Inteligência Artificial: «Sobrevivemos a todas as outras revoluções», afirma D. Nuno Brás, para quem «a grande questão é como preservar o humano»

«Corremos este risco de a inteligência artificial nos fazer menos humanos e menos divinos», assinala responsável pelo setor dos media na Igreja Católica em Portugal

Roma, 30 out 2024 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, dos bispos portugueses, afirma que “a grande questão” sobre Inteligência Artificial (IA) “é como preservar o humano” e “não deixar que tome o lugar de Deus”.

“Nós corremos este risco de a Inteligência Artificial nos fazer menos humanos e menos divinos também. E querer assumir, querer monopolizar, querer assumir até este papel de Deus e monopolizar tudo aquilo que é humano e dirigir, de certa forma, aquilo que é humano. Isso, não podemos deixar”, disse D. Nuno Brás, membro do Dicastério para a Comunicação (DPC) da Santa Sé, em declarações à Agência ECCLESIA.

O Dicastério para a Comunicação está a realizar a sua assembleia plenária, que termina esta quinta-feira, 31 de outubro, dia em que têm uma audiência com o Papa Francisco; ‘Por uma comunicação constitutivamente sinodal’, é o tema desta reunião que começou na segunda-feira.

O bispo português salienta que a inteligência Artificial é “uma revolução enorme”, mas, a humanidade, como sobreviveu “a todas as outras revoluções” – “a revolução provocada pela Roda, ou a revolução provocada por Gutenberg, ou a revolução industrial” -, há de “sobreviver também a esta”, porque o ser humano tem “uma capacidade enorme de se adaptar”.

“Fará sangue, fará dor, causará problemas, não tenho dúvidas, mas devemos nos adaptar. A grande questão é, no fundo, como preservar o humano. Creio que, para um crente, não pode deixar de ser também esta outra questão, como preservar Deus e a mensagem de Deus, nós não podemos deixar que a inteligência artificial tome o lugar de Deus, embora a tendência seja essa”, desenvolveu o entrevistado.

D. Nuno Brás explica que a IA “terá muitas consequências filosóficas no entendimento do que é o ser humano”, muitas consequências teológicas na “relação com Deus”, como é que se vai “entender a palavra de Deus, por exemplo, a leitura da Sagrada Escritura” e irá ser usada para os estudos bíblicos, nos teólogos.

“Terá também as suas consequências teológicas, mas, sobretudo, tem consequências éticas, e estas consequências éticas são para ser tomadas a sério. Creio que todos têm esta perceção de que se está diante de uma fronteira a qual, se nós a ultrapassarmos, podemos correr o risco de criar uns monstros de que não somos capazes de ter o domínio”, acrescentou.

O presidente da Comissão da Conferência Episcopal Portuguesa para o setor dos media, que na assembleia plenária do DPC, num dos trabalhos, perguntou a uma IA “quais são as estratégias que o Vaticano deve usar para fazer um plano sobre a Inteligência Artificial”, e recebeu vários “pontos e bem estruturado”, conta que “algumas multinacionais têm pedido conselhos” à Santa Sé sobre “atitudes a ter, atitudes a evitar, escolhas no campo da Inteligência Artificial”.

“Grande parte das multinacionais têm essa perceção e é muito importante que escutem também as instâncias éticas da humanidade, entre as quais, obviamente, a Santa Sé”, acrescentou.

Participam na assembleia plenária do Dicastério para a Comunicação, para além dos responsáveis deste organismo da Santa Sé, 20 membros, incluindo D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal, e 20 consultores, especialistas, religiosos e leigos, de todo o mundo.

OC/CB

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Agência ECCLESIA

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