Responsável católico alerta para situação de menores não acompanhados e diz que arquipélago se tornou «uma prisão sem muros» para muitos migrantes
Las Palmas, Espanha, 07 nov 2024 (Ecclesia) – O bispo das Canárias disse à Agência ECCLESIA que uma visita do Papa pode ajudar a mobilizar esforços para que o Atlântico “deixe de ser um cemitério”.
“Queremos que o Papa venha, penso que é necessário, porque quando manifestou a intenção de vir, algo se começou a movimentar. Precisamos que venha, para ver se abre uma porta de solução, sobretudo de cooperação e de generosidade, com todo o país e com toda a Europa”, sublinha D. José Mazuelos Pérez, problema das migrações, em particular de menores não acompanhados.
No início de setembro, após a visita à Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura, Francisco admitiu que pensava visitar o arquipélago espanhol, “porque há situações dos migrantes que vêm do mar para lá e gostaria de estar perto dos governantes e do povo das Canárias”.
Pelo menos 55 pessoas morreram, no final da última semana, semana, quando tentavam chegar ao arquipélago, vindas de África, em pequenas embarcações; 1800 migrantes foram resgatados.
Segundo o governo espanhol, mais de 32 mil pessoas seguiram a rota para as Canárias, desde o início do ano, um aumento de 40% face a 2023.
O bispo local realça que os barcos “estão a chegar quase todos os dias”, gerando desafios, do ponto de vista social.
“As Canárias são uma espécie prisão sem muros, porque há o Atlântico”, observa D. José Mazuelos Pérez.
O responsável católico assinala que a comunidade autónoma acompanha 5 mil menores, nos seus centros de acolhimento, mas desses há 2 mil que vão completar 18 anos em 2025, passando a responsabilidade para o Governo espanhol
“Não sabemos o que vai acontecer, quando completarem 18 anos”, adverte, realçando que as Canárias “não têm capacidade para dar resposta a tantos menores, a tantos jovens que, de repente, se encontram na rua”.
A Diocese local está a oferecer 600 refeições por dia a pessoas que deixaram os centros de acolhimento.
“Há muita gente, ordens religiosas, a cuidar de menores, de imigrantes. O que defendemos é que não bastam políticas não para ‘armazenar’ menores, mas também para dignificar esses menores com formação e fazer com que os imigrantes que já cá estão possam encontrar trabalho”, acrescenta D. José Mazuelos Pérez.
Nós propomos corredores de hospitalidade, não só com as dioceses espanholas, mas também a nível do Vaticano, com as dioceses e com os países subsarianos, procurando uma fórmula de hospitalidade, de cuidado e desenvolvimento destas pessoas”.
O bispo das Canárias considera que a resposta à crise migratória passa por “promover os países de origem” destas populações, evitando viagens perigosas em embarcações pouco seguras.
“Isso implica atenção contra as máfias, implica desenvolvimento e diálogo com os governos de origem para proporcionar formação, implica um investimento económico, mas, a longo prazo, será sempre mais compensadora do que aquilo que estamos a sofrer e, ao mesmo tempo, mais humana, porque o Atlântico ou o Sara deixarão de ser um cemitério”, sustenta.
O entrevistado pede ação conjunta dos governos da União Europeia e dos países de origem dos migrantes, que trave a chegada dos “cayucos” (barco mais pequeno que uma canoa, com um remo), e a ação das máfias.
D. José Mazuelos Pérez destaca ainda a “crise da habitação”, que também afeta a população local, pedindo a intervenção dos responsáveis políticos.
“Há muitas pessoas que são trabalhadores pobres, porque se o preço da habitação sobe, se a renda sobe, ficam na pobreza, mesmo trabalhando”, lamentou.
A 11 de outubro, o Papa recebeu em audiência privada, no Vaticano, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, que convidou Francisco a visitar as Canárias.
Segundo nota do Vaticano, durante a visita do chefe de Governo da Espanha “foram abordadas algumas questões regionais e internacionais, com particular atenção para os conflitos em curso, notando a importância de um compromisso urgente para apoiar a paz, bem como para a grave crise migratória, especialmente no Mediterrâneo e nas Ilhas Canárias”.
PR/OC