Portugal: Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz defende que propostas políticas sobre imigração devem rejeitar «tudo o que seja hostilidade»

Pedro Vaz Patto, presidente do organismo laical, fala na importância de evitar relação entre população imigrante e criminalidade

Foto: João Cunha/RR

Lisboa, 25 set 2024 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) disse, em entrevista à Agência ECCLESIA, que as propostas políticas sobre imigração devem ter implícito o “clima favorável” aos imigrantes e a rejeição de hostilidade contra população estrangeira.

“O que deve estar subjacente a todas as propostas políticas é este clima favorável a estas pessoas, quer dizer, é rejeitar tudo o que seja hostilidade em relação à imigração, portanto, todo o discurso que venha associar a imigração à criminalidade, que é uma coisa que não tem base científica”, afirmou Pedro Vaz Patto, no Programa ECCLESIA transmitido hoje na RTP2.

O responsável sublinha que os dados estatísticos não revelam a associação da imigração à criminalidade e que, da experiência da Comissão Nacional Justiça e Paz, “o imigrante típico não é uma pessoa propensa à criminalidade”.

“Pelo contrário, [o imigrante] é uma pessoa até particularmente propensa ao trabalho, à poupança, à dedicação à família e, às vezes, até por causa disso, mais facilmente é explorado, mas, portanto, isto não corresponde a uma ideia de que haja uma maior propensão do imigrante para a criminalidade do que o cidadão nativo”, salienta.

A Comissão Nacional Justiça e Paz publicou na última semana uma nota sobre as migrações, que diz ser “um bem para todos”, motivada, segundo Pedro Vaz Patto, pela sensação de que se “vai criando cada vez mais um clima de hostilidade em relação aos imigrantes”.

“Em Portugal, noutros países, são cada vez mais fortes as vozes que alimentam este clima, e queremos salientar que a imigração é um bem. É um bem para eles, é um bem para nós”, reforça.

O presidente da CNJP fala que se vai tornando cada vez mais uma evidência que os imigrantes são necessários para “o funcionamento de várias atividades económicas, desde a agricultura à restauração, ao cuidado com idosos”.

“É um contributo que estas pessoas dão para a sociedade portuguesa, também o dão de uma forma financeira”, realça, acrescentando que estudos indicam que contribuição dos imigrantes “dão para a Segurança Social é superior aos benefícios que têm do Estado português”.

Além do contributo material, Pedro Vaz Patto ressalta o diálogo de culturas “enriquecedor” que a imigração proporciona.

Para o responsável, “não basta abrir a fronteira” e aceitar que imigrantes trabalhem em empregos que muitas vezes os cidadãos nativos não querem aceitar, evidenciando, por isso, a importância dos verbos “acolher, proteger, promover e integrar”, que o Papa Francisco dá ênfase.

“Que, de facto, estas pessoas consigam não só satisfazer necessidades básicas, mas realizar-se plenamente como pessoas”, deseja.

Sobre a integração dos imigrantes, Pedro Vaz Patto refere que o contacto entre população nativa e estrangeiros é o primeiro passo a ser dado para que estes não se fechem em guetos.

O presidente da CNJP afirma que o acolhimento passa por garantir que imigrantes não sejam sujeitos a condições muitas vezes vindas a público, em que cidadãos vivem em espaços sobrelotados e sem condições.

“A resposta não é, por isso, simplesmente expulsar estas pessoas, quer dizer, é, de facto, criar condições para que o acesso à habitação não se produza desta forma”, frisa.

LS/LJ/OC

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