Mensagem de D. António Francisco dos Santos para a semana dos Seminários

«Seminário, campo a semear e barco de amarras soltas» 1.Ao abrir o coração da multidão e a inteligência dos discípulos para o mistério da vocação, Jesus falou de campos a semear, recordou viagens de outros tempos e apontou a desconhecidos pescadores da Galileia o mar alto, convidando-os a soltar as amarras. As viagens que fazem partir da terra e abandonar tranquilos projectos para abraçar estranhas promessas de Deus, os campos a semear onde o semeador pacientemente aguarda a colheita esperada e as amarras soltas dos barcos no mar de Tiberíades em horas de faina sem êxito, lembram-nos misteriosos convites de vocação que decidiram e decidem projectos felizes de tantas vidas. É de viagem que se trata quando falamos da vocação. Uma viagem única e irrepetível. Uma viagem realizada em passos de peregrino, em campos a semear ou em rotas desconhecidas de pescadores e marinheiros, sempre de olhos colocados em longínquas paragens aonde nos conduz o chamamento de Deus. Assim aconteceu em Abraão. Assim acontece em tantos outros ao longo de tão belas histórias de vocação e de generosidade. A Igreja acolhe e assume como paradigma de vocação esta experiência de Abraão, nosso pai na fé. Deixar a terra e partir é o insistente e renovado convite de Deus na expectativa da resposta corajosa de quantos por Ele chamados se decidem a encetar esta viagem. Há quem não caminhe por medo dos horizontes distantes da terra da promessa ou desista por falta de coragem depois de tantas horas inúteis de pesca sem sucesso ou de sementeiras generosas sufocadas pelo joio e pelos espinhos do caminho! Levanta-te e caminha, diz Deus a Jeremias. Bastou ao profeta esta ordem imperativa de Deus para dissipar as nuvens que o envolviam e vencer o temor que o amedrontava. Através do profeta Jeremias, Deus trabalha o destino de Israel e modela o desígnio de libertação daquele povo com a mesma solicitude e igual engenho com que o oleiro vai modelando a argila. (cf.Jer.18,1-6). Bela missão a do profeta e do servidor da vocação esta de ser humilde oleiro a modelar a argila frágil que envolve tesouros! No início da segunda viagem apostólica, Paulo comunica a Barnabé, seu discípulo, o desejo de voltar a visitar os cristãos por todas as cidades em que anunciara a Palavra de Deus. No coração do mistério da vocação encontra-se sempre a experiência crente de Abraão, a coragem profética de Jeremias e o fascínio de Paulo pelo anúncio do Evangelho e pela formação dos discípulos de Jesus. 2.O Seminário é experiência, tempo e lugar de viagem de quem acredita e escuta a voz de Deus; é caminho de Damasco em hora de milagre, de mistério e de conversão; é campo a semear com generosidade para colher com abundância; é desafio de ousada e heróica aventura para remar em barco de amarras soltas no oceano imenso do amor de Deus pelo seu povo. O Seminário constitui no coração da Igreja o retomar constante da experiência pedagógica e espiritual da viagem vocacional e da aprendizagem da missão e do carisma do discípulo para que aí, pela oração, pela contemplação, pelo estudo e pela vida comunitária se preparem apóstolos e pastores segundo o Coração de Cristo. São múltiplos os gestos e eloquentes os sinais que creditam e revelam a atenção e o carinho da Igreja, das comunidades, das famílias e das pessoas para com os Seminários e nos dizem que devemos ter um olhar de esperança em relação ao seu futuro e à sua imprescindível missão. A mudança cultural a que assistimos e na qual queremos participar de forma consciente e lúcida diz-nos que estamos a viver na aurora de uma nova época. Os novos tempos exigem passos novos e gestos proféticos fazendo do Seminário um campo para semear com generosidade e esperança. Os Seminários precisam de estabilidade na missão e merecem de cada um de nós e de toda a Igreja afecto, oração, comunhão e generosidade. 3. Neste Ano Paulino, poucos dias depois da conclusão do Sínodo sobre a Palavra de Deus, procuremos fazer de S. Paulo o formador dos formadores e o paradigma de nosso amor a Cristo e da nossa missão de anunciar o Evangelho. Que este seja um “ano a caminhar com S. Paulo” de acordo com o belo itinerário que nos foi proposto pela Conferência Episcopal Portuguesa e da reflexão partilhada nas Jornadas de Formação das Equipas dos Seminários realizadas na primeira semana de Setembro na Casa Diocesana de Espiritualidade do Patriarcado, no Turcifal, Torres Vedras. Importa, a exemplo de Paulo, desfazer as amarras de um pensamento débil e vazio que fez disseminar nas últimas décadas do séc.xx um vulgarizada ideia de crise, de ineficácia ou mesmo de inutilidade dos Seminários, pretensamente sem sentido. Os Seminários sabem que têm no Espírito Santo a sua alma inspiradora e recebem d’Ele a sabedoria, a fortaleza e o conselho para olharmos com esperança o horizonte dos tempos novos que se aproximam. A Semana dos Seminários que agora vivemos insere-se neste horizonte de esperança em que toda a Igreja é chamada a “semear com generosidade para colher com abundância” (2 Cor. 9, 6). Ajuda-nos nesta compreensão e acompanha-nos neste esforço a colaboração sempre generosa e participada dos Seminários de Portugal e neste ano de forma particular os Seminários da Arquidiocese de Braga a quem a Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios solicitou a elaboração do presente Guião, sugestivo e oportuno, a indicar-nos propostas sustentadas de vivência espiritual e de valorização pastoral da Semana dos Seminários nas famílias, nos movimentos apostólicos e nas comunidades cristãs. 4. Que Nossa Senhora, a Estrela da Esperança, abençoe e proteja os Seminários, os seus alunos, formadores, funcionários e benfeitores e nos incentive a acolher a Palavra e a ouvir a Voz de Deus para que em cada um de nós se espelhe a alegria de ser chamado e se testemunhe a coragem de chamar. +António Francisco do Santos, Bispo de Aveiro, Presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios

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