Trilhos da missão

Frei Jorge Alberto Bender, missionário franciscano

Sou Frei Jorge Alberto Bender, missionário franciscano, natural da Argentina, partilhando a mesa do banquete em Moçambique, África. O convite a “ir e convidar a todos para o banquete” é a proposta do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões 2024 e pode ser um bom começo para partilhar a minha experiência missionária.

Realizar um sonho, porquê África

Muitas vezes os nossos anseios mais profundos, as nossas metas mais desafiantes requerem espaço e tempo para se tornarem realidade. Talvez o facto de os desejar tão fortemente nos prepare para vivê-los com mais intensidade e nos permita aceitar o dom que nos deve ser dado através destas experiências. É a pedagogia que Deus tem para o seu povo e para aqueles que desejam aventurar-se pelos seus misteriosos caminhos.

Uma pergunta que se repete muitas vezes, porquê África, quando há tantas necessidades na minha própria terra? A melhor resposta é reconhecer que somos escolhidos por Deus, primeiro fomos convidados para o seu banquete e, só mais tarde, enviados para convidar a outros. Por isso, sinto que fui escolhido para estar aqui. Isto significa que se trata de fidelidade a um profundo apelo a deixar a terra e partir em missão ad gentes.

Com a ponta do pé em África        

África é um continente imensamente grande, com muitos países e uma enorme variedade de tradições e culturas. Portanto, se para dar uma opinião sobre algo diferente de nós requer tempo e humildade para o conhecer, aproximar-se da cultura africana exige ainda mais, porque é um “outro” totalmente desconhecido para nós e com uma riqueza e variedade cultural inimaginável.

A maneira mais sábia é entrar com a ponta do pé numa realidade que não conhecemos. É bom abordar com vontade de aprender e partilhar. Compreender África a partir do encontro com rostos e histórias concretas corresponde à visão da cultura africana, que confere particular relevância às relações interpessoais.

Somos elos de uma grande cadeia

Quando se começa a realizar uma tarefa, uma missão, pode-se ser tentado a pensar que se é o primeiro a “fincar a bandeira“. E, na maioria das vezes, não é assim. O nosso pequeno grão de areia é certamente um contributo valioso, pessoal, mas que se soma ao de tantos outros que nos precederam.

Na África, muitos missionários desistiram das suas vidas, da sua vida diária, para entregar a vida em atitude de serviço, terminando muitas vezes no martírio. De facto, a terra abençoada da África está repleta de túmulos de corajosos arautos do Evangelho. É por isso que é bom ter uma visão de longo alcance para ser justo e sentir-se como pequenos elos.

Como me concebo como missionário

Sem negar a minha própria cultura, sinto-me desafiado a abrir-me a realidades culturais totalmente diferentes. Um missionário ad gentes é um «homem ponte» que se desloca facilmente de uma cultura para outra, sintonizando com todos. Um homem que ajuda as culturas a conduzir o barco através de correntes globalizantes sem o virar.

Outra característica é “sair”, estar na fronteira e além dela, em fronteiras geográficas e existenciais e viver lá desinstalado e leve na bagagem.

Um terceiro traço do perfil missionário é o respeito pelo outro, no diálogo e na autenticidade. Uma característica que certamente é válida para um missionário em qualquer lugar do planeta.

Sinto que precisamos nestes tempos: ser uma pessoa versátil, que alterna a vida simples e fraterna ao lado dos mais pequeninos, com a presença e o anúncio da Boa Nova em ambientes e lugares de decisão.

Antes de concluir, há algo essencial que define o missionário: ser proclamador e testemunha de uma Mensagem que lhe foi confiada. As circunstâncias mudam, os cenários e as modalidades mudam, mas a Mensagem é sempre a mesma.

Em Parceria com a Missão PRESS (mensalmente no dia 24) 

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Agência ECCLESIA

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