Sonho de Francisco partem de «uma comunicação que consiga ligar pessoas e culturas»
Cidade do Vaticano, 31 out 2024 (Ecclesia) – O Papa recebeu hoje os cerca de 300 participantes da assembleia plenária do Dicastério para a Comunicação (Santa Sé), e partilhou vários sonhos para a comunicação e o “kit de identidade de um bom comunicador”.
“Sonho com uma comunicação que consiga ligar pessoas e culturas. Sonho com uma comunicação capaz de contar e valorizar histórias e testemunhos que acontecem em todos os cantos do mundo, colocando-os em circulação e oferecendo-os a todos”, disse Francisco, no discurso divulgado pela sala de imprensa da Santa Sé.
O Papa sonha também “com a comunicação de coração a coração”, que se envolvam “naquilo que é humano”, que se deixem “magoar pelas tragédias vividas por tantos dos irmãos e irmãs”, e convidou os presentes “a sair mais, a ousar mais, a arriscar mais”, a não divulgarem “as suas ideias, mas a falar da realidade com honestidade e paixão”.
“Sonho com uma comunicação que saiba ir além dos slogans e manter o foco nos pobres, nos mais vulneráveis, nos migrantes, nas vítimas da guerra”, e realçou que é “urgente dar espaço aos pacificadores”, partilhando ainda que sonha com uma comunicação que “ensine a renunciar um pouco” de cada um “para dar espaço aos outros”.
Francisco indicou uma comunicação “apaixonada, curiosa, competente”, que sabe mergulhar na realidade para a poder contar, e realçou que o Evangelho é uma história de encontros, “de gestos, de olhares, de diálogos na rua e à mesa”, acrescentando que sonha com uma comunicação que possa “testemunhar a beleza dos encontros com a samaritana, com Nicodemos, com o cego Bartimeu…”.
O Dicastério para a Comunicação realizou a sua assembleia plenária, com o tema ‘Por uma comunicação constitutivamente sinodal’, entre segunda-feira e esta quinta-feira, 31 de outubro; de Portugal participaram D. Nuno Brás, bispo do Funchal, e D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal, membros deste organismo da Santa Sé.
Na audiência, na Sala Clementina do Palácio Apostólico, o Papa apresentou também o “kit de identidade de um bom comunicador”, a partir da liturgia desta quinta-feira, da primeira leitura da Missa: “Permanecei bem firmes, de rins cingidos com o cinturão da verdade, revestidos com a couraça da justiça, de pés calçados com o zelo de anunciar o Evangelho da paz.” (Ef 6,14-15).
“Vocês são chamados a uma grande e emocionante tarefa: a de construir pontes, quando tantos constroem muros, os muros das ideologias; a de promover a comunhão, quando tantos fomentam a divisão; a de se envolver nos dramas do nosso tempo, quando muitos preferem a indiferença”, desenvolveu, alertando para a “cultura da indiferença, do ‘lavar as mãos’”.
Francisco pediu aos jornalistas, comunicadores e responsáveis deste setor que “não tenham medo de se envolver, de mudar, de aprender novas línguas, de percorrer novos caminhos, de habitar o meio digital”, sempre sem fazer com que a ferramenta se torne uma “‘mensagem’, sem banalizar, sem ‘substituir’ as relações humanas, concretas”.
O Papa lembrou também a sua mais recente encíclica, a ‘Dilexit nos’ (amou-nos), divulgada pelo Vaticano, no dia 24 de outubro, e pediu ajuda para “dar a conhecer ao mundo o Coração de Jesus, através da compaixão por esta terra ferida”, a garantir que o mundo, “que sobrevive entre as guerras, os desequilíbrios socioeconómicos, o consumismo e o uso anti-humano da tecnologia, possa recuperar o que há de mais importante e necessário: o coração” (Dilexit nos, 31).
CB
O Papa que já tinha elogiado o trabalho deste organismo da Santa Sé dicastério, nomeadamente pela “oferta das mais de cinquenta línguas em que os meios de comunicação do Vaticano comunicam”, “apesar das dificuldades económicas e da necessidade de reduzir as despesas”, disse que vão ter de “ter mais de disciplina financeira”. “Devem encontrar uma forma de poupar mais e procurar outros fundos, porque a Santa Sé não pode continuar a ajudar-vos como está agora. Sei que são más notícias, mas também são boas notícias porque movimentam a criatividade de todos vós”, explicou. Francisco lembrou ainda que o Jubileu da Esperança, do Ano Santo 2025, “é uma grande oportunidade para dar testemunho da fé e da esperança ao mundo”. “Agradeço tudo o que fazem, o empenho do Dicastério em ajudar tanto os peregrinos que virão a Roma como aqueles que não poderão viajar, mas graças aos meios de comunicação do Vaticano poderão acompanhar as celebrações do Jubileu sentindo-se unidos connosco”, concluiu. No seu discurso, destacou ainda o “último dia de trabalho” de Gloria Fontana, chefe do Escritório REI (Ricerca ed Elaborazione Informazioni) do Dicastério para a Comunicação: “Espero que te façam uma festa! Depois de 48 anos de serviço. Ela entrou no dia da Primeira Comunhão, prestou um grande serviço dedicando-se a transcrever os discursos do Papa”. |