Discurso inaugural da visita defende maior justiça social e compromisso ecológico, com atenção aos direitos dos trabalhadores migrantes
Singapura, 12 set 2024 (Ecclesia) – O Papa elogiou hoje o “mosaico” pacífico de etnias, culturas e religiões em Singapura, falando perante responsáveis políticos e representantes da sociedade civil, na Universidade Nacional.
“O respeito mútuo, a cooperação, o diálogo e a liberdade de professar as próprias crenças, no respeito pelo direito comum são, condições decisivas para o sucesso e a estabilidade de Singapura, pré-requisitos para um desenvolvimento não conflitual e caótico, mas equilibrado e sustentável”, declarou, no primeiro discurso da visita, iniciada na tarde de quarta-feira.
O encontro aconteceu após a cerimónia oficial de boas-vindas a Francisco, que decorreu na ‘Parliament House’, seguida de reuniões com o presidente Tharman Shanmugaratnam, e o primeiro-ministro Lawrence Wong.
O discurso papal destacou o crescimento do país, que se tornou um centro comercial e financeiro de dimensão global, a partir de “origens humildes”.
Francisco alertou para o “risco de um certo pragmatismo e da exaltação do mérito”, que podem levar a “legitimar a exclusão dos que estão à margem dos benefícios do progresso”.
“Que seja dada especial atenção aos pobres, aos idosos – cujo trabalho lançou as bases da Singapura que hoje conhecemos”, apelou.
Num país em que 40% da população ativa é imigrante, o Papa pediu que “seja protegida a dignidade dos trabalhadores migrantes, que tanto contribuem para a construção da sociedade e a quem deve ser garantido um salário justo”.
A intervenção alargou-se para o cenário internacional, “ameaçado por conflitos e guerras sangrentas”, e para a crise ambiental, destacando as “soluções inovadoras” do arquipélago.
Singapura é um exemplo brilhante do que a humanidade pode alcançar trabalhando em conjunto, em harmonia, com sentido de responsabilidade e num espírito de inclusão e fraternidade”.
A intervenção aludiu aos temas das tecnologias digitais e da inteligência artificial, considerando “essencial cultivar relações humanas reais e concretas”.
“Que estas tecnologias possam ser exploradas precisamente para nos aproximarmos uns dos outros, promovendo a compreensão e a solidariedade, e não para nos isolarmos perigosamente numa realidade fictícia e intangível”, advertiu.
Singapura tem 5,6 milhões de habitantes e conta com a presença de várias religiões: o budismo é maioritário (26%) e os cristãos são 17%, mas os católicos representam pouco mais de 3% da população; São João Paulo II visitou a cidade-Estado em 1986.
Francisco elogiou o trabalho da Igreja local, especialmente nos domínios da educação, da saúde e da ajuda humanitária, recordando os 43 anos de estabelecimento de relações diplomáticas entre a Santa Sé e Singapura.
O Papa encorajou a minoria católica a “prosseguir a sua colaboração com todos os homens e mulheres de boa vontade, com alegria e dedicação, para a construção de uma sociedade civil sã e coesa, para o bem comum e para um testemunho cristalino da sua própria fé”.
A sessão foi inaugurada pelo presidente de Singapura, que citou a encíclica ‘Laudato Si’ (2015), de Francisco, aludindo aos desafios da transição ecológica.
Shanmugaratnam destacou ainda a importância da “solidariedade e a harmonia”, para o país.
A sessão de boas-vindas incluiu, antes dos discursos, uma cerimónia tradicional, em que o convidado de honra dá o nome a uma orquídea.
O Papa foi homenageado com um “dendrobium” branco, variedade de orquídea do sudeste asiático, onde colocou uma vara com a inscrição ‘Dendrobium His Holiness Pope Francis’.
Antes, no livro de honra do Palácio Presidencial, Francisco escreveu: “Como a estrela que guiou os Magos, assim a luz da sabedoria guie sempre Singapura na construção de uma sociedade unida, capaz de transmitir esperança”.
OC
Ainda hoje, pelas 17h15 locais (10h15 em Lisboa), o Papa Francisco preside à Missa no Estádio Nacional ‘SportsHub’, onde se esperam 55 mil pessoas.
A celebração, em inglês, vai ter orações em chinês, malaio e tâmil. Já na sexta-feira, o Papa encontra-se com bispos e sacerdotes, em privado, cumprimentando ainda os superiores religiosos de Singapura. A Conferência Episcopal da Malásia, Singapura e Brunei, criada nos anos 60 do século XX, reúne os bispos das três arquidioceses e seis dioceses da Malásia, da Arquidiocese de Singapura e do Vicariato Apostólico do Brunei. A viagem passa pela Casa de Santa Teresa, instituída em 1935 pelas Irmãzinhas dos Pobres, para o cuidado dos idosos e doentes, atualmente gerida pelo ‘Board of Catholic Welfare Services’ (Conselho dos Serviços Católicos de Assistência Social). O programa segue no ‘Catholic Junior College’, instituição pré-universitária, fundado em 1975 pela Igreja Católica local. O espaço acolhe, pelas 10h00 locais, o encontro inter-religiosos com jovens, que vai resultar num apelo conjunto. No final do encontro, o Papa desloca-se para a zona de acolhimento dos estudantes, onde dois jovens lhe apresentaram brevemente a exposição ‘Juntos na Unidade e na Esperança’ e o convidam a completar um quadro. Francisco vai cumprimentar os 10 líderes religiosos presentes no encontro, antes seguir para o aeroporto internacional de Singapura, dando início ao voo de regresso a Roma, um percurso de 9567 km e 12h35 que sobrevoa os territórios da Indonésia, Malásia, Tailândia, Birmânia, Índia, Paquistão, Afeganistão, Tadjiquistão, Usbequistão, Turquemenistão, Azerbaijão, Geórgia, Turquia, Grécia, Albânia e Itália. A 45ª visita apostólica do Papa, viagem mais longa do pontificado, iniciada a 2 de setembro, já passou pela Indonésia, Papua-Nova Guiné e Timor-Leste. |