Cristãos trabalham “com as botas enlameadas e as mãos com calos” com “pouca ou nenhuma ajuda do Estado”, D. Manuel Linda
Porto, 19 nov 2024 (Ecclesia) – O bispo do Porto, D. Manuel Linda, afirmou que a diocese está no terreno, “com as botas enlameadas e as mãos com calos, para assistir e promover os pobres”.
“Estamos a fazer tudo isto, maioritariamente, à nossa custa e com pouca ou nenhuma ajuda do Estado. Aliás, este nem sequer cumpre os compromissos que assume”, lamenta D. Manuel Linda.
A 17 deste mês celebrou-se o Dia Mundial dos Pobres e na diocese do Porto existem cerca de cinco centenas de instituições fazem parte do “tecido da solidariedade social”, disse D. Manuel Linda num encontro, no dia 15 de novembro, em Espinho.
“A Igreja nasceu com os pobres e continua a ter nestes a sua grande base sociológica, porém, isto não faz de nós uma Igreja classicista ou ideologizada, muito menos uma força político-partidária sectarista”, acrescentou o bispo do Porto.
A Igreja está “do lado dos pobres” e atua a dois níveis: assistencial e promocional. O assistencial pode “parecer a única ação, mas não é”.
Atualmente, a sensibilidade e o trabalho da Igreja com os pobres “passa muito pelo nível ou setor promocional”.
“Para isso, investimos na formação da criança, na qualidade de vida dos velhinhos, na oferta de valores aos jovens desestruturados, no apoio à união familiar, na alfabetização dos migrantes e, de forma geral, na promoção integral de todos, particularmente os mais débeis, tais como, refugiados, trabalhadores de baixo salário e vítimas de violência doméstica”, apontou D. Manuel Linda.
Apesar da “pouca ajuda do Estado”, o bispo do Porto realça que este “comprometeu-se com comparticipações de 50% nas despesas efetivas das valências ligadas à velhice. Entretanto, nunca passou dos 35 ou 37%. Repare-se: apenas se comprometeu com metade do custo efetivo e, mesmo assim, está muito longe de o atingir. Somos, portanto, altamente credores do Estado.”
A pobreza é um conjunto “de situações interlaçadas” tende “a replicar-se” e o Estado, “ao não nivelar por cima, está, efetivamente, a replicar a pobreza”.
Perante estes acontecimentos, é fundamental “agitar as águas para que todos se deem conta de que ou se procede a uma espécie de pacto de regime em favor dos pobres, ou a pobreza aumentará cada vez mais, como, infelizmente, se vem acentuando há muito tempo. E este tempo já não aceita mais o conceito do «pobrete, mas alegrete»”, finalizou o bispo do Porto.
LFS