Bento XVI reuniu antigos alunos em Castel Gandolfo

Aprovada Fundação Joseph Ratzinger/ Papa Bento XVI. Pe. Henrique Noronha Galvão esteve presente no encontro Decorreu este fim de semana em Castel Gandolfo o 30º encontro entre Bento XVI e os seus antigos alunos. Conhecido como o círculo de antigos estudantes que prepararam a sua tese doutoral junto do professor Joseph Ratzinger, os Ratzinger Schülerkreis, foram iniciados quando Joseph Ratzinger foi nomeado Cardeal Arcebispo de Munique em 1977. Este último encontro deixa uma marca decorrente dos 30 anos de história do círculo. Foi aprovada a Fundação Joseph Ratzinger/Papa Bento XVI. A aprovação na sessão plenária foi acompanhada pelo Cardeal Christoph Schönborn, Arcebispo de Viena. Munique será palco do lançamento oficial da Fundação. Marcada para 12 de Novembro de 2008 a Fundação será dedicada à promoção da teologia segundo o espírito de Joseph Ratzinger. O Conselho de Administração desta Fundação vai contar com antigos alunos do actual Papa, provenientes da Alemanha, Irlanda, Beni, Estados Unidos da América e também de Portugal, através da presença do Pe. Henrique Noronha Galvão. Outra marca deixada neste 30º encontro é a continuidade da promoção teológica, agora com o contributo de novas gerações. Foram convidados alguns estudantes, que estão ligados à teologia de Bento XVI, para se encontrarem com o Papa e apresentarem os seus projectos de investigação. Isto marca o início de uma nova geração de «estudantes de Ratzinger». Neste último encontro, estiveram presentes cerca de 40 ex-alunos do actual Papa e foram ainda convidados dois conceituados exegétas evangélicos, Martin Hengel and Peter Stuhlmacher, ambos professores na Universidade de Tubinga, onde Ratzinger leccionou durante os anos 60. Os convidados pronunciaram-se acerca da historicidade das narrativas, especialmente dos Evangelhos e Actos dos Apóstolos, que descrevem Jesus e a conciência que Cristo tinha acerca do significado da sua morte. Fé e razão A discussão ganhou especial relevo, uma vez que Bento XVI está a escrever o segundo livro sobre «Jesus de Nazaré». O Papa participou na discussão de forma franca, com uma clareza e sentido de humor que marcou toda a sua actividade de professor. A participar neste círculo Ratzinger, um retomar dos “colóquio dos Doutorandos, que o actual Papa realizava quando era professor”, esteve o Pe. Henrique Noronha Galvão, professor de teologia na Universidade Católica Portuguesa, que explica à Agência ECCLESIA o objectivo inicial seria “dedicar estes encontros a assuntos ecuménicos”. Mas, em conversa com o Papa, surgiu a ideia de “concentrar a discussão num tema que serviria para o Papa redigir o segundo volume do seu livro «Jesus de Nazaré»”, que está a ser elaborado presentemente por Bento XVI. Martin Hengel referiu-se à historicidade de Jesus. Esta é uma problemática criada a partir dos finais do Séc. XVIII. Houve várias tentativas de reconstrução histórica da figura de Jesus, “inicialmente com um optimismo que depois se veio a revelar distante da realidade, porque as tentativas de reconstrução histórica de Jesus acabaram por se revelar pouco credíveis”, aponta o professor. O Pe. Henrique Noronha Galvão centra a problemática na possibilidade de “distinguir-se, rigorosamente, as recordações históricas que podemos encontrar acerca de Jesus, são uma interpretação de fé da vida de Jesus”. Uma corrente racionalista “pretendeu retirar a interpretação de fe”. Martin Hengel indicou “ser impossível, pois todas as recordações que ficaram acerca de Jesus foram transmitidas a partir de uma visão de fé”. O professor da UCP indica ser contraditório “desligar uma visão da outra”, sendo correcta “a interpretação à luz das duas correntes”. Peter Stuhlmacher centrou-se num tema “particularmente importante para Ratzinger, pois o Papa está neste momento a escrever o segundo volume, que vai abordar a Paixão e Ressurreição de Jesus”. A segunda parte do debate abordou a forma como Jesus entendeu a sua morte, fazendo uma contra-posição com a tese racionalista. Peter Stuhlmacher defendeu que todos os indícios que se encontram nos Evangelhos mostram uma atitude de Jesus a prever o seu destino e a “dar-lhe sentido. São indícios credíveis e para serem levados a sério”. Afectividade e proximidade O Pe. Henrique Noronha Galvão dá conta que os encontros do círculo são momentos de proximidade. “Quase nos sentimos a família académica de Ratzinger”. Bento XVI comporta-se “tal como o antigo professor e são momentos de grande distracção para o Papa”, acrescenta. O professor da UCP sublinha a proximidade e a “relação afectiva que o Papa tem com cada um dos seus antigos alunos, que muitas vezes ajudou em problemas concretos”. O contacto pessoal com Bento XVI é “uma experiência gratificante, pois conserva toda a frescura de pensamento, mantendo uma participação enquanto antigo professor”. “Bento XVI marca pela profundidade do seu pensamento e pela autenticidade da sua fé, ao mesmo tempo que transmite uma grande humanidade”. O Pe. Henrique Noronha Galvão sublinha que “apesar de ser uma figura alta da intelectualidade, consegue estabelecer uma relação muito simples e directa com as pessoas”. O encontro de 2009 ficou já marcado para Castel Gandolfo e será sobre a missão. A data será similar pois “é uma altura de maior descanso e disponibilidade para o Papa”. Até lá, o segundo volume sobre «Jesus de Nazaré» que irá versar sobre a infância de Jesus e sobre a Paixão e Ressurreição, será editado.

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