Viver a romaria da Senhora da Agonia é dar testemunho da fé cristã

Participar na romaria de Nossa Senhora da Agonia e nas suas procissões é uma «manifestação da autenticidade cristã» que há-de conduzir a uma «conquista da paz pela vitória sobre o egoísmo». A mensagem é de D. José Pedreira na homilia da celebração eucarística, na qual participou D. Joaquim Alves, Bispo de Vila Real, que antecedeu a procissão ao mar e ao rio e que juntou alguns milhares de pessoas que, das margens do Lima, saudavam a imagem da Virgem dolorosa com palmas e lenços brancos. O Bispo de Viana do Castelo disse que celebrar a Senhora da Agonia é «motivo para reflectir sobre os contrastes da sociedade» actual, alertando a consciência de cada cristão para que «ninguém sofra por minha causa», apelando a um empenho para banir as «inimizades» e não permitir que o mal subsista na pessoa e à sua volta. A festa cristã, disse o Prelado na missa, pela primeira vez, campal frente à capela de Nossa Senhora da Agonia, «merece um esforço sério de fidelidade à fé e à tradição e, ao mesmo tempo, carece de uma renovação para corresponder às raízes que lhe deram origem». No dia da gente do mar, em que o Prelado lançou a bênção sobre os barcos, o rio e o mar, o espaço de ganha-pão diário dos pescadores, o desafio é que todos reconheçam no sofrimento de Cristo a libertação de toda a humanidade e que, hoje, possam ser apóstolos desta Boa Nova por palavras e por actos. Enquanto decorria a celebração a azáfama na doca intensificava- se e tornava-se demasiado barulhenta fruto de uma má coordenação entre a Confraria e a Comissão de Festas, a tal ponto que no cais, apesar da aparelhagem sonora ninguém ouviu nada do que o Bispo disse porque as músicas e os reclames das diversões se sobrepunham. O “Sempre em Frente”, de Zé Poita, foi a embarcação escolhida para, 40 anos depois, levar o andor de Nossa Senhora da Agonia que apesar de já ter embarcado nele diversas vezes «é sempre uma emoção levar a imagem de Virgem», confessa o “patrão”. Sem olhar aos custos que «ainda são elevados», Zé Poita diz que é «por devoção» que continua a levar o andor e frisa que, cada vez que vai ao mar, ao sair da barra, se benze ao passar diante da capela de Nossa Senhora da Agonia, pedindo protecção e bom fruto da faina. A bordo do “Sempre em Frente” seguia também a Maria do Mar, uma bebé de poucos meses e que é o mais novo membro da família. Centenas de embarcações engalanadas, sempre poucas para tantas pessoas que querem participar e ter a experiência de ir ao mar e ao rio, fizeram o percurso entre a barra e a ponte metálica para regressar à doca. De novo em terra os andores percorreram as atapetadas e coloridas ruas da Ribeira onde, de varandas engalanadas, eram lanças flores e papelinhos coloridos sobre o andor de Nossa Senhora da Agonia aos ombros de pescadores. Quarenta anos de procissão ao mar A embarcação pesqueira “Senhora da Agonia” foi a primeira a levar ao mar e ao rio o andor de Nossa Senhora da Agonia há 40 anos atrás quando, pela primeira vez, os homens do mar puderam concretizar este anseio de longa data. Manuel Passos, cuja alcunha do mar é “Pirolas”, aos 81 anos, juntamente com a esposa Isaura Sousa, recordam aqueles «primeiros doze anos» em que levaram consecutivamente o andor ao mar, num tempo em que «as despesas eram muitas e o trabalho também». Manuel Passos diz que só deixou de levar o andor da Senhora ao mar porque vendeu a embarcação, mas na voz ainda hoje se nota a emoção da honra desse serviço à comunidade piscatória de Viana. «Foi o Manel Labrego – conta – da Comissão que veio a minha casa dizer-me que por ter o barco “Senhora da Agonia” ia levar o andor» quando começou esta tradição recente porque antes a Ribeira via passar o andor da Senhora na procissão à cidade. Isaura Sousa recorda que se «começava a trabalhar muito antes» das festas porque era preciso «encalhar» o barco para o «pintar todo». Depois, com o contributo de Amadeu Costa, «amassavamos o barro à mão» para espetar «as flores que o meu sobrinho trazia do Porto» e nesse tempo ficavam por uma pequena fortuna «sempre às minhas custas», diz orgulhosa desse passado segurando na mão a fotografia do “seu” barco engalanado numa das saídas ao mar com o andor. «Naquele tempo os barcos iam muito mais bonitos do que agora», reconhece. A procissão ao mar está directamente ligada à vida da Ribeira vianense, que neste dia atapeta a preceito as suas ruas para acolher o andor da Senhora da Agonia, vindo do cais em direcção à capela. Ao final da manhã de ontem, algumas pessoas ainda trabalhavam para finalizar o extenso tapete da rua Frei Bartolomeu dos Mártires. José da Conceição, que “comanda” este grupo de pessoas que dobrou a noite a trabalhar, diz que o projecto era mais ambicioso, mas os custos limitaram-no. «Queriamos fazer em sal a reprodução do retrato do Beato Bartolomeu dos Mártires», o Santinho para as gentes da Ribeira, mas os «cerca de 600 euros» que pediram pelos moldes, fizeram com que o tapete, apesar de bonito e colorido, se quedasse por umas flores e uns cálices com a hóstia, tudo feito com sal, em diversas cores e um pouco de serrim, este cada vez mais difícil de arranjar. José da Conceição diz que há 20 anos é sempre o primeiro a «deitar mãos à obra» e depois vai esperando pelos demais que se lhe juntam na confecção do tapete. «Nunca se sabe quantos vêm», diz enquanto vai fazendo a contabilidade deste ano para concluir que colaboraram mais de 25 pessoas.

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