Francisco sublinha papel da Igreja Católica para o fim da ocupação indonésia, sublinhando necessidade de reconciliação e desenvolvimento social
Díli, 09 set 2024 (Ecclesia) – O Papa elogiou hoje a “determinação e heroísmo” da população de Timor-Leste, evocando a luta pela independência no século XX e o papel da Igreja Católica para o fim da ocupação indonésia.
“Timor-Leste, que soube enfrentar momentos de grande tribulação com paciente determinação e heroísmo, vive hoje como um país pacífico e democrático, empenhado na construção de uma sociedade solidária e fraterna, desenvolvendo relações pacíficas com os seus vizinhos no seio da comunidade internacional”, referiu, no primeiro discurso da sua visita a Díli, que se iniciou esta tarde.
Na primeira visita de um Papa após a independência timorense, acompanhada por dezenas de milhares de pessoas nas ruas da capital, Francisco mostrou-se confiante de que Timor-Leste “será capaz de enfrentar as dificuldades e os problemas atuais com inteligência e criatividade”.
“Demos graças ao Senhor porque, atravessando um período tão dramático da vossa história, não perdestes a esperança e, depois de dias sombrios e difíceis, despontou finalmente uma aurora de paz e liberdade”, declarou, numa intervenção em espanhol.
O Papa recordou a visita de João Paulo II, em 1989, ainda sob ocupação indonésia, e destacou o “enraizamento na fé católica” dos timorenses como fator decisivo para a superação de “anos de calvário e sua maior provação”.
“Vocês são um povo sofrido, mas sábio, no sofrimento”, acrescentou, assumindo a necessidade de uma “purificação da memória”.
Francisco referiu-se ao período que decorreu entre a “independência declarada à definitivamente restaurada”, de 28 de novembro de 1975 a 20 de maio de 2002.
Timor-Leste, realçou, “passou por uma fase dolorosa no seu passado recente”, com “convulsões e violências”, elogiando o esforço em favor da “plena reconciliação com os irmãos da Indonésia”, atitude que, segundo o Papa, “encontrou a sua primeira e mais pura fonte nos ensinamentos do Evangelho”.
O país soube reerguer-se, encontrando uma senda de paz e o início de uma nova fase, que pretende ser de desenvolvimento, de melhoria das condições de vida e de valorização, a todos os níveis, do esplendor impoluto deste território e dos seus recursos naturais e humanos”.
Francisco quis destacar a importância de um território colocado entre a Ásia e a Oceânia e a ligação histórica a Portugal, de onde chegaram os primeiros missionários dominicanos, no século XVI, “trazendo o Catolicismo e a língua portuguesa”.
“Nascido na Ásia, o cristianismo chegou a estes remotos confins do continente através dos missionários europeus, testemunhando a sua vocação universal e a capacidade de se harmonizar com as mais diversas culturas”, acrescentou.
O Papa agradeceu a decisão de adotar a declaração que assinou juntamente com o grão-imã de Al-Azhar, a 4 de fevereiro de 2019, como “documento nacional” de Timor-Leste, incluindo-o nos currículos escolares, sob a disciplina de “Fraternidade Humana”.
A intervenção concluiu-se com uma oração à padroeira do país, a Virgem de Aitara.
“Que Ela vos acompanhe e ajude sempre na missão de construir um País livre, democrático e solidário e alegre, onde ninguém se sinta excluído e todos possam viver em paz e com dignidade. Deus abençoe Timor-Leste! Maromak haraik bênção ba Timor-Lorosa’e”, concluiu.
O encontro foi introduzido pelo discurso do presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, que falou numa “visita histórica”, nos aniversários do 25 de Abril, em Portugal, dos 25 anos do referendo sobre a independência timorense e os 35 anos da visita de João Paulo II, que “colocou a causa da autodeterminação de Timor-Leste na agenda global”.
Após os discursos, os dois responsáveis dirigem-se à entrada do Palácio para a despedida, onde Francisco abençoa um grupo de cerca de mil pessoas.
Estima-se que mais de 500 mil pessoas acompanhem a visita do Papa na capital timorense.
A celebração central da viagem vai decorrer esta terça-feira, em Tasi Tolu, o mesmo local que acolheu São João Paulo II, em outubro de 1989.
A Eucaristia presidida por Francisco, a partir das 16h30 (08h30 em Lisboa), conta com orações em português, tétum e outras seis línguas locais.
OC
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