Professor de Aveiro trouxe aos responsáveis diocesanos a necessidade de, em educação, se adotar a postura de peregrino.
Fátima, 28 out 2024 (Ecclesia) – O professor Luis Silva realça que a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) permite aos alunos “percorrer caminhos e não apenas sobrevoar a realidade”.
“Educar não é entreter, mas fazer caminho. Não como quem sobrevoa, mas como quem se constrói em cada experiência e ajuda os mais novos a ser peregrinos em vez de adotar a postura de turista”, disse este professor de EMRC no encontro de responsáveis diocesanos.
Na teleconferência «Educadores como autênticos peregrinos da esperança – O peregrino, o alforge, o cajado e a meta», o docente de Albergaria-a-Velha sustentou que a disciplina deve ter presente “a sua identidade” para não cair na irrelevância num contexto multicultural.
“Durante muitos anos pensámos que o nosso ‘interlocutor’ de futuro seria o ateísmo. Hoje, ao contrário do que apontavam os próprios estudos, vemos que o interlocutor são hoje as diversidades religiosas e é isso que temos na escola hoje”, afirmou.
Numa sociedade que “deixa para trás a “neutralidade do espaço público”, como preconizado anteriormente por diversos autores, o desafio da “identidade da EMRC” torna-se hoje um desafio para permitir “o diálogo” com outras sensibilidades.
Lembrando que “não poucas vezes” é a EMRC o “único lugar onde os alunos contactam com o património cristão e com a figura de Jesus Cristo”, Luís Silva citou Allan de Botton para lembrar que “as religiões formulam sentidos ao todo o ser humano”, e, nesse sentido, falar de Jesus e de Deus “não tem de ser exclusivo da catequese”, mas pode e deve servir como “fundamento último da proposta de sentido” que a EMRC faz aos alunos”.
“Não há moral eficaz sem o fundamento sólido das religiões. As religiões atingem o todo das pessoas. A EMRC dá o fundamento, nunca responde aos alunos com positivismo da lei ou o ‘porque sim’. Na EMRC afirmamos que o mundo é dom e o outro é meu irmão”, desenvolveu.
Num olhar sobre a situação da disciplina, no sistema de ensino nacional, Luís Silva considerou que “é tempo de desconstruir inverdades” que foram sendo formuladas “acerca da própria Constituição da República” e do lugar “do ensino do religioso nas escolas”.
“A constituição da República nunca utiliza os termos laico nem laicidade uma única vez. O estado não defende neutralidade, mas defende, em primeiro lugar, a liberdade religiosa no artigo 41. Ao contrário da lei francesa, a lei portuguesa foi criada na certeza de que não há sociedade sem religioso”, advertiu.
Na parte final da sua intervenção o docente considerou que o “humor é muito importante em sala de aula”.
“Deus é amor, mas também é humor. A EMRC fala aos alunos de um sonho, e é com base nisso que olha o mundo e o outro”.
A despedir-se o docente convidou à repetição do «não temais», presente nos evangelhos, de modo que os docentes de EMRC levem à educação “o alforge com o essencial, o cajado, garantida que a queda não leva à errância, e a esperança, como meta”.
“Se não as levarmos à educação os nossos alunos continuarão muito a ser turistas mais do que a ser peregrinos”, completou.
LFS