EUA: Bispo de Angra afirmou que Festas do Divino Espírito Santo em Fall River «recompõem profeticamente humanidade nova, fraterna e universal» das comunidades cristãs das origens

«Nestas festas, dizemos mais ‘nós’ do que ‘eu’, o encontro entre cristãos não gera só um belo coletivo» – D. Armando Esteves Domingues

Massachusetts, EUA, 25 ago 2024 (Ecclesia) – O bispo de Angra afirmou que “o Espírito Santo é de todos, rompe mesmo algumas aparentes barreiras criadas pela tradição ou leis canónicas”, este domingo, nas Grandes Festas do Divino Espírito Santo da Nova Inglaterra, em Fall River (EUA).

“A devoção e costumes próprios destas festas, mostram como o Espírito Santo é de todos, rompe mesmo algumas aparentes barreiras criadas pela tradição ou leis canónicas. Como naquele dia de Pentecostes, precisa-se uma fé genuína que ilumine a vida e o agir; uma fé que mostre uma Igreja que, como nas origens, seja capaz de sair das portas do templo e ter uma linguagem inclusiva e percebida por todos”, disse D. Armando Esteves Domingues, este domingo, dia 25 de agosto, na igreja do Espírito Santo de Fall River, no Estado norte-americano de Massachusetts.

Na homilia, enviada à Agência ECCLESIA pela Diocese de Angra, o bispo português explicou que “muito da evangelização” passa hoje pela dimensão cultural e dialogante, “pela escuta do outro e daquilo que pode trazer ao bem de todos”, e acrescentou que, “embora aberta a todos, a Igreja será sempre uma Igreja do testemunho contra a corrente”.

O bispo da Diocese de Angra salientou nas Grandes Festas do Divino Espírito Santo de Fall River há ainda uma dimensão que intitulou de “trinitária”, referindo-se à “sinfonia de reciprocidade de dons”, e afirmou que “a sociedade precisa desta lógica trinitária para se humanizar”, de uma espiritualidade transbordante que não dê lugar a discriminações, “não admita a pobreza, a miséria, a fome ou as desavenças”.

“Se existem pobres e miseráveis, sentam-se à mesa connosco, são coroados por nós e envolvidos numa fraternidade sem limites de crença, raça ou condição social”, acrescentou, destacando que estas festas do Divino Espírito Santo “recompõem profeticamente aquela humanidade nova, fraterna e universal que caracterizou as comunidades cristãs das origens e deveria iluminar as atuais”.

Foto: Igreja Açores

O responsável diocesano explicou que Jesus ensinou o amor ao próximo, “a potência do amor recíproco e a responsabilidade social do crente comprometido” e deixou as marcas “deste encontro entre Deus e o homem”.

“Nestas festas, dizemos mais ‘nós’ do que ‘eu’, porque o encontro entre cristãos não gera só um belo coletivo, permite o encontro com o Senhor Ressuscitado que nos prometeu o seu Espírito Santo e nos faz “um só como Ele e o Pai”, realçou na homilia da celebração presidida pelo bispo de Fall River, D. Edgar da Cunha.

D. Armando Esteves Domingues explicou que o universo inteiro participa do “dom do Espírito Santo”, que, por caminhos impensáveis, “percorre a história do mundo”, toda a realidade está “imersa no oceano de amor do Espírito”.

“O mundo de que falo não é um mundo de fantasia, é o nosso mundo, com as suas tragédias, os seus dramas, as suas esperanças… É o mundo vítima da grande tentação de ser autossuficiente, vítima do orgulho coletivo que pretende marginalizar Deus, acreditando sentir-se mais livre. É o mundo que deseja a justiça, o verdadeiro progresso, a paz, que tem consciência dos seus vazios e insuficiências, que experimenta a sua fragilidade e o seu sofrimento.”

Segundo o bispo da Diocese de Angra erra-se “sempre” que se quiser fazer das estruturas da Igreja “algo meramente humano, sem Espírito Santo”, e indicou que é preciso fazer como o povo açoriano e como nas Grandes Festas do Divino Espírito Santo de Fall River: “falar do Espírito Santo, festejá-lo com espontaneidade, verdade e sentimento, fazê-lo de nossa casa e do mundo”.

Foto: Igreja Açores

Este sábado, dia 24 de agosto, o bispo de Angra presidiu à bênção das insígnias e dos alimentos da festa do Divino Espírito Santo de Fall River, a organização distribuiu 366 ‘pensões’ de carne, pão e vinho a famílias carenciadas da comunidade portuguesa.

“Cabe-me a mim a bênção destes dons que servem para a  nossa mesa e que alimentam também os outros. Olhando para estes alimentos- o pão, a carne e o vinho-  apetece dizer: obrigado meu Deus por todos os dons que nos dais todos os dias”, disse D. Armando Esteves Domingues, que preside a esta festa e participa pela primeira vez.

“Invocamos a bênção de Deus para estes alimentos mas a grande bênção de Deus é o homem. Somos nós que pegamos neste pão e neste vinho, somos nós que os distribuímos,  somos nós que somos capazes de o agradecer e de o distribuir, e ao distribuí-los eles multiplicam-se cem vezes mais ou no nosso bolso ou no bolso dos outros.”

“É uma honra sentir-me convidado pela primeira vez. Peço que sejamos em nome de Deus instrumento de fraternidade e de alegria”, concluiu o bispo português.

As festas ao Espírito Santo de Fall River realizam-se desde 1986, e reúnem grande parte da comunidade luso descendente de toda a costa leste dos Estados Unidos da América.

“É impressionante como me sinto em casa, como se efetivamente fosse mais uma ilha do nosso Arquipélago”, disse o bispo de Angra.

As Grandes Festas do Divino Espírito Santo da Nova Inglaterra em Fall River são, porventura, “as maiores festas religiosas da comunidade açoriana residente na costa leste” dos EUA, incluem um desfile etnográfico, o bodo de leite, a distribuição de pensões e a Missa com coroação, salienta o portal online ‘Igreja Açores’ da Diocese de Angra.

CB

 

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