Responsável português «gostaria muito» de ver os meios de comunicação «a escutar, mais do que a impor agenda, mais do que a impor notícia»
Cidade do Vaticano, 30 out 2024 (Ecclesia) – D. Nuno Brás, membro do Dicastério para a Comunicação (Santa Sé), destacou a forma “muito positiva” como foi comunicado o Sínodo dos Bispos, realçando a importância de “escutar”, e adiantou que se projeta a “continuidade desta comunicação sinodal”.
“A proposta é que esta sinodalidade e esta comunicação sinodal passem a ser o método de comunicação, mesmo dentro da Igreja, para chegarmos a decisões concretas”, disse o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, dos bispos de Portugal, em declarações à Agência ECCLESIA.
D. Nuno Brás está a participar na Assembleia Plenária do Dicastério para a Comunicação, com o tema ‘Por uma comunicação constitutivamente sinodal’, que termina esta quinta-feira com uma audiência concedida pelo Papa.
Participam nesta assembleia, para além dos responsáveis do Dicastério, 20 membros, incluindo D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal, e 20 consultores, especialistas, religiosos e leigos, de todo o mundo.
Segundo o bispo do Funchal, acomunicação sinodal consiste “em escutar”, “escutar Deus que fala também através do outro”, e é importante que não esquecer isso, escutar, interiorizar aquilo que vão “percebendo ser a voz de Deus, para depois chegar àquilo que é o consenso sinodal”
“E, chegar, no fundo, a um conjunto de ideias, a um conjunto de atitudes, que possam ser assumidos por todos, como proposta, neste caso, do Sínodo, mas como proposta, depois, de conselhos pastorais, paroquiais e diocesanos, de conselhos económicos”, desenvolveu.
O presidente da Comissão da Conferência Episcopal Portuguesa para o setor dos media revela que “gostaria muito” de ver os meios de comunicação a escutar, “mais do que a impor agenda, mais do que a impor notícia, mais do que a tentar ganhar audiência simplesmente.
Esta é uma comunicação, podemos dizer, muito mais humana, e uma comunicação que procura a verdade, em vez de impor o nosso ponto de vista”
D. Nuno Brás observa que o mundo da comunicação “foi tomado por uma voracidade, por uma sede tão grande de chegar primeiro, de dizer primeiro”, que, agora, o objetivo é perguntar “como é que vai ser”, e já não basta estar em cima do acontecimento, mas querem anunciar também “como é que vai ser o acontecimento daqui por um mês”, ou como vai ser mediante as decisões tomadas.
“Deixamos de estar à escuta da realidade, passamos nós a querer impor a realidade. O cardeal Pizzaballa [ndr. patriarca latino de Jerusalém], na vigília para a paz em Gaza, dizia, ‘mesmo que nos chamem tolos, mesmo que nos chamem fracos, nós continuaremos a gritar pela paz’. Parafraseando, eu creio que podemos dizer: mesmo que nos chamem tolos, mesmo que nos chamem fracos, nós cristãos continuaremos a clamar por uma comunicação sinodal, que é muito mais humana do que as técnicas e as emergências que muitas vezes nos querem impor”, desenvolveu o bispo português.
Os trabalhos da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos terminaram este domingo, a segunda sessão desta assembleia decorreu entre 2 e 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, na sequência de um processo que começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão decorreu em outubro de 2023.
O presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais destacou a “maneira positiva” como todos aqueles que estiveram no Sínodo e que estão no Dicastério para a Comunicação “olharam para o próprio processo sinodal e para o documento que saiu”, sobretudo, “a maneira como se comunicou dentro da própria sala sinodal”.
“Agora, trata-se de continuar o Sínodo. Este foi um processo que resultou, aquilo que se está a projetar, no fundo, é uma continuidade desta comunicação sinodal”, acrescentou.
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