Membro da Equipa Sinodal da CEP sublinha marcas da mobilidade, urbanização e digitalização da contemporaneidade
Braga, 08 nov 2024 (Ecclesia) – O padre Eduardo Duque, membro da Equipa Sinodal da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), disse à Agência ECCLESIA que o documento final do Sínodo desafia a repensar as paróquias em contexto urbano.
“O documento é riquíssimo quando fala de três grandes marcas da sociedade de hoje, da sociedade contemporânea. Uma delas é a urbanização, ou seja, pela primeira vez nós temos a maior parte das pessoas a viver nas zonas urbanas e não nas periferias, nas aldeias, como tínhamos em tempos idos. A segunda grande característica dos tempos de hoje é a mobilidade, a qual tem de fazer pensar o tipo de paróquias que temos”, referiu o docente da Universidade Católica Portuguesa.
Para este responsável, as “linhas divisórias” das paróquias deixam de fazer sentido perante pessoas que se movimentam constantemente, pedindo ainda atenção aos que se encontram “nas fronteiras e não podem ficar no vazio”.
“Essas pessoas têm de ser olhadas, têm de ser acompanhadas por nós”, insiste o padre Eduardo Duque.
O sacerdote da Arquidiocese de Braga aponta ainda a terceira característica da “grande contemporaneidade”, que é a “digitalização” do quotidiano, inclusive da prática religiosa.
“Devemos ter atenção ao local onde temos os nossos vínculos, que haja essa conversão dos nossos vínculos para que ninguém fique de fora”, sustenta.
A assembleia sinodal, cuja segunda sessão decorreu de 2 a 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.
Francisco promulgou o documento final e enviou-o às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal, uma possibilidade prevista na constituição apostólica ‘Episcopalis communio‘ (2018).
O texto é composto por cinco partes: “O coração da sinodalidade”, “Juntos, na barca”, “Lançar a rede”, “Uma pesca abundante” e “Também eu vos envio”.
“Este documento final tem de ser lido obrigatoriamente por todas as pessoas. Se não lermos o documento, não percebemos a sua beleza e fixamo-nos em duas ou três ideias que vamos ouvindo na comunicação social”, assinala o padre Eduardo Duque.
Para o docente universitário, o texto aprovado pelo Papa é “transformador”, com várias propostas de concretização nas comunidades católicas, para viver a “verdadeira sinodalidade”.
“Aprendermos a caminhar em conjunto respeitando as diferenças de cada um dos carismas, dos ritmos, dos tempos, dos modos, dos comportamentos, etc., sem nunca discriminar, sem nunca apontar”, assinala.
O sacerdote aponta a uma “grande conversão” das formas de pensar e de relacionamento, na Igreja e também na sociedade, valorizando a “diversidade”.
A entrevista ao padre Eduardo Duque vai estar em destaque na emissão deste domingo do Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública (06h00).
O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.
OC
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