Moçambique: Reação do povo e da oposição determinante para o futuro do país perante resultados das eleições

Missionário comboniano pede «Igreja profética» perante Governo «que não dialoga» e povo «com medo»

Foto EPA/Lusa

Nampula, 22 out 2024 (Ecclesia) – O padre Alberto Vieira, missionário comboniano em Moçambique, disse em declarações à Agência ECCLESIA que os moçambicanos “estão desmotivados” e “com medo” e que futuro vai depender da reação do povo e da oposição perante divulgação de resultados eleitorais.

“Agora há que esperar pelo dia 24, que é a data final para se reconhecerem os resultados oficiais. E depois, perante esse anúncio, perceber como é que o povo vai reagir, o povo e a oposição”, indica em declarações à Agência ECCLESIA.

As eleições em Moçambique, no passado dia 9 de outubro, incluíram votações para as presidenciais, legislativas e para assembleias e governadores provinciais; a Comissão Nacional de Eleições tem 15 dias para anunciar os resultados oficiais, e a expetativa é que os resultados venham a ser apresentado este dia 24.

O candidato presidencial, Venâncio Mondlane, da oposição ao governo, anunciou, mais dois dias de greve, coincidentes com os dias de apresentação dos resultados oficiais, já depois dos protestos e da greve esta segunda-feira, decorrentes da morte, no dia 19, de Elvino Dias, advogado do candidato presidencial, e Paulo Guambe, mandatário do Podemos.

O missionário em Nampula, no norte de Moçambique, fala em medo e em descrença que levou à falta de participação eleitoral, “não além dos 30%”.

“Eu falei com muitos para irem votar, apelando à participação e dizendo ser esta a forma de poderem mostrar que não estão contentes mas as pessoas acham que não a pena, porque sabem quem vai continuar no Governo e que a opinião do povo não conta. Nas eleições de 1994 as pessoas tinham esperança, vinha um mundo novo com o fim da guerra e participaram; este ano não”, relata.

“Agora estão tão desmotivados, porque dizem que votam, votam, votam, e que sempre os seus votos não vão contados. Fala-se de maneiras de simular votos e outras coisas assim. Ainda não saíram resultados finais, mas já sabemos como organizaram as coisas. É para vencerem sempre os mesmos, e vencem com o medo que incutem nas pessoas que dizem que não vale a pena”, acrescenta.

O padre Alberto Vieira diz que com este Governo não haverá diálogo para ultrapassar a situação.

“Eles vão deixar acalmar, deixar andar o povo e assumir a governação de maneira igual. Oxalá me engane mas não me parece que haja lugar para o diálogo. Estamos perante um episódio que o governo espera que passe para continuar tudo na normalidade”, lamenta.

“O povo está com medo mas ontem em Nampula esteve tudo fechado, todos aderiram à greve, até os vendedores de rua, mostrando que não estão de acordo com o que o Governo está a fazer”, explica.

O missionário comboniano lamenta que “de fora”, não tenha chegado “nada a Moçambique”,  pede que a comunidade internacional acompanhe a situação para lá de “relatórios que denunciam mas que deixam tudo igual” e que a “Igreja seja mais profética”.

LS/PR

Moçambique: Bispos católicos denunciam «fraudes grosseiras» nas eleições e pedem «coragem para diálogo» e para «repor a verdade dos factos»

Partilhar:
Scroll to Top
Agência ECCLESIA

GRÁTIS
BAIXAR