Congresso da Pastoral Social começa hoje em Fátima D. Carlos Azevedo, Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, em entrevista à Agência Ecclesia, aborda perspectivas de trabalho numa área tão vasta, mas onde a Igreja está muito presente. Agência Ecclesia (AE)- Que perspectivas quer o 1º Congresso da Pastoral Social lançar? D. Carlos Azevedo (CA)- O Congresso quer rever o que tem sido feito ao longo de 25 anos. Importa avaliar esse processo percorrido. Mas esta é também uma oportunidade para conhecer a realidade presente, que sabemos complexa e problemática e ver os caminhos que o futuro no pede. Contamos por isso, com especialistas e com uma análise que está a ser feita sobre todos os centros sociais e paroquiais, da responsabilidade da Universidade Católica Portuguesa. Este trabalho vai também permitir pensar e articular aquilo que será a pastoral da Igreja nos próximos tempos. Importa também fazer uma interpretação coerente e lúcida das causas dos contextos socioeconómicos, das causas políticas do neo-liberalismo que impera, das causas culturais típicas da pós modernidade e encontrar as respostas adequadas e prontas, que são também uma exigência daquilo que poderíamos dizer é uma sã teologia política. AE – Fazendo memória destes 25 anos de história da Pastoral Social, como tem sido a intervenção da Igreja? CA – Existe uma enorme quantidade de Centros sociais e paroquiais com valências para crianças e para a terceira idade que nem conhecemos na totalidade. Quando ninguém ainda pensava em instituições semelhantes, a Igreja inventou-as e foram assumidas pela sociedade. Talvez os tempos novos que vivemos exijam uma outra perspectiva de vida. Esta mensagem é uma permanente atenção à realidade, com adaptação, inovação e criatividade. Percebe-se uma prisão a fórmulas já criadas, estereotipadas e é necessário ter esta consciência da mística que deve estar presente no terreno. AE- Então as soluções antigas estão ultrapassadas? CA – Exactamente. Deus não é indiferente ao mundo. As comunidades cristãs, não tanto um padre que é muito sensível a esta dimensão económica ou um leigo que tem carisma, mas as comunidades cristãs devem ser implicadas na sua formação e atenção a esta dimensão social e política. Isto exige que estejamos mais atentos às pessoas do que ao Estado. O Estado é uma máquina de conflitos de interesses e de administração desses conflitos na sociedade moderna. À Igreja importa mais relacionar-se com a nação e o povo, com a realidade concreta e interpelar as autarquias e o Estado nesta organização para que tenha em conta as realidades que por vezes esquece. Este é também o papel da acção social da Igreja. Não é fazer tudo ou ser uma contra sociedade, mas chamar a atenção das pessoas responsáveis para que tenham em conta estas situações e possam colaborar com as comunidades cristãs na resolução dos problemas. AE- Como tem sido a relação Igreja-Estado e de que forma pode ser melhorada? CA – Tem havido momentos mais felizes e outros mais tensos, como é próprio de uma relação normal. Está a ser reactivada uma estrutura de diálogo entre os ministérios implicados e a Conferência Episcopal e a Comissão. Há um bom augúrio de entendimento a bem daqueles que queremos servir. AE- O rótulo Igreja impede uma colaboração mais vasta? CA – Penso que não. Com independência, com projecto próprio e identidade e com qualidade nos serviços, só por miopia governamental é que não haverá apoio. Muitas vezes há um desentendimento por não acertarmos critérios e não termos presente aquilo que queremos. Houve um crescimento de instituições às vezes sem medir o alcance da perna. É necessário que se tenha consciência que se as comunidades cristãs querem praticar a caridade e querem manter instituições têm de as manter, não à custa dos outros. AE- Trata-se de cortar com a dependência estatal? CA – Houve demasiada dependência do Estado. Claro que todos somos dependentes uns dos outros, mas temos de ser dependentes com liberdade. E é isto que o futuro vai pedir. Que haja uma dependência mas, conjundando-a com a liberdade. AE- Com algumas questões consideradas fracturantes na agenda política, como vai actuar a Comissão Episcopal? CA – A função essencial da Igreja não é moral, é de transformação de vida das pessoas segundo o critério do Evangelho. Será necessário um caminho de abertura de diferença para que, mesmo que a nível exterior os valores sejam postos em causa, as comunidades cristãs não se desorientem com isso e possam dizer que as propostas que se fazem, são propostas de maior felicidade e maior qualidade de vida para todos. AE- Que marca quer imprimir na Comissão? CA – Importa intervir num processo que seja orquestral, que tenha em conta a coordenação, a coerência e a concentração de esforços. Importa que as melhores iniciativas possam ser avaliadas e propostas para os outros, numa partilha de experiências. Importa que se crie esta mística cristã em todos, porque estar com os pobres e excluídos é uma opção difícil, que implica avanços e recuos, lamentos, frustrações. Mas proporciona também uma alegria muito sólida porque se descobre muita humanização. As pessoas tornam-se mais humanizadas e isso é importante. AE – Procurando respostas diferentes? CA – Importa não fazer só coisas, mas também reflectir. A reflexão a partir do levantamento que está a ser feito pela UCP, vai exigir também caminhos de adaptação nas instituições, de reendereçamento para outras valências, que não as que foram inicialmente traçadas porque a realidade já não precisa. Vamos fazer aquilo que ainda ninguém faz. A recolha de dados está ainda a ser feita. Este é um trabalho exigente. Na Igreja Portuguesa nunca temos dados sobre nada porque as pessoas não respondem. AE – Amadorismo? CA – Falta de organização. Nunca temos dados porque não somos exigentes. É preciso imprimir uma cultura de exigência dentro das próprias instituições, também para que as dioceses conheçam o que têm e para ser mais fácil saber o que há no país. A informação eficaz dá-nos conhecimento do conjunto, para descobrir os potenciais em ordem ao futuro.