«Testemunhamos a dor, o sofrimento, o suor e as lágrimas de um povo que perdeu a vida» – Padre João Paulo Duarte
Barreiro, 13 nov 2024 (Ecclesia) – A Paróquia do Lavradio (Barreiro), na Diocese de Setúbal, uniu-se ao movimento solidário com Valência e enviou voluntários e material para a ajuda de emergência, com o apoio de outras paróquias e instituições/movimentos desta Igreja diocesana, empresas e comércio.
“Testemunhamos a dor, o sofrimento, o suor e as lágrimas de um povo que perdeu a vida e tudo em segundos e se sente abandonado por aqueles que institucionalmente os deveriam proteger e ajudar”, disse hoje o pároco do Lavradio, em declarações à Agência ECCLESIA.
O fenómeno meteorológico conhecido como DANA (DINA, em português) provocou causou chuvas torrenciais e cheias em diversos pontos de Espanha, sobretudo na Comunidade Valenciana, que foi afetada pelas cheias de 29 de outubro, que provocaram centenas de mortos e desaparecidos, além de elevados danos materiais.
A Paróquia do Lavradio, no Barreiro (Diocese de Setúbal), foi acompanhando a situação da população de Valência, pelos meios de comunicação social, “sempre com o desejo de poder ajudar”, quando tiveram conhecimento que um grupo de Évora “recebeu um pedido de ajuda direto de conhecidos em Valência” e constatou-se “a necessidade urgente de material para ajudar nas limpezas, bem como de voluntários”.
Com “a certeza de que era urgente a ajuda”, o padre João Paulo Duarte explica que de imediato iniciaram “o pedido de material junto da comunidade e dos vários contactos pessoais”, tentando também perceber quem tinha disponibilidade de levar esse material “o mais rápido possível” para Valência e de ajudar nas operações de limpeza.
O pároco do Lavradio salienta que tinham “urgência” em partir, “pois a ajuda necessária era imediata”, e contactaram algumas “pessoas mais próximas” da comunidade e puderam viajar dois voluntários até Valência, mas foram muitos mais os que ofereceram material e alimentos, para além do apoio de “voluntários para ajudar a carregar a carrinha”.
Em Valência, os dois voluntários da paróquia portuguesa do Lavradio – o padre João Paulo Duarte e Maria Monteiro – trabalharam “diretamente nas limpezas” da biblioteca, do mercado e do anfiteatro, entre outros sítios, e sentiram que “localmente não havia coordenação nos serviços a nível estatal”, porque cada voluntário “levava o seu material de casa e a sua mochila com os bens essenciais (comida, bebida, mascaras, luvas, gel desinfetante) para a jornada do dia”.
“Caminhámos cerca de uma hora para chegar ao local Paiport, no meio de lama e destroços. Não havia água nem luz e muito menos casas de banho, havia um cheiro nauseabundo pelas ruas que se intensificava dentro dos edifícios”, acrescentou, explicando que foram acolhidos pelo Grupo Scout Bitacora, em Valência, e tiveram o apoio no terreno dos membros do Agrupamento de escuteiros 320 de Évora.
Os voluntários da Paróquia do Lavradio estiveram em Valência de 5 a 8 de novembro, regressaram na véspera da peregrinação diocesana de Setúbal ao Santuário de Fátima.
“As intenções que colocamos junto de Nossa Senhora foram por todos aqueles que passam momentos de sofrimento nomeadamente a população de Valência, e também as populações dos países em guerra, para que sintam o amor de Jesus nos seus corações e a esperança de recomeçar, e pedimos para que o mundo seja mais unido”, partilhou o padre João Paulo Duarte.
O Papa Francisco, que no domingo renovou os apelos à solidariedade e oração, escreveu, esta terça-feira, na sua conta (@pontifex_pt) na rede social X: “Quando aprendemos a servir, cada gesto de atenção e cuidado, cada expressão de ternura, cada obra de misericórdia torna-se um reflexo do amor de Deus.”
Neste contexto, o sacerdote sadino afirma que trouxeram de Valência “um coração cheio”: “Ajudamos um pouco os nossos irmãos mas com um enorme desejo de continuarmos lá a dar as nossas vidas auxiliando no que fosse possível”.
A Paróquia do Lavradio, adianta o padre João Paulo Duarte, vai continuar a apoiar o povo valenciano, agora, vão “ajudar através da Diocese de Setúbal”, que está a dinamizar uma campanha de emergência.
CB/OC
A paroquiana Maria Monteiro, da Paróquia do Lavradio, foi para Valência por “sentir um chamamento para ajudar o próximo”, e desta experiência trouxe “tristeza” por saber que vieram embora “e a situação daquelas pessoas é muito difícil e ainda será por algum tempo”. “Apesar de tudo trago a esperança de que os gestos simples são grandiosos e mesmo que pequenos, para a dimensão da tragédia, fazem a diferença. Como prova disso trago gravado no meu coração e na minha memória os sorrisos de várias pessoas que nos agradeciam pela coragem de lá estarmos a ajudar como podíamos”, recordou. Maria Monteiro, mãe de 5 filhos, lembra também os “gestos de agradecimento”, que eram visíveis “em faixas escritas em tecidos nas janelas, como diretamente quando das janelas gritavam ‘Gracies voluntáris’, ou diretamente nos locais a trabalhar” e percebiam que eram de Portugal. “Uma grande admiração era refletida, mais ainda quando sabiam que vínhamos com o nosso Padre! Muitos eram os que pediam a bênção ao Sr. Padre a chorar. Senti que apesar do pouco que podemos fazer, foi possível partilhar com aqueles irmãos um pouco de esperança, de fé, de conforto e muito amor”, acrescentou a voluntária de 40 anos de idade. A Paróquia do Lavradio, no Barreiro, para além da ajuda dos seus paroquianos, contou com um apoio diversificado local – Café Chinquilho Lavradiense, Creche Ventos Traquinas, União de Freguesias do Barreiro e Lavradio, Drogaria Arlindo, Ninho da Bicharada, Barão e Costa – “juntaram se ainda muitos paroquianos de Santa Cruz”, e comunidade de outras vigararias da Diocese de Setúbal, como as Paróquias do Afonsoeiro, Sesimbra e de São Sebastião, o Agrupamento 1399 do Afonsoeiro. “Sabendo que todos têm as suas limitações financeiras, com o pouco de cada um juntos fazemos muito”, realçou o padre João Paulo Duarte. Neste sentido, a carrinha que viajou do Lavradio para Valência levou muito material – pás, vassouras, enxadas, baldes, tinas, botins, máscaras, luvas, sacos de lixo, álcool – mas também materiais de primeiros socorros e desinfetante, algodão, betadine, água oxigenada, pensos, e alimentos, como águas, sumos, frutas, bolachas, enlatados, papas e alimentos para animais. |