Bélgica: 600 anos da Universidade Católica de Lovaina «são marcantes não só para ela própria, mas para a Igreja» – José Miguel Silva

Jovem teólogo português destaca que visita do Papa «talvez seja um sinal profético» de que o Concílio Vaticano II «ainda está por cumprir»

Porto, 26 set 2024 (Ecclesia) – José Miguel Silva, jovem de Terras de Bouro, regressou esta quarta-feira à Bélgica e à Universidade Católica de Lovaina (KU Leuven), onde estudou entre setembro de 2022 e julho de 2024, “uma experiência marcante”, para acompanhar a visita do Papa Francisco.

“[O Papa] Dirigir-se a uma das mais antigas e importantes Faculdades de Teologia do mundo, porque a sua universidade celebra um aniversário, diz bem da importância que a teologia deve ter para a Igreja. Uma Igreja sem Teologia pode tornar-se ideologia… ou manter-se presa a tradicionalismos sem vitalidade”, disse à Agência ECCLESIA.

José Miguel Silva afirma que a “Teologia deve alimentar o viver eclesial”, e esta visita do Papa Francisco “clama por isso mesmo”.

“A Faculdade de Lovaina (ou Leuven) é por vezes considerada demasiado aberta e plural nas suas posições e currículos, sobretudo pela sua forte ligação ao Concilio Vaticano II. Talvez seja um sinal profético de que o Concílio ainda está por cumprir”, acrescentou.

A 46ª viagem internacional do Papa realiza-se entre esta quinta-feira e domingo, de 26 a 29 de setembro; Francisco visita o Luxemburgo, durante o dia de hoje, e, depois, vai para a Bélgica.

“A visita do Papa a um país é sempre um motivo de festa, para a Igreja local, mas também para a sociedade em geral. Ainda por mais com Francisco, cujas viagens se têm manifestado profundamente simbólicas e os países escolhidas por motivos muito particulares”, assinala o jovem português.

Durante a sua passagem pela Bélgica, o Papa vai visitar a Universidade de Lovaina, assinalando o 600.º aniversário do nascimento desta instituição, e José Miguel Silva, olhando para o programa, destaca que se percebe que “o catalisador desta viagem é, de facto, a celebração, a existência da Universidade Católica deste país”.

“Se o Papa Francisco marcou esta viagem com este programa, então é porque os 600 anos da Universidade são marcantes não só para ela própria, mas para a Igreja, no que ela representa”, observa o antigo estudante desta instituição.

Foto: Agência ECCLESIA/CB (arquivo, 2023)

Entre setembro de 2022 e julho de 2024, José Miguel Silva estudou Teologia Sistemática, na Universidade Católica de Lovaina (KU Leuven) para obter a Licenciatura Canónica, através de um Mestrado de Investigação (Research Master), após o Mestrado Integrado em Teologia em Braga, na Universidade Católica Portuguesa (UCP).

“Chegar aqui foi um choque: Pela língua, pela cultura, pela teologia… A verdade é que a adaptação me custou, mas aprendi imenso, sobretudo no contacto com tantas pessoas de diversas partes do mundo”, recordou, realçando que ler e estudar em inglês “abre para um mundo quase paralelo da produção teológica em língua inglesa, que é neste momento muito relevante”.

O jovem teólogo de Terras de Bouro, na Arquidiocese de Braga, explica que escolheu esta universidade por indicação do professor Dr. João Duque, “exatamente para poder ter uma experiência de teologia diferente da do sul da Europa, onde Portugal se inclui”.

José Miguel Silva conta que quando teve conhecimento desta visita do Papa pensou “logo em regressar”, porque “seria uma experiência marcante” ver Francisco nos locais onde estudou e viveu durante dois anos, e pela “oportunidade de revisitar a comunidade e alguns amigos”.

“Se olharmos para o tamanho de Leuven percebemos que é de facto uma viagem fora do comum, é como se fosse a Braga – talvez Leuven seja mais pequena – visitar a UM [Universidade do Minho]”, comparou o jovem de Terras de Bouro.

CB/OC

O programa da visita apostólica prevê sete intervenções, onde o Papa vai abordar questões ligadas ao futuro da Europa, como a paz, migrações, cultura, alterações climáticas, durante quatro dias.

“Apesar de todas essas preocupações relativamente transversais a todas as suas viagens, para quem vive na Bélgica tenho notado que o grande enfoque da viagem está sobretudo na crise dos abusos sexuais. Na Bélgica esta foi uma realidade dramática que deixou muitas marcas”, comenta José Miguel Silva.

Se é verdade que o aniversário da universidade é o motivo principal da sua viagem, a questão dos abusos tem atravessado quase todas as notícias, como se o Papa tivesse uma responsabilidade acrescida na cura de uma ferida que tem sido aberta frequentemente com reportagens nas televisões, por exemplo”, desenvolveu o entrevistado.

Sobre a questão da imigração, o entrevistado lembra que Bruxelas, capital da Bélgica, “é um aglomerado de culturas e de pessoas de diferentes países”, que muitas vezes criam “divisões e conflitos sociais”, o que se tem manifestado nas políticas e em eleições recentes, “onde a extrema-direita tem alargado a sua influência”.

“Além disso, falar de paz junto do Parlamento Europeu é sempre significativo, estando a Europa rodeada de tensões que se podem alastrar rapidamente. Visitar um dos corações da Europa pode ser uma oportunidade para relembrar este clamor pela paz e pelo bem comum, para o qual os católicos devem trabalhar ativamente”, acrescentou o jovem teólogo, realçando que uma fé sem dimensão social e política “é pouco interessante, e Francisco tem apontado isso”.

 

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