Papa Francisco terminou viagem de três dias a Díli, onde foi recebido por um banho de multidão
Amora, 10 set 2024 (Ecclesia) – Nádia Ximenes Ferreira nasceu em Portugal, mas sente-se uma verdadeira timorense, defendendo que “o mundo tem mesmo de olhar para Timor-Leste”, uma das paragens da viagem do Papa Francisco à Ásia e Oceânia, com “olhos de esperança”.
“[O mundo] não pode mesmo virar costas. Timor é um país novo, pequeno, mas com muita riqueza. E eu acho que o mundo tem mesmo que olhar para Timor dessa forma. Que pode ajudar nos recursos naturais que tem, nos recursos de jovens que de Portugal voltaram para Timor para desenvolver aquele país, acho que sim, que o mundo tem mesmo que olhar para Timor com olhos de esperança de um mundo melhor”, afirmou à Agência ECCLESIA.
Apesar de este não ser o seu país de origem, Nádia Ximenes Ferreira tem uma ligação com Timor-Leste, uma vez que a sua mãe nasceu lá.
Inocência Ximenes Neves chegou de Timor em 1976, integrando os primeiros contingentes de refugiados a chegar a Portugal e, embora a distância que separa Amora (Diocese de Setúbal) e o país asiático, manteve sempre o contacto com a nação que a viu nascer, através do contacto com a família com quem fala “muitas vezes”.
“As nossas raízes, isso não se deixa, não se esquece”, sublinha, referindo que na paróquia onde está inserida tem a iniciativa de muitas vezes mostrar a cultura timorense aos outros.
“A minha mãe faz muitas vezes comidas típicas e eu tenho amigos que especialmente gostam sempre de comer comida típica timorense”, conta a filha.
Nádia Ximenes Ferreira relata que até aos 12 anos viveu com avós e, por isso, desde cedo conviveu de perto com os hábitos culturais de Timor-Leste.
O Papa Francisco terminou hoje a passagem pelo país, onde 98% da população é católica, e segue viagem até Singapura, onde a viagem mais longa do pontificado se encerra, a 13 de setembro, depois de já ter passado pela Indonésia e Papua Nova-Guiné.
Com mais de 95% de católicos na sua população, Timor-Leste é um dos únicos países asiáticos onde a Igreja Católica é maioritária, juntamente com as Filipinas.
Por esse motivo, Nádia considera que a visita de Francisco ao território é “muito importante”, tal como Inocência que destaca o papel da religião durante a ocupação indonésia, em 1975.
“Para além de cultura e de tudo, a religião teve sempre à frente da resistência”, ressalta Inocência Ximenes Neves.
Mais de 40 anos depois, a timorense tem a esperança de um dia regressar a Timor-Leste, apesar de sentir que manteve sempre relação com o país, agora ainda mais com o desenvolvimento das tecnologias.
“Por WhatsApp vemos o que é comem e os sítios onde passeiam, é muito importante. Portanto, eu não estou desligada. Nem um segundo estou desligada da minha terra”, frisa.
HM/LJ/PR
O programa 70×7 (RTP2) do último domingo foi dedicado aos timorenses em Portugal numa antevisão à visita do Papa a Timor-Leste, no qual se incluem os testemunhos de Inocência Ximenes Neves e Nádia Ximenes Ferreira, bem como de Felícia Pereira, Leonilde Pereira e Filomena Martins, da comunidade timorense, do padre Constantino Lopes, da paróquia de Nossa Senhora de Conceição (Setúbal), local ao qual chegaram muitos timorenses, e Salomé Henriques, enfermeira que esteve em missão naquele país. |