Sínodo 2021-2024: «A Igreja tem aqui uma oportunidade de ouro para jogar novamente o seu papel relevante e de relevância no mundo» – Carmo Rodeia (c/vídeo)

Entrevistadas do Programa ECCLESIA partilham «grande esperança» que têm no documento final do sínodo

Lisboa, 18 nov 2024 (Ecclesia) – Carmo Rodeia, da Comissão Sinodal da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), e Augusta Delgado, da equipa diocesana de Setúbal, partilharam análises e aplicações do Sínodo, a partir do documento final que foi aprovado e dado à Igreja Católica pelo Papa.

“Olho para este documento com muita esperança, mas uma esperança realista, desde logo, porque vem, uma vez mais, mostrar que a sinodalidade não é uma moda, não é uma curiosidade, mas é uma dimensão constitutiva da Igreja. A sinodalidade é a forma que temos de nos entender e isso é muito importante porque está subjacente a esta ideia da escuta que não é nem uma beatice, nem uma questão relacionada com uma técnica organizacional”, disse Carmo Rodeia, esta segunda-feira, em entrevista à Agência ECCLESIA.

A segunda sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo, entre 2 e 27 de outubro, terminou com a votação e aprovação do documento final, no Vaticano, o Papa Francisco disse que “não vai haver exortação pós-sinodal”.

Carmo Rodeia, entrevistada da Diocese de Angra, que faz parte da Comissão Sinodal da Conferência Episcopal Portuguesa, sublinha que “é um documento recheado de muito mais do que boas intenções”, são orientações práticas, concretas, que “cada conferência episcopal, cada Igreja particular tem que pôr em prática”, e destacou, como carácter prático, “a dimensão da responsabilidade partilhada e do processo de tomada de decisões”.

Augusta Delgado concorda que o documento final “é uma grande esperança”, adianta que a Diocese de Setúbal estão também “a olhar para este documento com esta esperança”, e explica que “todos” são participantes deste processo, que começou em 2021, e que “tirou de uma certa comodidade” leigos e sacerdotes.

A entrevistada da Diocese de Setúbal realça que o documento final do Sínodo não é para ficar guardado e adianta que na Diocese de Setúbal “há ações que estão a ser aplicadas”, como na questão da escuta “há paróquias que as suas decisões são baseadas com a escuta que foi feita”, uma escuta sinodal, “através da oração e da intervenção do Espírito Santo é uma decisão de todos, foi rezada e que foi pensada”.

“Um outro exemplo é a realização dos conselhos pastorais paroquiais, que, neste momento, já estão a ser alargados. Não são apenas os membros que constituem aquele conselho pastoral, mas a própria comunidade que é convidada a ter esta participação”, desenvolveu Augusta Delgado, para quem é importante dar “uma maior responsabilidade aos leigos”, o que vai fazer com que eles “se sintam mais integrados e mais empenhados nesta tomada de decisão e na vida comunitária”.

“O que nós queremos, a partir de agora, como queriam os padres conciliares no Concílio Vaticano II e que, por variadas razões, se calhar, não foi possível aplicar em toda a sua plenitude, é que todos sejamos chamados à responsabilidade da missão” – Carmo Rodeia

Carmo Rodeia, da equipa sinodal da Igreja Católica em Portugal, da CEP, observa que há “sempre” o risco do documento poder a não vir a ser aplicado em alguma realidade eclesial, mas aleta que no momento atual do mundo “a Igreja também joga parte da sua credibilidade e da sua relevância”, por isso, “não pode ficar tudo na mesma”.

“No momento em que se polarizam posições, em que parece que para eu estar bem o outro tem que estar necessariamente mal, em que inclusive os órgãos de governo do mundo inteiro que eram uma esperança, como por exemplo as Nações Unidas, não conseguem ter esta relevância, na construção da paz, na construção do diálogo entre os povos, a Igreja tem aqui uma oportunidade de ouro para jogar novamente o seu papel de relevante e de relevância no mundo”, explicou, no Programa ECCLESIA, transmitido hoje, dia 18 de novembro, na RTP2.

A assembleia sinodal, cuja segunda sessão decorreu desde 2 outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

LS/CB

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) foi representada na XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.

O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, participou na segunda sessão da Assembleia Sinodal por nomeação do Papa Francisco; o cardeal José Tolentino Mendonça participou na condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé).

Estiveram também nesta segunda sessão, o padre Miguel de Salis Amaral, docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, integrando o grupo de peritos (teólogos, facilitadores, comunicadores); o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa, no grupo dos assistentes e colaboradores.

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Agência ECCLESIA

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