogem sem levar nada consigo e muitos dos cristãos que fogem das suas aldeias e das suas cidades encontram refúgio nas casas da nossa paróquia, na nossa paróquia”, diz o padre. “E precisam de ajuda.” A divulgação deste Relatório faz parte de uma iniciativa mais vasta da AIS de sensibilização da opinião pública para a questão da perseguição religiosa no mundo e muito concretamente à comunidade cristã. Para isso, ao longo destes dias, diversas igrejas e monumentos têm estado iluminados de vermelho, simbolizando assim a cor do sangue dos mártires. É um sinal de que Portugal não é indiferente ao sofrimento de milhões de pessoas por causa da sua fé.

Paulo Aido

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Agência ECCLESIA

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