Padre Mário de Sousa encerra ciclo de entrevistas sobre os quatro Evangelhos, com nova tradução em português
Portimão, 26 ago 2024 (Ecclesia) – O padre Mário de Sousa, coordenador da comissão responsável pela nova tradução da Bíblia, promovida pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), sublinha que o Evangelho de João, o quarto, sublinha particularmente a “divindade” de Jesus.
“De todos os Evangelhos, o de João é o mais claro, na autodeclaração e na declaração de várias personagens, da divindade de Jesus”, refere o especialista, que apresentou nos quatro domingos de agosto os textos dos Evangelhos, em entrevistas ao Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública.
O sacerdote recorda que a condenação a morte de Jesus, por parte dos judeus, se deve ao facto de se “declarar Filho de Deus”.
O prólogo do Evangelho surge, nesta nova tradução, com o texto “No princípio era a Palavra e a Palavra estava junto de Deus e a Palavra era Deus”.
“O texto diz que Jesus é a palavra”, assinala o presidente da Associação Bíblica Portuguesa, acrescentando que a expressão “no princípio” remete para o Livro do Génesis.
“Dizer que Jesus é a palavra de Deus é dizer que Jesus é a expressão exterior da vida íntima de Deus”, precisa.
A força desta palavra, acrescenta, surge na ressurreição de Lázaro, relatada por São João.
“Jesus não faz mais nada. Apenas diz. E esta palavra é de tal maneira poderosa que realiza aquilo que significa”, observa o entrevistado.
O padre Mário de Sousa realça que, na narrativa do quarto Evangelho, “Jesus realiza sinais, precisamente para dizer que aquele ato remete para algo muito mais profundo e algo muito mais importante”.
O texto refere três Páscoas na vida pública de Jesus, um dado exclusivo de São João, que aponta a centralidade deste momento, simbolizando que “o culto antigo passou”.
“Aparece uma nova contagem do tempo. Ou seja, a festa que verdadeiramente importa não é a Páscoa judaica, mas aquilo que Jesus realizou”, precisa o sacerdote.
A comunidade cristã, prossegue, inicia uma “outra contagem do tempo, no primeiro dia da semana”, celebrando a ressurreição de Jesus.
Começou um novo tempo em que Jesus se manifesta de uma outra forma: já não está limitado a um espaço, como os judeus pensavam, ao templo, mas manifesta-se sempre que os seus discípulos, a comunidade dos seus discípulos, se reúnem no primeiro dia da semana”.
O quarto Evangelho coloca Jesus em diálogo com “aqueles que andam longe”, como acontece no caso da Samaritana, num território “proibido a um bom judeu”.
“Jesus encontra-se com aquela mulher na sua história, no seu pecado, na sua miséria”, sublinha o padre Mário de Sousa, para a “ajudar a levantar-se e a recuperar a sua dignidade”.
A comissão nomeada pela Conferência Episcopal Portuguesa vai lançar a 1 de outubro o texto revisto do Evangelho de João, que integra observações e propostas recebidas desde o lançamento da primeira versão, em 2019; as novas versões da tradução dos Evangelhos de Marcos e Mateus foram lançadas, respetivamente, em julho e agosto, sendo a de Lucas apresentada a 1 de setembro.
“O facto de estarmos agora a fazer esta revisão dos textos não significa que eles sejam textos ou traduções fechadas. Continuam online, no site da Conferência Episcopal, para que as pessoas possam lê-los, possam saboreá-los e nos façam também continuar a chegar as suas achegas sobre determinadas expressões que não se entendem bem”, refere o coordenador da comissão responsável pela nova tradução.
O processo remonta a 2012, quando a CEP decidiu promover uma tradução da Bíblia para uso oficial da Igreja Católica em Portugal, formando uma comissão que inclui bispos, membros da Associação Bíblica Portuguesa e os diretores dos secretariados da Comissão Episcopal de Liturgia e Espiritualidade e da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé.
Desde agosto de 2021, um novo livro da Bíblia é disponibilizado mensalmente para download no site da Conferência Episcopal Portuguesa e divulgado pela Agência ECCLESIA.
OC