Migrações são área mais «dramática que a Europa enfrenta»

Director da OCPM pede formação para agentes da pastoral e espera «denúncia da Igreja europeia» A imigração africana foi o tema central do encontro anual dos directores nacionais das migrações. Viena, na Áustria, foi o palco para uma reflexão sobre os imigrantes e a responsabilidade da Igreja face aos imigrantes africanos. Um debate que vai servir de base para o trabalho que os bispos das Conferências Episcopais da Europa vão realizar em Outubro. Frei Francisco Sales, Director da Obra Católica Portuguesa das Migrações – OCPM, aponta à Agência ECCLESIA a urgência deste debate que, indica ser “actualmente a problemática mais dramática na Europa” Em Agosto mais de 270 pessoas “perderam a vida no Mediterrâneo a tentar alcançar a costa europeia”, recorda. “A Igreja já há muito que acordou para o fenómeno migratório” e tenta agora “focalizar os problemas emergentes que cada comunidade tem”, explica o director português presente no encontro. Em Viena foi abordada a directiva de retorno que o Parlamento Europeu aprovou recentemente. Os critérios para o requerimento de asilo foram discutidos com o objectivo de “passar a considerar que o risco de vida que os imigrantes têm nos seus países de origem, devido às condições de miséria e fome, seja equacionado na apreciação dos pedidos de asilo”. O Frei Sales aponta a hipocrisia existente pois os governos que não dão condições de vida e obrigam as pessoas a imigrar “são apoiados pelos Estados Unidos da América e pela Europa”. Uma necessidade constantemente abordada relaciona-se com o apelo à participação e envolvimento dos governos nesta reflexão. No encontro em Viena esteve o representante da autarquia “que está ligado aos imigrantes para esclarecer os participantes sobre o que a Áustria está a fazer” nesta área. Frei Sales sublinha que a Igreja tem de fazer a sua parte, “não como algo à parte, mas com vista à estabelecer parcerias para que os responsáveis políticos se envolvam nestas questões”. O religioso indica como resultado deste encontro anual “o reconhecimento da necessidade de investir nos agentes da pastoral das migrações e da mobilidade humana”. O Director da OCPM aponta que a missões Ad Gentes “estão praticamente ultrapassadas e a grande missão hoje é a mobilidade humana”. Ao continente europeu chegam diferentes africanos e com eles diferentes culturas. “A realidade africana é muito diversa”, expressa Frei Sales. Outra questão apontada é a necessidade de “sensibilizar as paróquias para a integração e acolhimento, valorizando competências e identidades”. Pré-conclusões que servirão de base para a reflexão sobre as migrações que os bispos europeus vão realizar na sua reunião de Outubro, em Budapeste. O Director da OCPM adianta aguardar com expectativa o documento final que os Bispos europeus irão redigir, particularmente sobre a imigração africana. “Vemos a comunidade europeia fechada como uma fortaleza sem ter em conta os dramas que as pessoas passam e os direitos fundamentais da pessoa humana”. Frei Sales espera “uma denuncia profética da igreja europeia”. O encontro de Viena agendou ainda o Congresso europeu das Migrações. Será em 2010 em Málaga e quer ser o mais abrangente possível na abordagem às migrações. “Pretende-se abordar as perspectivas políticas, económicas, sociais, pastorais, inter étnicas e ecuménica das migrações, mostrando o quão complexo é o fenómeno das migrações”. Mudar preconceitos “Os meios de comunicação transmitem ideias negativas sobre a imigração” que ganham impacto “nas reacções anti-migratórias na população em geral”. O Director da OCPM indica que as ondas de insegurança que o país sente se reflectem automaticamente na “abertura aos imigrantes”, assegurando que “esta é uma correlação evidente a nível mundial, onde Itália se destaca”. A imigração é um direito fundamental que “busca a sobrevivência”, indica, refutando a ideia que as pessoas “apenas procuram melhorar a sua vida. Trata-se de sobreviver porque se quer fugir à morte e à fome”. O director da OCPM apela à mudança de atitude dos meios de comunicação social. No entanto, Frei Sales indica que a própria Igreja também tem de mudar. “Mudar mentalidades dos bispos e pastores que estão à frente das decisões”, pede o Director da OCPM para que “as decisões não sejam letra morta”. “Produzem-se documentos bonitos mas que não são postos em prática”. Reconhecendo não ser fácil “dada a estrutura complexa da Igreja”, Frei Sales aponta ainda o “peso social e a pressão junto do mundo político que a Igreja tem”.

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