Cinema: A América em Quatro Episódios

Processo utilizado pelas mais diversas cinematografias, mas especialmente característico do cinema italiano dos anos 60 do século findo, os filmes em episódios têm a qualidade de se tornar mais acessíveis aos espectadores, não permitindo o seu cansaço. E Jieho Lee adoptou este figurino na sua longa-metragem de estreia como realizador, «O Ar que Respiramos». À partida o filme anuncia-se como inspirado num provérbio chinês, mas, tirando a sucessão de nomes de cada um dos protagonistas – “Happiness”, “Pleasure”, “Sorrow” e “Love”, ou seja. Felicidade, Prazer, Tristeza e Amor – é de formato caracteristicamente americano. São quatro episódios com um fio condutor comum, centrado na actuação de um criminoso, “Fingers”, que exerce toda a espécie de coacção sobre os que o rodeiam. O motivo é, em geral, a cobrança de valores “devidos” pela mais diversa espécie de protecção, típica do cinema de gangsters dos Estados Unidos. Sob o ponto de vista cinematográfico o ponto mais marcante é o cuidado posto, contraditoriamente, na independência total de cada um dos quatro episódios e na sua ligação nas sequências finais, ligação esta que se obtém sem esforço, que pouco explica mas torna coerente muito do que se viu ao longo de hora e meia. Mesmo que Andy Garcia e Brendan Fraser sejam os únicos a estarem presentes nos quatro episódios e o seu trabalho seja de boa qualidade, será Forest Whitaker a merecer uma referência muito especial, num papel de extrema dificuldade a que dá um particular valor humano, em que a ambição conduz um homem a uma situação desesperada, que procura resolver com uma fuga para a frente, que só pode resultar num drama previsível. No conjunto consegue-se um retrato de várias vertentes da sociedade contemporânea dos Estados Unidos, ou de parte da mesma, em que a multiplicidade de exigências sociais leva cada um a decisões nem sempre consentâneas com um futuro realmente melhor. O ritmo de narrativa é bom; o ambiente bem construído, o que permite que o filme se veja com natural agrado. Francisco Perestrello

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