Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos está na Madeira para assinalar os 500 anos da cidade do Funchal e presidiu a eucaristia Caríssimos Irmãos e Irmãs em Cristo Foi com muita alegria que recebi o convite do Senhor Bispo D. António Carrilho, para vir celebrar convosco o jubileu dos 500 anos da cidade do Funchal. São certamente cinco séculos repletos de motivos para fazermos festa e para sermos gratos ao Senhor. Apresento os meus sinceros parabéns ao Senhores Bispos, às Autoridades civis e a todo o querido povo da Madeira, e faço votos para que Deus nosso Senhor derrame com abundância sobre vós graças de prosperidade e de paz. É com imenso prazer que vos transmito a saudação muito cordial do Santo Padre, o Papa Bento XVI, que me pediu para vos dizer que nestes dias reza por vós, e me encarregou de vos dar a sua Bênção Apostólica. Vou dá-la a todos vós no final desta santa Missa juntamente com os Senhores Bispos aqui presentes. Não podemos esquecer, nesta circunstância festiva, a visita que o Papa João Paulo II fez a esta cidade do Funchal no dia 12 de Maio de 1991, e que muitos de vós recordarão ainda com grande emoção. Com certeza, ele está espiritualmente presente aqui, dando graças a Deus connosco. Nesta mesma ocasião, agradecemos ao Senhor, e louvamo-Lo, pelos quase 500 anos da fundação desta Diocese do Funchal, que se completarão já em 2014. Na verdade, a cidade e a Diocese partilham a mesma história desde os seus inícios. Dizem-nos os historiadores que, quando as autoridades decidiram povoar estas terras, entre as primeiras construções que aqui se ergueram, contavam-se já uma Igreja e o convento de Santa Clara: sinal claro de uma fé cristã nunca separada da vida concreta das pessoas nem dos acontecimentos da sociedade em que viviam. E quando o Papa Leão X estabeleceu a Diocese do Funchal no ano da graça de 1514, confiou-lhe a jurisdição e a evangelização de todas as terras já descobertas ou ainda a descobrir pelos portugueses. O Funchal era então a cidade onde paravam os barcos dos missionários que, saindo do porto de Belém, em Lisboa, se dirigiam para África e para o Oriente levando a Boa Nova de Jesus Cristo nosso Senhor. Pelo Funchal terá passado o grande apóstolo das Índias, São Francisco Xavier, a caminho do Oriente, como também muitos missionários e missionárias que, totalmente conquistados por Cristo, queriam partilhar a fé cristã com todos os povos que iam encontrando à medida que avançava a grande epopeia dos Descobrimentos. Foi assim que a Diocese do Funchal chegou a abranger os Açores, o Brasil, a África e todo o Oriente, incluindo até a minha amada pátria, a Índia! Ora, se ainda hoje muitos vivem e crescem na fé cristã nessas terras longínquas, o devemos aos vossos antepassados e àqueles navegadores corajosos e missionários totalmente dedicados a Cristo e à sua Igreja, que trouxeram até nós o evangelho de Jesus Cristo. É graças a este espírito missionário que tantas pessoas na África, na América Latina e na Ásia, têm hoje a alegria de viver a fé cristã e de pertencer a esta grande familia que é a Igreja católica. Bem hajam! Por isso, venho hoje ao meio de vós como peregrino, enquanto prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, mas também em nome de milhares de cristãos dos continentes africano, americano e asiático, e em meu nome pessoal, para agradecer a Deus pelo dom de fé cristã que recebemos graças à coragem, ao zelo e aos sacrifícios heróicos de tantos missionários e missionárias que nos trouxeram o Evangelho de Jesus passando aqui, por esta cidade do Funchal. Estes missionários viajavam com o fervor dos primeiros Apóstolos, animados pelas palavras que Jesus dissera no Monte das Oliveiras antes de subir ao céu: “Ide pelo mundo inteiro, e anunciai a Boa Nova a toda a criatura” (Mc 16:15). O Apóstolo São Paulo, escrevendo a Timóteo, na segunda leitura da Missa de hoje, apresenta-nos o plano de Deus para que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da Verdade. Naturalmente, São Paulo não pensa numa verdade abstracta, simples fruto de investigação filosófica; Paulo pensa numa pessoa: Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, “único mediador entre Deus e os homens, que se ofereceu a si mesmo na cruz, como resgate para a salvação de toda a humanidade” (1 Tim 2,3). O mesmo Apóstolo São Paulo dedicou-se de todo o coração, com extraordinária generosidade e grande persistência, a levar a Boa Nova que é Cristo, Salvador do mundo, a muitos povos da Ásia e da Europa. Neste ano, que é dedicado a São Paulo, para comemorar os dois mil anos do seu nascimento, o Santo Padre Bento XVI convida a todos os cristãos – e a vós também, cidadãos da Madeira – a renovar o fervor da nossa fé e a alegria de partilhar o Evangelho com os outros, num compromisso missionário que é próprio de todos nós cristãos; porque toda a Igreja, e cada um dos seus membros, existe para evangelizar. Podemos evangelizar de diversas maneiras: – Saindo das nossas terras para ir aos países onde Jesus Cristo é ainda “um deus desconhecido”, como fez São Francisco Xavier, que a Igreja proclamou Padroeiro das Missões, e como fizeram e continuam a fazer ainda hoje muitos missionários, leigos e religiosos. – Podemos ainda evangelizar ficando na nossa própria terra a rezar por aqueles que não conhecem a Boa Nova de Jesus Cristo e a sustentar, com a nossa oração e o nosso sacrifício, os missionários que trabalham lá longe na vinha do Senhor. Foi assim que fez Santa Teresinha, que vivia na clausura dum mosteiro em Lisieux, em França, mas que a Igreja proclamou também Padroeira das Missões, juntamente com São Francisco Xavier. A chamada missionária é muito urgente hoje. Pois, não só há muitos povos no mundo para ser evangelizados, mas existem também novos horizontes que precisam de ser fecundados com os valores do Evangelho. Pensemos, por exemplo, nos “mass media”, no mundo da política, da ciência e da tecnologia; pensemos ainda aos imigrantes e aos refugiados, e outros…. Os missionários devem portanto tentar novos métodos para anunciar Jesus Cristo – sejam eles o diálogo interreligioso ou a inculturação – para levar o Evangelho ao coração das tradições religiosas e das culturas da humanidade. São desafios muito exigentes e importantes para a missão da Igreja, que aqui confiamos às vossas orações. Não esqueçamos, pois, irmãos e irmãs, a obrigação que cada cristão tem de evangelizar o mundo concreto que o rodeia dando um bom testemunho de vida cristã. O Santo Padre Papa Paulo VI dizia: “para a Igreja, o primeiro meio de evangelização é o testemunho de uma vida autenticamente cristã”. E acrescentava: “O homem contemporâneo escuta com mais vontade as testemunhas do que os mestres, ou então, se escuta os mestres, é porque eles são também testemunhas” (Evangelii Nuntiandi, 41). O Evangelho de hoje conduz-nos ao Cenáculo de Jerusalém quando Jesus celebrou a sua última Ceia. Ali – na intimidade do Cenáculo – encontramos pessoas que nos encorajam no nosso dever missionário. Encontramos, antes de mais, a pessoa de Cristo que nos oferece a santíssima Eucaristia. Nela continua – Ele mesmo! – a sua presença no meio de nós, com o seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade, mostrando-se fiel à sua promessa de estar com os seus discípulos até o fim do mundo. A Eucaristia é o ápice da vida e da missão da Igreja, é a fonte da força espiritual de que precisamos para realizar a nossa tarefa missionária. No Cenáculo encontramos Maria Santíssima, a Mãe de Jesus e Mãe da Igreja. Ela é a Estrela da Evangelização que acompanha todos aqueles que trabalham para que Jesus nasça no coração dos homens. No Cenáculo encontramos Pedro e os outros apóstolos a quem Jesus confiou a missão evangelizadora. É a missão assumida e continuada até hoje pelos sucessores dos Apóstolos, os Bispos, ajudados pelos sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos, através da pregação da Palavra de Deus e da celebração dos Sacramentos. No Cenáculo recordamos o Novo Mandamento que Jesus deu aos seus discípulos: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei… nisto todos vos reconhecerão como meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. O amor a Deus e ao próximo é a carta de identidade dos cristãos, pois é o sinal visível e credível que mais atrai a atenção ainda daqueles que não conhecem a Jesus Cristo. No Evangelho de hoje escutamos estas palavras de Jesus: “Como tu, ó Pai, me enviaste ao mundo, assim também eu os envio ao mundo”. Jesus envia-nos hoje, como outrora enviou os seus discípulos, não sozinhos, mas em comunidade de irmãos e irmãs, unidos numa só fé e num só amor, guiados pelo Apóstolo Pedro (cujo sucessor hoje é o Papa Bento XVI), e acompanhados por uma Mãe querida, Maria Santíssima. Que bom, não é? Queridos irmãos e irmãs em Cristo: quando os cristãos do primeiro século visitavam os túmulos de São Pedro e São Paulo em Roma, rezavam por uma graça particular: a graça de ter a fé de Pedro e o coração de Paulo. São duas qualidades que devem brilhar em todos os missionários de Jesus Cristo. Vamos pedir esta graça também para nós hoje: que a fé de Pedro seja a rocha firme na qual vamos ancorar a nossa fé, mesmo quando a vivemos na experiência dura da fragilidade humana; e que o coração do Paulo nos inspire para anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo em todos os momentos e a todas as pessoas que nos rodeiam. Nesta festa jubilar da cidade do Funchal, não quero deixar de manifestar a minha grande estima por todos os Bispos de Portugal que se preparam para o Congresso a realizar em Setembro no santuário de Nossa Senhora de Fátima, com este lema missionário: “Portugal, vive a Missão, rasga horizontes”. Que o Senhor derrame sobre eles e sobre todo o povo português a graça de viver e anunciar o Evangelho com a fé inabalável de São Pedro e com o coração ardente e generoso de São Paulo. Que Maria Santíssima, Senhora do Monte e Estrela da Evangelização, abençoe a cidade e a Diocese do Funchal, e continue a guiar os passos de cada um de vós para que, como missionários aqui na vossa terra ou onde o Senhor vos quiser enviar, possais espalhar o bom perfume de Jesus Cristo nosso Senhor, Salvador do mundo. Amen. Cardeal Ivan Dias